Um hino à vida e à rebelião, dedicado a gerações inteiras de operários que, em ondas sucessivas de novos imigrantes, foram construindo a riqueza da Europa. O filme varre os retratos de pessoas vindas de toda a Europa, viajando literalmente de uma para outra, à medida que elas de reúnem na cidade mais poluída de Itália para organizar o maior fogo de artifício que a imaginação poderia conceber. (Karim Shimsal)
Secção: Pulsar do Mundo
Numa farmácia, o dia-a-dia é sempre o mesmo – dar metadona a quem precisa, mas, sobretudo, a quem tem a receita certa. Entre a burocracia e a compaixão, a farmacêutica vai tentando sobreviver a esta situação, que não é das mais divertidas. Com contenção e rigor, Bourges volta a falar-nos da rotina dos mais desprotegidos, nunca ousando julgar. (Miguel Valverde)
Um grupo de pós-punks húngaros enfrenta a câmara e fala sobre a era comunista e pós-comunista na Hungria. A era do punk surgiu no início dos anos 80, quando a depressão económica e cultural afectou o país severamente. Era o tempo em que os músicos furiosos tocavam punk rock com letras anti-comunistas. Era uma época diferente, as cores eram diferentes, os cheiros eram diferentes, os rostos das pessoas eram diferentes, era como um outro planeta em comparação com a Hungria dos dias de hoje. Imagens deles com 20 anos em Super 8 afirmam este planeta estranho. Uma exploração da vida e da política na Hungria antes e depois da queda do Muro de Berlim. As grandes esperanças de um mundo melhor e a realidade que se seguiu, onde os pobres se tornaram ainda mais pobres e os ricos ainda mais ricos. (Nina Veligradi)
Numa pequena cidade rural dos EUA, a construção de um grande centro comercial e o seu impacto ambiental são tema de uma audiência pública local, em que actores e não actores protagonizam os habitantes participantes no debate. Rodado em 16 mm, com uma excelente fotografia a preto e branco, este filme de James N. Kienitz Wilkins fascina-nos pelos grandes planos dos gestos, olhares e expressões dos intervenientes, enquanto ouvimos os pós e contras de cada um. Wilkins explora, deste modo, uma nova forma de olhar e ouvir, num cinema que narra e documenta, ao mesmo tempo. (C. C.)
A 18 de Fevereiro de 2010, na Nigéria, o presidente Mamadou Tanja é deposto por um golpe militar. O filme desenrola-se durante o evento e nos dias que se seguem. Próximo das pessoas que exploram as minas à procura de ouro a céu aberto ou das pessoas que recebem ajuda alimentar, o filme gira em torno da ideia de que nada mud ou realmente nesse dia. O Harmatão é tão forte como sempre e cobre a terra com a poeira do deserto. (Karim Shimsal)
Num estilo de animação pixelo-minimalista, surge-nos a história do soldado americano que passou documentos confidenciais à wikileaks. O tom é satírico, a animação é básica mas efectiva e a narrativa em voz-off mostra-nos o verdadeiro significado da globalização. (Miguel Valverde)
Com um início muito engraçado, esta animação sarcástica acaba por se tornar a pouco e pouco cada vez mais cruel. O filme descreve a longa viagem de Sahel para a Europa, através de desertos, camiões sobrelotados e pequenos barcos de traficantes. E aguardamos os “vencedores” desta lotaria absurda. (Karim Shimsal)
O rio Narmada nasceu de um estado de transe do deus Shiva. A construção de uma barragem gigante sobre o rio está a destabilizar comunidades inteiras, deslocando-as, impedindo-as de se alimentar, de cultivar ou destruindo suas aldeias. A tecnologia acaba por ser uma ferramenta de repressão para impôr os novos deuses da modernidade a todo custo. (K. S.)
