Em Trânsito reflecte sobre o crescente número de carros na cidade do Recife, utilizados pela classe política como exemplo de crescimento e progresso, mas que compromete seriamente a organização do espaço, a vida das pessoas e o futuro radioso prometido pelo omnipresente Geraldo, candidato a prefeito da cidade.
Secção: Pulsar do Mundo
Em La Reina acompanhamos uma criança e a sua preparação para os concursos de beleza em que compete; raramente a ouvimos, mas percebemos o esforço e a violência das transformações a que é sujeita às mãos da mãe para ser coroada rainha.
Sangue na Guelra é um documentário sobre o Projecto 12/15, criado pela Escola Intercultural da Amadora para combater o abandono escolar de sessenta alunos entre os 12 e os 15 anos, divididos por quatro turmas. Neste filme acompanha-se o regresso destes alunos à escola que agora lhes oferece a possibilidade de interagir mais directamente com o espaço e com os professores, para que, contrariando a imagem que têm dela, se sintam mais integrados e aproveitem o que a escola tem para lhes dar dentro e fora do contexto da sala de aulas. Ao conhecermos melhor estes jovens e as suas histórias, sem os vitimizar ou exaltar, conseguimos perceber também o quanto a escola pode ser ou não um espaço com que se identifiquem e até que ponto este projecto cumpre os seus objectivos.
Vannacht worden we wrouwen junta duas adolescentes, as melhores amigas, que acham que nunca nada irá mudar entre elas, mas ao longo de um ano ambas vão viver mudanças físicas e psicológicas importantes; e a amizade, será que se altera?
Village Modèle é inspirado na cidade propaganda norte-coreana de Kijong-dong, onde até 2004 havia transmissões em gigantes altifalantes durante cerca de 20 horas por dia com propaganda; uma cidade que se julga ser uma cidade fantasma, criada para impressionar os vizinhos do Sul.
La Voce di Berlinguer, é a voz do lendário secretário nacional do Partido Comunista Italiano, num discurso proferido em Turim, em 1981, em que abordou a necessidade de restruturar a moralidade do estado e de recuperar a ideia de felicidade; um discurso inteligente e poderoso que parece fazer hoje ainda mais sentido.
Há trinta anos, foi assinado um acordo entre a União Soviética e a Alemanha em que se estabelecia a construção de um gasoduto a ligar as Europas de Leste e Ocidental. Este documentário viaja ao longo do gasoduto que liga Urengoi (na Rússia) a Colónia (Alemanha) e tenta descobrir o que une as diferentes culturas que ele atravessa. A equipa de filmagem demorou 104 dias a cumprir o trajecto e foram tantas as diferenças registadas que, por momentos, chega a parecer que a viagem se deu no tempo, com décadas a separar os dois extremos. Pipeline é, pois, o resultado destes contrastes de lugares à luz da vela e cidades vibrantes, de casas aquecidas por um gás que não serve as muitas outras dos locais por onde passa, e sobretudo de diferentes formas de pensar a relação das pessoas com o gasoduto que atravessa as suas localidades, as suas vidas.
Já em 1975, Pasolini tinha anunciado o Desaparecimento dos Pirilampos e do triunfo iminente do Castelo de Mentiras. Quarenta anos depois, o realizador francês Vincent Dieutre viaja até à Sicília pela primeira vez à procura de uma nova esperança política. Este documentário apresenta locais, palavras e corpos que circulam em torno da procura dos pirilampos sobreviventes. Aqui, a Sicília não é apresentada como um lugar remoto mas mergulhada na mais contemporânea complexidade: do aparecimento da Internet na nova paisagem do amor à imigração ilegal nas turísticas costas a sul. Uma Sicília que pode servir de metáfora para o que é hoje a Europa.
Em 1869, John McGregor, um aventureiro escocês partiu numa viagem ao longo do Rio Jordão, desde a nascente, no Monte Hérmon até ao Mar da Galileia, onde chega antes de desaguar no Mar Morto. Mais do que apreender a geografia local, o explorador ambicionava conseguir uma transformação pessoal decorrente da passagem pela terra santa. No Verão de 2011, Effi Weiss e Amir Borenstein, dois artistas visuais de origem israelita que se estreiam no papel de realizadores, refizeram essa viagem numa época em que a região está invadida por turistas e ganha contornos muito diferentes dos que se esperava de uma região com tão forte conotação espiritual. Num documentário que combina de forma rara momentos de grande intimidade com uma também grande distância, os encontros ao longo da viagem e a própria paisagem levam-nos a ter de reflectir sobre o país que deixaram há uma década e a confrontar-se com a sua própria noção de pertença.
La marche à suivre é um documentário que acompanha a vida na escola de uma série de jovens problemáticos de uma zona rural do Norte do Quebeque. A um nível mais abstracto, o filme explora a ideia de que a escola funciona como uma oportunidade que a sociedade tem de educar estes jovens antes de eles partirem por sua conta para uma vida para a qual não estão ainda inteiramente preparados. Ao longo do filme vemos conversas privadas entre um professor ou assistente social e um aluno. A câmara permanece centrada no jovem enquanto ele tenta explicar o seu comportamento ou é forçado a ouvir o que o adulto tem para dizer, muitas vezes mesmo a revirar os olhos. Não sabemos quem são estes jovens nem que história é a deles para lá destas conversas. Aqui são todos iguais, todos adolescentes, a todos se pede que aprendam a ser adultos.
