O Pulsar do Mundo, secção que mergulha em temas e questões de relevância mundial, ao entrarmos no último fim-de-semana do festival, começa a ter as últimas pulsações.
Jessy é um pequeno documentário que acompanha o nascimento de Jessica Cristopherry, uma personagem glamorosa que Paula Lice, actriz e dramaturga brasileira, inventou durante a infância. Já adulta, Paula vai finalmente poder dar vida a um sonho de menina e ser essa mulher fabulosa. Para isso conta com a ajuda de quem mais percebe do que é ser feminina: um grupo de travestis que vão fazer dela uma verdadeira drag queen. Este filme, de uma enorme sensibilidade, é uma verdadeira homenagem ao universo drag de Salvador da Baía. Esta curta metragem é exibida em conjunto com a longa metragem Bambi. Sébastien Lifshitz apresenta-nos a extraordinária vida de Bambi, nascida numa pequena aldeia na Argélia, em 1935, no corpo de um rapaz chamado Jean-Pierre Pruvot. Nos anos 50, aproveitando um espectáculo do Cabaret Carrousel de Paris em Argel, emigrou para França, onde adoptou o nome artístico de Bambi e fez parte da vibrante noite dos cabarés da capital francesa. Aos 77 anos, Bambi conta como era a vida de uma transexual naquele tempo, as suas amizades, os escândalos e o surpreendente encontro com o amor da sua vida. Uma história de rejeições e coragem documentada por uma quantidade impressionante de fotografias e filmes de arquivo.
A sessão começa às 19:15, Sexta-feira, 2 de Maio, no Cinema City Campo Pequeno.
Na mesma noite, recebemos Denis Côté com o filme Que Ta Joie Demeure. Temos de confiar uns nos outros explica uma mulher, sem que saibamos exactamente a quem se dirige a afirmação. O cenário mostra-nos máquinas de uma fábrica e o som é ensurdecedor. Há pessoas a trabalhar, a manusear as máquinas, a garantir que as engrenagens cumpram os movimentos certos. É preciso estar concentrado. Que ta joie demeure é um documentário sobre o trabalho, mas não sobre a submissão do homem ao poder da máquina, sobre a desumanização do processo industrial. O que se vê é sobretudo a adaptação de pessoas a espaços e funções aparentemente bizarras mas que são executadas com mestria e com coreografias que o filme observa e enaltece. O corpo é um instrumento de trabalho, uma extensão da máquina. Mas cada actividade também é falada, discutida em diálogos que parecem encenados, como aliás as próprias coreografias, mas sem que nunca deixemos de estar perante um documentário, que se move por diferentes espaços industriais para revelar a rotina enquanto movimento de uma das actividades mais valorizadas pelo homem: o trabalho.
A exibição da longa metragem de Denis Côté acontece Sexta-feira, 2 de Maio, às 21:45 no Cinema City Campo Pequeno. Adicionalmente, o filme é exibido no Sábado, 3 de Maio, às 17 horas, no Campo Pequeno.
E chegamos ao fim com o documentário de Jean-François Caissy. La marche à suivre é um documentário que acompanha a vida na escola de uma série de jovens problemáticos de uma zona rural do Norte do Quebeque. A um nível mais abstracto, o filme explora a ideia de que a escola funciona como uma oportunidade que a sociedade tem de educar estes jovens antes de eles partirem por sua conta para uma vida para a qual não estão ainda inteiramente preparados. Ao longo do filme vemos conversas privadas entre um professor ou assistente social e um aluno. A câmara permanece centrada no jovem enquanto ele tenta explicar o seu comportamento ou é forçado a ouvir o que o adulto tem para dizer, muitas vezes mesmo a revirar os olhos. Não sabemos quem são estes jovens nem que história é a deles para lá destas conversas. Aqui são todos iguais, todos adolescentes, a todos se pede que aprendam a ser adultos.
Com a sessão Sábado, às 19:15, encerramos a secção Pulsar do Mundo.