Princesa Morta do Jacuí

Na Depressão Central o sol nunca pára de brilhar. Foi lá que o arqueólogo Margot Moreira nasceu e é lá que regressa, para curar o seu ‘Síndrome de Invalidez’, reescrevendo a História. “Princesa Morta do Jacuí” é um sci-fi anacrónico sobre o assombro do progresso.

Divino Amor

Depois do enorme sucesso de “Um Lugar ao Sol”, ” “Doméstica” e “Boi Neon” (IndieLisboa 2010, 2013 e 2016), Gabriel Mascaro regressa ao festival com um provocador e irónico filme de ficção-científica. Estamos em 2027, no Brasil, e uma nova religião domina a sociedade, é a doutrina do divino amor. O indivíduo só se realiza pelo casamento (que deve ser mantido, custe o que custar) e tendo filhos: o sexo é a nova reza e a rave é evangélica. A famosa actriz Dira Paes é Joana, que deseja muito ter uma criança. Na dificuldade de engravidar surge uma crise de fé que a aproximará de deus.

Primeiro Ato

O país está a arder mas na sala de aula o professor de teatro só quer falar de Shakespeare: em “Primeiro Ato” dois alunos activistas escapam às aulas para protestar contra os cortes na cultura.

Querência

Do espanhol, querencia remete para desejar, é o local que se ama. Também no Brasil é o lugar onde o gado foi criado ou tem por hábito pastar. O sítio onde alguém vai buscar a sua força – um homem, o touro – onde se sente em casa. Marcelo é um cowboy que vê a sua vida tomada por uma nuvem negra quando um violento assalto ocorre na fazenda onde trabalha. Sem chão, é obrigado a repensar a sua vida. Mas é também a oportunidade de perseguir um sonho: o de ser narrador de rodeios. E assim se desenha uma nova querencia, um novo lugar onde se sente em casa, junto dos seus touros, de novo forte e são. Helvécio Marins tece uma narrativa com base real – os seus não actores e as suas vidas são transportados para este território, e carregam consigo toda a experiência e sentimentos que entregam a força de um touro a este filme. Enquanto isso, os animais olham-nos com a pujança de quem relembra: tempos negros estão a chegar para o Brasil, mas a força vai e vem, por ondas, ela não nos abandonará completamente. (M.M.)

No Coração do Mundo

«O coração do mundo é o próximo lugar, para onde a gente quer ir, onde a gente quer pisar, para onde vai o desejo da gente.» Assim nos fala Selma, do lugar sem sítio que procura sem encontrar, porque «aqui já deu, já saturou». Neste filme mosaico, todos os personagens procuram uma vida melhor: uma condutora de autocarro está cansada de cuidar do pai doente, um assalto corre mal e há que fugir sem deixar rasto e uma dona de um salão de beleza quer ser motorista de Uber. O que os liga são os afectos e a cidade de Contagem, onde cresceram os realizadores.

Bande à part

Bande à part (sétima longa metragem de Godard) foi realizado no período em que o realizador mais questionou e reinventou o cinema. Personagens de cinema num mundo implacavelmente real ou personagens reais num mundo de cinema? Um filme denso e intenso, um dos grandes momentos do cinema moderno. E o filme em que aprendemos como é possível correr pelo museu do Louvre numa incursão relâmpago de nove minutos e quarenta e três segundos. (Cinemateca Portuguesa)

Les fiancés du pont Mac Donald ou (méfiez-vous des lunettes noires)

Les fiancés du pont Mac Donald ou (méfiez-vous des lunettes noires) é um curioso “filme dentro do filme”, o segmento burlesco em “estilo cinema mudo” de Cléo de 5 à 7, com Anna Karina e Jean-Luc Godard no papel de dois jovens enamorados: um rapaz vê a vida a negro quando usa óculos escuros, bastando retirá-los para que as coisas se componham. Agnès Varda disse que a ideia lhe veio pela vontade de filmar “aqueles grandes olhos à Buster Keaton” de Godard, que aceitou tirar os óculos de lentes muito escuras que usava na época. Na estrutura de Cléo, corresponde a um momento de distensão, tendo vindo a ser também apresentado como curta metragem autónoma. (Cinemateca Portuguesa)

Tragam-me a Cabeça de Carmen M.

Ana, uma actriz portuguesa no Rio de Janeiro (interpretada por Catarina Wallenstein, que assina a realização com Felipe Bragança) mergulha no actual pesadelo político brasileiro, enquanto se prepara para encarnar o papel da fantástica luso-brasileira Carmen Miranda, num misterioso filme que se avizinha. Mas a mitologia colorida da Embaixatriz do Samba choca com o presente cinzento. Um filme que se interroga sobre uma utopia «pan-tropical e futurista», celebrando o «canibalismo cultural» que, nos tempos da ditadura funcionou como forma de resistência. E hoje?

