Numa escola filipina as alunas aprendem a fazer as tarefas domésticas e a cuidar de bebés. O objectivo é serem contratadas para trabalhar em casas no estrangeiro. Mas aprendem mais do que isso. Como lidar com a agressão verbal de uma patroa descompensada? Como reagir a um assédio sexual? Como suportar a distância e a saudade dos filhos que ficaram nas Filipinas? Este é um filme que reflete sobre a escravatura moderna num mundo globalizado.
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Overseas é um excepcional retrato de classe, género, condição humana, no qual ficamos a conhecer a realidade de algumas das Overseas Filipino Workers (OFW’s). Sung-A Yoon consegue traduzir tudo a que se sujeitam as mulheres filipinas quando aceitam ir trabalhar para outro país, para casas de pessoas que só conhecem de entrevistas por telefone ou skype. Para conseguirem atingir tal meta, enfrentam um treino rigoroso de preparação da separação da família e contra quaisquer agressões – físicas e verbais – tal é a certeza que esse é um desfecho possível. Mais do que um desfecho, um período de pelo menos dois anos que deverão enfrentar sem desistir. Estas mulheres juntar-se-ão aos 10 milhões de filipinos além-mar: outra expressão e outro filme não descreveriam melhor este sistema de escravatura moderna. Sung-A Yoon mantém intacto, contudo, o estoicismo destas mulheres, num filme humanista e delicado, uma surpresa imperdível. (Mafalda Melo)
Quando temos pressa parece que tudo anda devagar. Esta tarde o pai de Mathieu vem buscá-lo à creche. Mas…. e se o seu velho carro verde não quiser pegar?
Em 1970, membros do Congresso Pan-Africano formaram um colectivo cinematográfico. Um grupo de sul africanos exilados em Londres utilizou imagens de arquivo e vídeos filmados em segredo no seu país para realizar o que seria um dos primeiros filmes sobre o Apartheid.
Uma rapariga regressa a casa em Barcelona, mas já pouco reconhece devido aos efeitos do turismo. Caminha pelas ruas como por um sonho estranho. O seu velho apartamento, onde viveu um amor passado, é agora um Airbnb. Segunda presença no IndieLisboa.
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Amor em tempos de gentrificação. Anna regressa a Barcelona por poucos dias. Ao percorrer o bairro onde anteriormente viveu um grande amor, torna-se inevitável não ceder às memórias que tem naquele espaço, agora alterado pela invasão turística. Uma narrativa que trata o realismo mágico com um charme que lembra o cinema de Hong Sang-soo. (Duarte Coimbra)
O príncipe pintainho Ki-Ki-Do vive no cimo da sua torre de pedra na floresta negra. Ele é pequeno como Calimero, mas forte como Hércules. Quando a floresta está em perigo, lá vai ele ajudar, com os seus companheiros, os mosquitos tigre, Tine e Bine.
Se o mundo fosse apenas uma questão de ter músculos e estar em forma, era preciso usar a imaginação para treinar durante todas as actividades do dia.
Na Serra do Açor, a família de Rafael Toral trabalha sobre a terra. Em particular uma tarefa de renovação, após um devastador incêndio. Regada é uma experiência de imersão nos elementos, tudo é vivido através dos sentidos, numa paisagem sonora e visual.
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Água, fogo, terra, ar, verde, castanho, lesma, cão, noite, luz. O trabalho de Francisco Janes, marcado pelo cinema experimental norte-americano (estudou na CalArts), convoca o aqui-e-agora paisagístico dum Peter Hutton, o pictorialismo diarístico dum Nathaniel Dorsky e as sinfonias naturais dum Paul Clipson. O resultado é uma ode às texturas da natureza (e do digital), num confronto amigável com as abstrações de um olhar (e ouvir) puramente cinemáticos. “Regada” cristaliza o percurso intermédia de Janes no lirismo dos gestos do trabalho e no devir hipnótico dos elementos. (Ricardo Vieira Lisboa)
Um homem de negócios tem de enfrentar os momentos difíceis que se seguem à morte do seu pai. Demónios interiores, emoções não resolvidas, espaços desertos.
Em 2014 um gajo apareceu de calções coloridos em palco, para uma performance durante o concerto dos Sensible Soccers no festival Paredes de Coura. Desde aí nunca mais foi esquecido. Mas quem é ele? Ricardo é um mockumentary sobre Ricardo.
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Quem é Ricardo? Não se sabe bem, embora seja também conhecido como o gajo dos calções coloridos. Reza a história que em 2014 apareceu de calções coloridos em palco, para uma performance artística durante o concerto dos Sensible Soccers no festival Paredes de Coura. Desde aí nunca mais foi esquecido. Ricardo é um mocumentário sobre o bailarino Ricardo Bueno e o drama de se esquecer do seu passo de dança. Sofrendo por você, Ricardo. (Carlos Ramos)
“O diabo, um bebé e outros animais encontram-se para celebrar qualquer coisa, após terem morrido.” Assim descreve Rafael dos Santos a sua estreia no cinema. Um ritual de estupefação, um ciclo de experimentação, dois minutos e pouco sobre o que morre e vive.
