Um filme feito com materiais anteriormente classificados que expõe como os serviços secretos da Polónia comunista espiavam e registavam as actividades dos seus cidadãos, da década de 60 até à de 80, de telefonemas aos detalhes mais mundanos.
Secção: Silvestre
Maya é acompanhada por Glória, a melhor amiga, que lhe promete que estará sempre junto dela, a um consultório clandestino. Ambas mulheres trans, Maya vai colocar silicone, mas uma intervenção atempada leva-a a mudar de ideias. Quando saem, é noite de Natal e chove. Refugiam-se num bar, cujo dono é um refugiado nigeriano chamado Kakule. Lá, refugia-se também Bia, farta dos constantes desentendimentos com o namorado. E assim os seus caminhos irão cruzar-se.
Um filme em dois momentos temporais. Em 2013, Edouard e Suzanne Mouradian vivem rodeados de ecrãs, jogos de computador e visitas dos netos. Em 2024, Suzanne está sozinha, apenas com uma relação activa com a tecnologia vigente, sejam memes de gatos ou as flutuações de bitcoin. Quando descobre uma aplicação que promete trazer Edouard de volta à (sua) vida, ela não hesita em tentar.
Vadim tem de sair do conforto do seu quadrado, algo que não é fácil. Lá fora, há apenas o desconhecido. E o desconhecido é sempre assustador. Até abraçarmos tudo o que este nos pode oferecer, de bom e de mau.
Uma vila na Córsega, no Verão. Um pedaço da vida dos seus habitantes, entre as brincadeiras dos mais novos, os namoros dos adolescentes e as considerações dos mais velhos. O calor da temporada, em pleno Agosto, aquece também as tensões, que ameaçam transbordar.
Hong Kong é o sítio onde Simon Liu cresceu e a relação do realizador com a região – local de protestos e tensões com a República Popular da China – permeia este filme. Dos pequenos prazeres às imagens de eventos recentes, tudo funciona como homenagem ou chamada de atenção.
In the Air Tonight é, segundo Phil Collins, uma canção sobre divórcio. Mas durante anos, um mito urbano imaginou-a como sendo sobre algo bem diferente. Esta lenda é re-imaginada com uma narração onírica que transforma – com um piscar de olhos – a experiência da canção.
O quadrado preto no meio do ecrã. As figuras humanas que se contorcem. A sucessão de imagens em constante assalto visual e sonoro. Uma amostra de áudio da abertura da exposição de Op Art de 1965, The Responsive Eye. Cinco minutos de extrema experiência sensorial.
Um filme que resulta de uma conversa que o realizador tem com a sua mãe em que lhe pergunta sobre o dia em que nasceu, abrindo-se uma porta intimista não só para a relação entre mãe e filho, mas para a experiência de vida desta mulher.
Se os museus são instituições que preservam a história cultural, são também espaços de selecção de que tipo de objetos, logo que vertente da história, são escolhidos para preservação. Esta decisão é tomada, em grande parte, por homens. Contudo, museus pelo mundo fora estão repletos de retratos de mulheres. Este desequilíbrio pede uma reacção. Aqui, a colecção do Museu de Belas-Artes de Leipzig é vista através dos olhos de raparigas dos 7 aos 19.
O estilo idiossincrático e cómico de Joanna Quinn recupera a personagem Beryl para explorar a sua excêntrica família – Colin, o filho geek; Ifor, o marido que se tornou modelo e inspiração de Beryl; e a narcisista irmã Beverly –, e as várias obsessões que os afligem.
O interior de um carro sem bateria, estacionado, num dia quente. Safa tem de esperar por uma ajuda que tarda. O calor junta-se à tensão e à frustração.
Um festim estético e uma história de amor entre um homem e a sua mota. As voltas que nela dá, a beleza que esta adquire. E não, claro que não vai emprestar a mota a ninguém.
Um filme-exploração do conceito de tempo e de meditação sobre a passagem do tempo, ao som de composição eléctrica de Jukka Ruohomäki, com material sonoro criado em 1970 por um sintetizador DIMI desenhado por Erkki Kurenniemi.
Jamal Khashoggi, um jornalista que residia nos EUA e era publicamente crítico do governo da Arábia Saudita, entrou, a 2 de outubro de 2018, no consulado saudita em Istambul e desapareceu. O que terá acontecido é contado e reconstruído, através de reportagens noticiosas.
A partir de arquivos pertencentes ao museu do Ministério de Segurança do Estado da antiga Alemanha Oriental e arquivos pessoais, vamos construindo o puzzle que é A Mentira. Uma repescagem aleatória de um papel com algumas anotações, que certamente cairia no esquecimento, deu-nos um mistério de cariz violento, que culmina numa história de amor. (Duarte Coimbra)
“Na sua quarta presença no festival, Zwirchmayr baseia-se num texto de Jean Baudrillard para reflectir sobre a matéria e a forma. O corpo humano, o analógico da película encontram-se com uma condição sísmica, geológica. Solidez que parece estável, mascarando a volatilidade.
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Antoinette Zwirchmayr cria um mundo em que o que importa são as texturas e as superfícies. Pedras negras e brilhantes que refractem a luz e salientam caras humanas. Rocha branca, suave e lisa onde corpos nus repousam. Um constante jogo de formas, cores e arquitectura marcado por uma tensão entre o inerte e uma qualquer erupção que se avizinha. (Ana Cabral Martins)
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Num grande número de filmes que se seguiram mas não se assemelham, Radu Jude tem vindo a construir uma das obras mais pungentes e emocionantes do cinema romeno contemporâneo. Afinal, o que têm em comum a farsa picaresca Aferim!, o surrealismo literário de Scarred Hearts e a encenação histórica do jogo de espelhos I Do Not Care If We Go Down in History as Barbarians? Sem dúvida, mais do que parece: primeiro uma ironia discreta mas cortante, e acima de tudo um olhar intransigente sobre a história velada do seu país – não importa a época e o género cinematográfico. Existem dois tipos de imagens em Uppercase Print. Primeiro, imagens de arquivo a preto e branco dos anos 80 sob Ceausescu. Imagens emocionantes e assustadoras de propaganda sorridente, na qual vozes robóticas repetem com alarde os slogans da ditadura. As outras imagens datam de hoje, produzidas num estúdio com neons brilhantes em cores vivas. De frente para a câmara, os actores recitam (mais do que repetem) os relatórios escritos pelas milícias comunistas. Descrições desproporcionalmente numerosas e detalhadas, relacionadas com o mesmo incidente: um simples slogan revolucionário escrito em letras maiúsculas (daí o título) por um estudante romeno nos anos 80. A notícia é simples, o autor do grafitti foi rapidamente identificado mas a máquina administrativa do fascismo aterroriza, implacável pela força da repetição. A investigação é interminável, como um monstro gigantesco que não se consegue matar. Uppercase Print alterna entre estas duas famílias de imagens, entre estes dois contos tensos com vozes monocórdicas que arrepiam a espinha: o anedótico e o nacional, a história oculta e a propaganda, o sorriso superficial e a loucura nos bastidores de ontem e hoje. (Mickael Gaspar)
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