Chinesisches Roulette

Com um ritmo mais pausado que outros filmes de Fassbinder, Roleta Chinesa é um jogo em espaço fechado: um casal vai passar um fim de semana num castelo, separadamente, cada um com o seu (a sua) amante e têm a surpresa de se encontrar frente a frente. A filha do casal, uma pré-adolescente que sofre de deficiência física, põe em movimento um cruel “jogo da verdade” durante todo o fim de semana. As quatro personagens dos casais trocados e quatro outras coabitam o espaço do castelo no tempo do filme, participando do ambiente ameaçador sobre o qual paira a ameaça do nazismo e a inquietação de um enigma por desvendar. (Cinemateca Portuguesa)

Vivre sa vie

Com uma assombrosa fotografia a preto e branco de Raoul Coutard, VIVRE SA VIE é um filme construído para Anna Karina, que aqui demonstra que, além de ser um ícone da Nouvelle Vague, é uma fabulosa actriz. Muito poucos rostos passariam incólumes na comparação com a Falconetti da JEANNE D’ARC de Dreyer (filme que a personagem de Karina vai ver, numa sequência de VIVRE SA VIE), também um sinal do génio e ousadia de Godard. Godard em homenagem a Dreyer. Os grandes planos de Karina em frente aos grandes planos de Falconetti. (Cinemateca Portuguesa)

Une femme est une femme

Segunda longa metragem de Godard a estrear (dada a censura imposta a Le petit soldat), Une femme est une femme (a apresentar em cópia digital) é uma homenagem ao musical americano e um eco longínquo de Design for Living de Ernst Lubitsch (1932), filmado em CinemaScope e com cores sumptuosas. Premiado no Festival de Berlim por ter “abanado as regras da comédia cinematográfica”, trata-se de um filme de extrema leveza e elegância, em que Anna Karina tem uma das suas melhores aparições no cinema. Anna é Angela, uma dançarina de cabaret que pensa na maternidade, enquanto se entende e desentende com o marido e com o amigo dele, com quem encena um triângulo amoroso. “Une femme”/“infame.” (Cinemateca Portuguesa)

Pigen og skoene

A Rapariga dos Sapatos, de Ib Schmedes é o primeiro trabalho de Anna Karina no cinema, distinguido em Cannes em 1959. (Cinemateca Portuguesa)

Plano Controle

Depois de vencer o Grande Prémio do festival, o ano passado, com a longa “Baronesa”, Juliana Antunes traz-nos uma distopia retro-futurista feita teletransportes com dados limitados.

Présentation ou Charlotte et son steak

Filmado em exteriores na Suíça, com atores amadores e câmara à mão, Présentation ou Charlotte et son steak é um filme precursor da Nova Vaga francesa: rodado por Rohmer em 1951, mas completado dez anos mais tarde quando o material 16 mm foi ampliado para 35 mm e realizada a pós-sincronização. Stéphane Audran e Anna Karina interpretam as vozes das personagens das duas raparigas. Um jovem Jean-Luc Godard está na banda de som e de imagem, sem óculos. Um pequeno drama amoroso de inverno juvenil. (Cinemateca Portuguesa)

Pierrot le fou

O mais famoso filme de Godard, de “uma beleza sublime” no dizer de Louis Aragon, continua a entusiasmar as novas gerações que o descobrem. Pierrot e Marianne, deixam subitamente Paris e saem pelas estradas de França, “vivendo perigosamente até ao fim”. Amam-se e matam(-se), mas principalmente recusam a civilização tal como o pequeno-burguês a concebe, vivendo o instante e o dia a dia. A fotografia a cores de Raoul Coutard é um verdadeiro compêndio de muitas tendências estéticas dos anos sessenta. E é aqui que Godard filma Fuller a afirmar que “o cinema é como um campo de batalha. Amor. Ódio. Ação. Violência. Morte. Numa palavra: emoção”. (Cinemateca Portuguesa)

Justine

Adaptado dos romances O Quarteto de Alexandria de Lawrence Durrell, Justine é considerado uma obra menor de George Cukor, em parte devido às peripécias que rodearam a sua produção. Depois da demissão do anterior realizador do projeto, Joseph Strick, coube a Cukor a missão de “salvar o filme”, correspondendo ao pedido da Fox cinco anos depois do glorioso My Fair Lady. Recriando o enredo romanesco e político na Alexandria dos anos trinta, Justine tem alguns momentos notáveis como a sequência do Carnaval. Anouk Aimée é Justine. Anna Karina (Melissa), viu no filme a possibilidade de ser dirigida por Cukor, um dos mestres que admirava. (Cinemateca Portuguesa)

Guaxuma

A brisa do mar traz memórias e a realizadora brasileira Nara Normande lembra a sua melhor amiga de infância, Tayra. “Guaxuma” é uma doce recolecção animada de quando o mundo inteiro era feito de areia e amizade.