Conhecida pela sua radicalidade no sentido de descoberta de novas vozes arrojadas, a secção Silvestre, na sua vertente da longa-metragem, volta com um programa recheado de nomes conhecidos (Radu Jude, Eugène Green ou John Gianvito) e descobertas destemidas. Como corolário, depois de no passado termos olhado o trabalho de cineastas como Mati Diop, Jean-Gabriel Périot ou Ben Rivers, em 2021, o foco será no trabalho do cineasta colombiano Camilo Restrepo, uma das grandes revelações do cinema da última década. A 18ª edição do IndieLisboa acontece de 21 de Agosto a 6 de Setembro nas salas habituais.
A secção Silvestre prima pela singularidade de obras tanto de autores jovens como confirmados que, rejeitando o status quo, criam novas linguagens cinematográficas. De entre as longas metragens da secção, destacam-se entre muitos outros Bad Luck Banging or Loony Porn, longa-metragem de Radu Jude, que foi por diversas vezes vencedor do IndieLisboa. O filme cristaliza a particularidade desta secção pela sua forma pouco convencional e o sentido de humor irreverente. Esta sátira da pandemia que vivemos teve a sua estreia na Berlinale, onde foi aclamada pela crítica e obteve o prémio principal do festival – o Urso de Ouro.
De Eugène Green, cuja relação próxima com o festival data da primeira edição, em que ganhou o Grande Prémio IndieLisboa, Atarrabi & Mikelats, a sua última longa-metragem. Nesta versão modernizada de um mito basco, sinceridade e sátira andam de mãos dadas.
Em Her Socialist Smile, John Gianvito constrói um ensaio experimental em torno da figura esquerdista e sufragista de Helen Keller, que apesar de ter perdido a audição e visão em criança tornou-se uma escritora prolífica, professora e activista. O filme destaca importantes aparições públicas de Keller, como o seu discurso Out of the Dark, de 1913.
Em estreia mundial estará o filme brasileiro A Cidade dos Abismos, de Pryscila Bettim e Renato Coelho, uma fábula intemporal que recupera o cinema brasileiro dos anos 70, num festim de cor e lantejoulas que antecipam a tragédia.
Mostramos também o trabalho desconcertante de Christophe Cognet que explorou, em À pas aveugles, a origem de fotografias tiradas por prisioneiros de campos de concentração, que fotografaram e documentaram clandestinamente o horror que viam.
E ainda Au coeur du bois, de Claus Drexel, que do coração do Bois de Boulogne dá a descobrir as histórias das que ali trabalham.
O Foco Silvestre será no trabalho do cineasta colombiano Camilo Restrepo. A par de Teddy Williams e Kiro Russo, Restrepo é uma das vozes mais fortes e coerentes do novo cinema vindo da América latina. O IndieLisboa tem acompanhado de perto os três cineastas, já vencedores de diversos prémios da curta à longa-metragem.
Nascido em Medellín, Camilo Restrepo vive e trabalha em Paris desde 1999, sendo membro do colectivo L’abominable, um laboratório experimental onde artistas cineastas de várias gerações e proveniências trabalham a película. Nessa sequência, o foco vai integrar um programa de curtas-metragens de colegas do colectivo, especialmente escolhidas por Camilo Restrepo.
A sua primeira longa-metragem retrata uma viagem individual que se mistura com o panorama social e político da Colômbia; em Los Conductos, as cores vibrantes e a textura da película dão uma beleza idiossincrática a um filme cuja personagem principal vive assombrado por memórias violentas.
Com cinco curtas e uma longa-metragem realizadas, todas presentes em festivais internacionais relevantes, de Cannes a Berlim, passando por Locarno, Restrepo utiliza as imagens com um discurso político e social, retratando franjas da sociedade, muitas vezes através de um diálogo psicadélico entre imagem e som, com a música a pontuar em alguns dos seus trabalhos mais arriscados. É com o coração no centro de cada filme que Restrepo arrisca e arrisca, até nos entrar na pele.
A programação das restantes secções, incluindo as curtas-metragens da secção Silvestre, será anunciada brevemente.
PROGRAMAÇÃO
SILVESTRE LONGAS
- À pas aveugles, Christophe Cognet, doc., França/Alemanha, 2021, 110’
- Atarrabi & Mikelats, Eugène Green, fic., França/Bélgica, 2020, 123’
- Bad Luck Banging or Loony Porn, Radu Jude, fic., Roménia / Luxemburgo / República Checa / Croácia, 20201, 106′
- By the Throat, Effi Weiss / Amir Borenstein, doc., Bélgica, 2021, 75′
- A Cidade dos Abismos, Priscyla Bettim / Renato Coelho, fic., Brasil, 2021, 96’
- Un cielo tan turbio, Alvaro Fernandez-Pulpeiro, doc., Colômbia / Espanha / Venezuela / Reino Unido, 2021, 84’
- Au coeur du bois, Claus Drexel, doc., França, 2021, 90′
- Forest – I See You Everywhere, Bence Fliegauf, fic., Hungria, 2020, 112’
- Girls | Museum, Shelly Silver, doc., Alemanha, 2020, 71’
- Her socialist smile, John Gianvito, doc., EUA, 2020, 93’
- Holgut, Liesbeth de Ceulaer, doc., Bélgica, 2021, 75’
- I Comete − A Corsican Summer, Pascal Tagnati, fic., França, 2021, 124’
- Au jour d’aujourd’hui, Maxence Stamatiadis, fic., França, 2021, 67’
- Loin de vous j’ai grandi, Marie Dumora, doc., França, 2020, 102’
- Souad, Ayten Amin, fic., Egipo / Tunísia / Alemanha, 2021, 96′
FOCO SILVESTRE: CAMILO RESTREPO
- Tropic Pocket, Camilo Restrepo, doc., Colômbia, 2011, 9’
- Como crece la sombra cuando el sol se inclina, Camilo Restrepo, doc., Colômbia/França, 2014, 11’
- La impresión de una guerra, Camilo Restrepo, doc., Colômbia/França, 2015, 26’
- Cilaos, Camilo Restrepo, fic., França, 2016, 16’
- La Bouche, Camilo Restrepo, fic., França, 2017, 19’
- Los Conductos, Camilo Restrepo, fic., França/Colômbia/Brasil, 2020, 70’
Camilo Restrepo e o colectivo L’abominable
- Retour à la rue d’Éole, Maria Kourkouta, doc./exp., Grécia, 2013, 14’
- La machine d’enregistrement, Noémi Aubry / Wisam Al Jafari / Tamador Abu Laban / Firas Ramadan, doc./exp., França, 2013, 9’
- K (Les femmes), Frédérique Devaux, França, 2003, 5’
- Planches, clous, marteaux, Jérémy Gravayat, doc./exp., França, 2015, 13’
- Jérôme Noetinger, Stefano Canapa, doc./exp., França, 2018, 12’
- Terminus For You, Nicolas Rey, doc./exp., França, 1996, 10’
- Septième Fraction, Guillaume Mazloum, exp., França, 2015, 7’