Entrevistas em frente à câmara com várias pessoas que partilham um denominador comum: a cirurgia plástica. As suas razões e motivos para serem bonitas variam e cada pessoa tenta descrever a sua maneira de pensar em relação à decisão de se impôr face à sua aparência natural. Uma busca constante pela beleza através de uma percepção fabricada e comercializada da beleza exterior, especialmente dada a forma como ela é gerida pelo mundo ocidentalizado. O aumento dos seios com implantes de silicone ou a redução de peito, o lifting facial, a lipoaspiração, a rinoplastia, o aumento de bochechas e o botox são apenas algumas das restaurações do corpo mencionadas neste documentário que investiga e apresenta tanto o vício dos que se querem tornar cada vez mais bonitos, com toda a superficialidade que envolve a questão, como a necessidade de tratamento médico. (Nina Veligradi)
Uma feira como outra qualquer. Crianças parecem brincar inofensivamente com os seus brinquedos favoritos. Mas a paz pode estalar a qualquer momento, basta que um deles prima o gatilho. Slijepcevic leva longe a premissa de um lugar entre guerras através de um documentário observacional sobre a sociedade actual. Apetece dizer, em tempo de guerra, limpam-se as armas. (M. V.)
No sul da Rússia, permanece pouco conhecida a região afectada pelas radiações resultantes dos acidentes na central nuclear Mayak: em Setembro de 1957, um tanque contendo lixo altamente radiactivo explodiu em Mayak, espalhando uma elevada quantidade de radioctividade ao longo de 400 km. O acidente foi mantido em segredo por mais de trinta anos até chegar a Perestroika e foi comparado, por peritos e cientistas, ao desastre de Chernobyl, em 1986. Adoptando um registo estético, nos planos contemplativos e na cuidada fotografia a preto e branco, o filme de Sebastien Mez dá-nos a conhecer o local, considerado hoje um dos mais contaminados do planeta, e as pessoas que nele vivem. Uma obra que nos deixa na memória os grandes planos dos rostos dessas pessoas, cujos lugares, vida e histórias, têm a ferida da era nuclear. (C. C.)
Um dia na vida de oito pessoas que vivem em Alexandria dá-nos um vislumbre do Egipto contemporâneo. A composição austera dos diferentes planos obriga-nos a olhar para as personagens e, ainda assim, permite-nos, pela sua profundidade, experimentar as vidas e esperanças numa megacidade em transformação. (K. S.)
“Perguntava-me, onde vamos parar se começarmos a perfurar de um lado da terra e sairmos do outro? Como a maior parte do globo está coberta de água, a resposta mais provável é: no meio do oceano.” No entanto, este filme vem provar que esta teoria está errada e descobre quatro pontos diametralmente opostos da terra ou antípodas. No primeiro par, dois irmãos cruzam Entre Ríos, na Argentina, em direcção a Shangai, e de um pôr-do-sol de extraordinária beleza movemo-nos para a agitada metrópole chinesa. Os segundos antípodas levam-nos da Rússia e do lago Baikal ao Chile. O terceiro do Havai e do vulcão Kilauea para Kubu no Botswana. O último par vai de Maraflores em Espanha ao Castle Point na Nova Zelândia. Uma viagem à volta do mundo em 104 minutos e Kossakovsky, qual Júlio Verne, oferece um magnífico caleidoscópio do nosso mundo. (Nina Veligradi)
Se havia uma palavra que descrevesse este dia, ela seria “só”. Alina Rudnitskaya lida com esta solidão deixando a câmara na sala de espera deste doloroso procedimento. Talvez as suas filmagens não sejam tão corajosas como aquelas mulheres mas são extraord
As recordações da infância podem ser o que quisermos, mas para a realizadora há uma obsessão incontornável por detrás do seu nascimento e infância. Através de uma voz burocrática e monocórdica, vamos ouvindo os detalhes de comportamentoe desenvolvimento de Pujol. A paisagem que ilustra o texto é densa e árida, mas é também a revisitação de um tempo ao mesmo tempo objectivo e clínico. (MV)
O senhor Arthur Brandão estava louco! O criador do gigantesco Hotel construído na Beira, em Moçambique, foi além da megalomania. Construído em 1955, o hotel oferecia aos seus residentes um pequeno paraíso com as dimensões de um mamute. Não demorou muito a
Roberto e Felice sobreviveram ao tremor de terra de Aquila em 2000. São os últimos habitantes da aldeia abandonada de Camarga. Um duplo retrato de mentes profundamente humanas e distorcidas forçadas a enfrentar o trauma de terem perdido tudo, temendo os e
Moullet é uma das vozes mais contundentes do cinema contemporâneo. “Toujours moins” aborda a questão da automatização inexorável da nossa sociedade e por conseguinte da desumanização das relações humanas. Tipicamente surrealista como de costume, mostra-no