Private Screenings

Nos filmes sobre cinema o espaço da sala de visionamentos privados tornou-se uma recorrência. E quase sempre o que se projecta na tela é menos interessante do que se passa entre os espectadores. Estas particulares salas de cinema são locais onde as emoções fervem e os temperamentos explodem.

Lupo

O italiano Rino Lupo andou pelos sete cantos da Europa a trabalhar em cinema. Eram os anos 10 e 20 e Rino teve três pseudónimos e constituiu duas famílias. Mas foi em Portugal que assentou por mais tempo, realizando alguns dos filmes mudos mais importantes do nosso cinema. Bénard da Costa chamava às Mulheres da Beira “a primeira obra maior do cinema português”. Pedro Lino desenvolveu em Lupo uma profunda investigação sobre o realizador (descobrindo um dos mistérios que o rondavam, o ano e local da sua morte), procurando seguir os passos fugidios de um homem “maior que a vida”.

Grey Gardens

Edie Bouvier Beale e a sua mãe, Edith, vivem sozinhas numa mansão em ruínas em Long Island. São primas de Jackie Kennedy Onassis e apesar do estado decrépito da sua casa (e vidas) mantêm ainda acesa uma certa ideia de glamour. Albert e David Maysles (fundadores do cinema directo) estão lá, com elas, de câmara em riste, testemunhando as suas conversas, discussões, embates e combates. Empoderadas e orgulhosamente provocadoras, elas são duas das figuras mais marcantes do novo documentário norte-americano dos anos 70. O filme é exibido em rima com That Summer de Göran Olsson.

Have You Seen My Movie?

Paul Anton Smith foi assistente de montagem desse colossal filme-instalção de 24 horas chamado The Clock. Na sua primeira longa o realizador canadiano replica o método e reconstrói, a partir de cenas de mais de uma centena de filmes, a experiência de ir ao cinema. Have You Seen My Movie? cruza inúmeras sequências em que personagens entram na sala escura, oferecendo-nos um meta-filme-dentro-do-filme. Uma hilariante sessão de cinema que se passeia pelos múltiplos géneros, deixando espaço para os pombinhos das filas de trás. Porque no escuro do cinema tudo pode acontecer: dos beijos aos tiros.

Hitler’s Hollywood

O anterior filme de Rüdiger Suchsland, From Caligari to Hitler (IndieLisboa 2015), era já uma extraordinária reflexão sobre a liberdade da indústria cinematográfica da República de Weimar e o modo como figurou a iminente ascensão do fascismo. Desta vez, com Hitler’s Hollywood, o realizador analisa os filmes produzidos durante o Terceiro Reich, assim como as técnicas publicitárias e a construção artificial de um star system. Entre 1933 e 1945 estrearam cerca de 1000 filmes, mas só alguns eram obviamente propagandísticos, a maioria era simples entretenimento, mas quão simples?

Chris Olsen – The Boy Who Cried

Chris Olsen foi uma criança-actor que trabalhou com alguns dos mais importantes realizadores dos anos 50, apesar de nunca se ter tornado uma estrela. Aos dez anos “reformou-se”. The Boy Who Cried faz parte da série de autobiografias ficcionais de Mark Rappaport.

Cousin, Cousine

Cousin, Cousine de Jean Rouch, filmado sorrateiramente durante o festival de Veneza de 1985. Protagonizado por dois amigos do realizador e primos entre si, Mariama e Damouré, o filme encontra nos canais venezianos o caudal do rio Níger. Apresentado em versão restaurada digitalmente a 2k.

Elettra

Profundamente ligado à literatura e à música, à arte de um modo geral, o trabalho de Tonino De Bernardi em cinema vem de meados dos anos 60 assumindo o seu percurso inicial um lado experimental, e assinalavelmente prolífero, marcado pela influência dos movimentos de vanguarda e do cinema independente americano da década de 70. Elettra, filmado a partir da tragédia de Sófocles, é o título normalmente referido como a sua “primeira longa metragem oficial”, interpretada por actores não profissionais de Casalborgone e produzida pela RAI.(A partir do texto da Cinemateca Portuguesa)

Killer of Sheep

O gueto negro de Watts em LA em meados da década de 1970 através dos olhos de um sonhador que cresce entorpecido pelo trabalho num matadouro. Concluído em 1977 e exibido esporadicamente, a reputação do filme foi crescendo. Foi declarado tesouro nacional pela Library of Congress. No entanto, devido aos custos dos direitos musicais nunca foi exibido em sala ou disponibilizado em vídeo. 30 anos depois, a UCLA apresenta-o num brilhante restauro em 35mm.