2011 12 30, uma data; uma mulher desenha na parede o contorno do seu corpo nu para dizer alguma coisa que só percebemos no fim.
Contrariando a ideia de não-lugar, definida por Marc Augé como um espaço de passagem incapaz de dar forma a qualquer tipo de identidade, descaracterizado, impessoal e sem qualquer significado ou história, Claire Simon filma este documentário na Gare du Nord, em Paris ‚ a estação de comboios mais movimentada da Europa e uma das mais movimentadas do mundo ‚ e procura nela as histórias que passam por nós a correr. Sendo uma estação que serve destinos regionais, nacionais e internacionais, todos os dias passam por aqui pessoas de todo o mundo e levam com elas todas as suas histórias. Neste documentário, a realizadora convida Simon Mérabet, um amigo de origem argelina residente no Sul de França, e juntos tentam descobrir quem são as pessoas que passam na estação. Nessas conversas a estação ganha uma vida que não é apenas a do seu corrupio diário mas de um cruzamento de vidas que se encontram, num momento, naquele espaço e lhe dão a forma de um lugar, mesmo que por breves instantes, em curtas conversas e com a pressa necessária para se chegar a tempo de apanhar o comboio.
Temos de confiar uns nos outros explica uma mulher, sem que saibamos exactamente a quem se dirige a afirmação. O cenário mostra-nos máquinas de uma fábrica e o som é ensurdecedor. Há pessoas a trabalhar, a manusear as máquinas, a garantir que as engrenagens cumpram os movimentos certos. É preciso estar concentrado. Que ta joie demeure é um documentário sobre o trabalho, mas não sobre a submissão do homem ao poder da máquina, sobre a desumanização do processo industrial. O que se vê é sobretudo a adaptação de pessoas a espaços e funções aparentemente bizarras mas que são executadas com mestria e com coreografias que o filme observa e enaltece. O corpo é um instrumento de trabalho, uma extensão da máquina. Mas cada actividade também é falada, discutida em diálogos que parecem encenados, como aliás as próprias coreografias, mas sem que nunca deixemos de estar perante um documentário, que se move por diferentes espaços industriais para revelar a rotina enquanto movimento de uma das actividades mais valorizadas pelo homem: o trabalho.
Sébastien Lifshitz apresenta-nos a extraordinária vida de Bambi, nascida numa pequena aldeia na Argélia, em 1935, no corpo de um rapaz chamado Jean-Pierre Pruvot. Nos anos 50, aproveitando um espectáculo do Cabaret Carrousel de Paris em Argel, emigrou para França, onde adoptou o nome artístico de Bambi e fez parte da vibrante noite dos cabarés da capital francesa. Aos 77 anos, Bambi conta como era a vida de uma transexual naquele tempo, as suas amizades, os escândalos e o surpreendente encontro com o amor da sua vida. Uma história de rejeições e coragem documentada por uma quantidade impressionante de fotografias e filmes de arquivo.
Marie Losier apresenta-nos Bim Bam Boom Las Luchas Morenas, três irmãs mexicanas, lutadoras de wrestling, mas cujas vidas, que escolheram de acordo com as suas próprias ideias, são também uma luta, muitas vezes divertida.
A Primavera Árabe é em Crop contada por quem não a viveu de perto; um fotojornalista do jornal Al-Ahram, o maior do Egipto, estava nessa altura internado no hospital e viu tudo pela televisão; inteiramente filmado no edifício do jornal, apenas ouvimos a voz desta testemunha da história do país, contada da perspectiva das imagens e do poder da sua utilização.
Mehran Tamadon, realizador iraniano exilado em França, laico e ateu, demorou três anos a convencer quatro compatriotas, defensores do regime iraniano, a passar uns dias com ele numa casa para tentar que todos pudessem viver a experiência de uma sociedade plural. Durante o tempo que passam juntos, e que o filme documenta, discutem-se as vantagens e desvantagens de uma sociedade secular, o véu, o aborto e a liberdade de imprensa. Os convidados são mestres da retórica e a conversa entre defensores de visões opostas torna-se frequentemente desequilibrada, uma vez que o realizador está em minoria. Num ambiente tenso há também lugar para momentos mais descontraídos. A sociedade plural, contudo, acaba por se revelar inviável perante tantas questões em que um e outro lado não estão dispostos a ceder, mas terá a experiência sido um fracasso? O diálogo foi possível, mas será suficiente para mudar alguma coisa?
Jessy é um pequeno documentário que acompanha o nascimento de Jessica Cristopherry, uma personagem glamorosa que Paula Lice, actriz e dramaturga brasileira, inventou na infância. Já adulta, Paula vai finalmente poder dar vida a um sonho de menina e ser essa mulher fabulosa. Para isso conta com a ajuda de quem mais percebe do que é ser feminina: um grupo de travestis que vão fazer dela uma verdadeira drag queen. Este filme, de uma enorme sensibilidade, é uma verdadeira homenagem ao universo drag de Salvador da Baía.