Vernier é um grande e irónico observador. A partir de um workshop dado a alunos da Universidade de arte e design de Genebra, o realizador foi à noite suíça filmar conversas de uma juventude rica e extravagante, num retrato de luxo, vaidade e ostentação.
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Tempo de vacuidade, tempo jovem, o champagne corre e as conversas saem ligeiras como linhas de coca que desaparecem no riso de jovens amigos que se juntam em Genebra. Ostentar é uma figura natural que alimenta o tom e ‘’ter’’ é só uma consequência a desfrutar. Chiques e selectos baloiçam nas suas gaiolas douradas entregues ao jogo da fruição. A noite é toda deles. (Carlota Gonçalves)
A memória do amor tem certos brilhos. Ela também possui o som do mar, o piar dos pássaros na floresta, um passado disfarçado de aparição. Numa tarde soalheira, Pedro reencontra Inês.
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Numa tarde de sol veranil, Pierre e Bastien encontram-se para tomar café à beira mar. A conversa faz lembrar um amor antigo que volta à superfície. No caminho do seu passado, entre floresta misteriosa e mar cativante, será que Pierre e Inès verão o futuro? (Duarte Coimbra)
Rita Macedo (Implausible Things; This Particular Nowhere – IndieLisboa 2014 e 2015) viveu nos anos 90 em Macau com a sua família. Através de um olhar reflexivo, a autora laça a sua memória e a História. Ambos momentos de uma mesma finitude e transformação.
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Poder-se-ia dizer que o novo filme de Rita Macedo destoa dos seus anteriores títulos. De facto a narração confessional e o recurso a imagens de filmes caseiros remetem para uma intimidade ensaística que não se lhe conhecia. Ainda assim, o cerne do seu trabalho permanece intacto: a fusão de ideias na continuidade cósmica de um discurso que tanto é puramente factual (científico até) como puramente subjectivo (e memorialista). E onde antes se interrogava a ontologia do pensamento, agora questiona-se a escrita da história (e das estórias). (Ricardo Vieira Lisboa)
Todas as noites em Shenzhen, na China, um sem número de pintores de réplicas põe-se ao trabalho. Paul Heintz, terceira participação no festival (Non-contractuel, 2016 e Foyers, 2019), vai registar o seu quotidiano, entre a arte e o trabalho de colarinho azul.
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Plano a plano, vamos desbloqueando o mistério de Shānzhài Screens. Ao seguir as ações artísticas e tecnológicas de um grupo de copistas, Paul Heintz reflete sobre o momento em que estamos, na história da pintura e da arte, onde a ideia de copiar um quadro parece ter-se transformado na de copiar um ecrã. (Duarte Coimbra)
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A cidade de Hong Kong vive à espera de uma ruptura trazida pelo crescimento constante. A tapeçaria de imagens em 16 mm de Simon Liu reflete uma sinfonia urbana dissonante, entre momentos que alternam a alienação e os elementos da natureza.
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Tranches de vida citadina, ritmos mecânicos e sombras tremeluzentes compõem os retratos especulares de Simon Liu. Agora, a plasticidade da sua câmara de 16mm (que ora esbate as imagens em manchas, ora as revela na porosidade da película, em movimento desacelerado – criando poéticas cadências visuais), vê-se acompanhada de uma composição sonora que acentua o tráfego humano de Hong Kong e a incomunicabilidade numa metrópole . “Signal 8” descobre na dimensão pitoresca de um território a sua inquietação política. (Ricardo Vieira Lisboa)
A primeira ficção de Diop ergue-se sob uma outra “travessia”: o crescimento de uma adolescente francesa. Vanina, a passar férias nos Alpes franceses, deseja estar com a melhor amiga, mas é com Simon e Mary Jane, seus babysitters, que procura uma conexão.
Estamos rodeados por todos os tipos de sons, mas qual o grau de consciência que temos deles? A realizadora e investigadora Raquel Castro tem trabalhado, a partir do conceito de paisagem sonora, a forma como os sons, os silêncios, os ruídos, as frequências, e todos os espectros sonoros – do infra ao ultra-som – caracterizam cada lugar e nos afetam e transformam. Um filme ensaio também sobre cidadania, ecologia e responsabilidade pelo som que geramos.
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Imagine-se um outro mundo sem som. Imagine-se ao menos que, como no nosso mundo, não fosse a momentânea ausência de som que o definisse. Eis o que SOA interpela: a ubiquidade do som, desde a mais simples actividade humana hodierna à mais antiga prova de existência de vida. Afinal, se Deus ditou que se fizesse luz, tê-la-á precedido o som da Sua voz. SOA é uma viagem de questionamentos sobre a heterogeneidade do som e, de par com a geografia da complexidade humana, sobre as suas itinerâncias – e sobre nossa capacidade de o escutar. (Filipa Henriques)