Metropolis: Report from China

Ensaio documental sobre a investigação para uma adaptação do lendário Metropolis de 1927, resultado de uma viagem dos artistas à China em 2004. O filme cria uma convergência de dois mitos ‚ o totalitarismo moderno retratado no Metropolis de Fritz Lang e a China moderna, cujo espantoso crescimento se tornou um tema quente de debate no Ocidente. É também uma poderosa metáfora das visões do futuro.

Mosaik Mécanique

Todos os planos da comédia slapstick A Film Johnnie (EUA, 1914) são simultaneamente mostrados numa grelha simétrica, um após o outro. Cada cena, de um corte a outro, do primeiro ao último fotograma, está em loop. O resultado produz uma cadência visual poli-rítmica, dada a duração variada dos planos. A duração total deste filme em mosaico corresponde exactamente à do original.

Predstavlenie

Revue é baseado em material de arquivo, actualidades de propaganda produzidas na Rússia nas décadas de 1950/60. Mostra o lado quase esquecido dos tempos soviéticos e o modo de pensar da época, explorando a vida das pessoas ao longo da vastidão da Pátria Soviética que, apesar de plenas de dificuldades, privações e rituais absurdos, eram também iluminadas pelo glorioso brilho da ilusão comunista.

Teaching the Alphabet

Este alfabeto de imagens de arquivo de Volker Schreiner não compõem um mero ABC. Schreiner revela as suas qualidades coligindo e coreografando material de arquivo de filmes clássicos (de Hollywood). O conceito da ordenação alfabética é vagamente mantido, pelo que há espaço para um divertido contributo do subconsciente.

The Juche Idea

Em finais dos anos 1960, Kim Jong II garantiu a sua sucessão como Querido Líder da Coreia do Norte adoptando do seu pai a filosofia Juche para a propaganda, o cinema e a arte. Traduzido como auto-confiança, Juche é um hibrído do Confucionismo e do autoritarismo Estalinista pseudo-socialista. O filme centra-se numa artista sul coreana que vai para a Coreia do Norte em residência artística ajudar a trazer o cinema Juche para o século XXI.

The Reinactors

Hollywood vista pelos olhos de um bando de sósias. É possível tirar uma fotografia com eles por um dólar. Apesar de parecerem directamente saídos de um filme, as suas vidas são bastante diferentes da das verdadeiras estrelas. Sem Hollywood, estes antigos actores não existiriam e nem todos eles o entendem.

Vertigo Rush

Exame crítico do efeito especial do dolly zoom – usado pela primeira vez por Hitchcock em Vertigo – Vertigo Rush torna-se uma declaração de amor ao cinema e à riqueza da linguagem cinematográfica. Usado como um poderoso meio para criar um efeito de choque (Jaws, Goodfellas), aqui o foco de 20 minutos de experimentação centra-se na sensação rotativa e giratória (Vertigo).

Xiao Jin Rentre à la Maison

Depois de conquistar o Leão de Ouro do Festival de Cinema de Veneza em 2006 com o filme Still Life, o realizador independente chinês Jia Zhang-ke regressou à sua cidade natal. Através das lentes da sua memória, da infância ao reconhecimento profissional, vemos lugares onde rodou os seus primeiros dois filmes assim como a sua perspectiva crítica sobre a China contemporânea, a disparidade social do país e a censura imposta a alguns dos seus filmes.

Directed By John Ford

Retrato do realizador John Ford pelo realizador Peter Bogdanovich, originalmente produzido em 1971, remontada e aumentada em 2006. A narração original de Orson Welles e as entrevistas com Ford, John Wayne, James Stewart e Henry Fonda mantêm-se intactas, mas esta versão é mais pessoal. Uma nova versão muito mais rica que contém uma enorme quantidade de informação não incluída na original. Bogdanovich entrevistou-se a si próprio e fala do sentido espiritual de Ford, do seu ênfase na família e da lendária relação com Katherine Hepburn. A nova versão é mais calorosa e tem um envolvente fio afectivo, por oposição a uma cronologia.