Um telefonema de um velho amor há muito desaparecido é o ponto de partida para Mia Engberg recuperar as memórias de um passado rebelde e fogoso vivido em Paris, num sótão em Belleville, nos braços de Vincent. É ele quem lhe pede que o ajude a lembrar-se do homem que foi quando ela o amava. Ele quer descobrir o que sobrou dele depois de tantos anos. Ela, ainda magoada pelo misterioso desaparecimento, hesita: lembrar-se do quê e para quê? Haverá ainda o que os una, o que a ligue àquele marginal irascível e a um passado delinquente? Mas lembrar-se dele é também lembrar-se dela, da sua juventude, dos seus desejos, das férias num pequeno quarto em Marselha, do gato Baby e de uma cidade em ano de contestação e tumultos, memórias recuperadas em conversas telefónicas entre os dois e imagens que reflectem toda a beleza e o mistério desse tempo. Como no mito de Orfeu e Eurídice também aqui o amor os pode salvar, mas no mito como na realidade nem todos regressam do mundo a que pertencem. Às vezes, no documentário como no mito, a realidade da memória também é ficção.
Belleville Baby
Mia Engberg
IndieLisboa 2014 • Competição Internacional
Sweden, Documentary, 2013, 73′