Uma afirmação: não vamos falar de mais um ano particularmente difícil para o cinema português. Vamos, sim, comprovar que a produção cinematográfica nacional está cada vez mais desperta para novos formatos e linguagens. Na Competição Nacional do IndieLisboa encontraremos obras singulares, todas diferentes, cada uma com uma voz marcadamente original. Na Competição Nacional de Longas Metragens, regressamos a nomes familiares: Joaquim Pinto e Nuno Leonel oferecem o já consagrado O Novo Testamento de Jesus Cristo segundo João, um documentário que vive da interpretação do texto bíblico por Luís Miguel Cintra; Sérgio Tréfaut, em Alentejo, Alentejo, provará que o cante alentejano ainda tem uma forte expressão – afirmação que, de certa forma, celebra também Abril; Tiago Hespanha e Frederico Lobo assinam Revolução Industrial, um denso mergulho no Vale do Ave, um olhar sobre a revolução que não passou pelas vidas dos habitantes que o rodeiam; Cláudia Alves mostrar-nos-á Tales on Blindness, um documentário sobre a presença portuguesa na Índia.
A Competição Portuguesa de Curtas Metragens integra, em 2014, uma selecção que demonstra que o formato curta é cada vez mais procurado por realizadores portugueses, alguns até regressados de uma tradição de longas metragens, como acontece Sandro Aguilar (Jewels) e Tiago Guedes (Coro dos Amantes). Mostramos também obras de nomes que já passaram pelo IndieLisboa, como Antero (de Ico Costa), Boa noite Cinderela (de Carlos Conceição), Daddies (de António da Silva), Ennui Ennui (de Gabriel Abrantes), Ponto Morto (de André Godinho) e Varadouro (de Paulo Abreu e João da Ponte). É também um ano de descoberta de novos talentos, a maior parte obras assinadas por realizadores que estudam cinema fora de Portugal: A Caça Revoluções (de Margarida Rego), As Figuras Gravadas na Faca pela Seiva das Bananeiras (de Joana Pimenta), As Rosas Brancas (de Diogo Costa Amarante), Coisa de Alguém (Susanne Malorny), Implausible things (de Rita Macedo), Le petit prince au pays qui défile (de Carina Freire), Retrato (de Vasco Araújo) e Square Dance, Los Angeles County, California, 2013 (de Sílvia das Fadas).
A secção Novíssimos consolida a sua importância, este ano com uma novidade, a longa metragem O Primeiro Verão, de Adriano Mendes. Em formato curta, serão apresentados os filmes A Minha Idade (de Hugo Pedro, realizador do premiado Primária), Alda (de Filipe Fonseca, Ana Cardoso, Luís Cataló e Liliana Sobreiro), É consideravelmente admirável da tua parte que ainda penses em mim como se aqui estivesse (de André Mendes e Andreia Neves), Em Cada Lar Perfeito Um Coração Desfeito (de Joana Linda), Escala (de Fábio Penela), Gata Má (de Eva Mendes, Joana de Rosa e Sara Augusto), Meio Corte (de Nicolai Nekh), O Silêncio entre duas canções (de Mónica Lima), Sisters (de Pedro Lucas), Tudo vai sem se dizer (de Rui Esperança) e Uma vida mais simples (de Inês Alves). Três sessões, três oportunidades para ficar a conhecer os cineastas do futuro.
Na secção Director’s Cut estarão as obras de Luís Alves de Matos, Refúgio e Evasão, um documentário sobre o olhar cinematográfico de Alberto Seixas Santos e as curtas metragens, Head, Tail, Rail, de Hugo Olim e Walk in the Flesh, de Filipe Afonso.
A música também se canta em português e no IndieMusic celebra os 40 anos da liberdade. A fazer a ponte com o programa República dos Cravos: 25 de Abril, Sempre mostramos Mudar de Vida, um documentário sobre a vida e obra de José Mário Branco. A música contemporânea portuguesa materializa-se em Legendary Tigerman, no documentário True, de Paulo Segadães.
Para os mais pequenos, três obras portuguesas na secção IndieJúnior: Adolfo, de João Carrilho, Fúria, de Diogo Baldaia e Zombies4Kids, de Pedro Santasmarinas.
O programa República dos Cravos: 25 de Abril, Sempre mostrará ainda o documentário Outra forma de luta, de João Pinto Nogueira, filme baseado na correspondência entre Nuno Bragança e Carlos Antunes, que reconstitui uma parte da história do 25 de Abril, e a co-produção Les Grandes Ondes, de Lionel Baier, comédia na qual uma equipa da televisão suíça aterra no Portugal aparentemente pachorrento do dia anterior à revolução e acorda no dia seguinte num país liberto e eufórico.
Guardámos ainda lugar para grandes nomes do cinema mundial em duas produções portuguesas do programa Capital Europeia da Cultura ‚ Guimarães 2012: 3x3D, de Peter Greenaway, Edgar Pêra e Jean-Luc Godard e o aguardado Centro Histórico, de Pedro Costa, Manoel de Oliveira, Víctor Erice e Aki Kaurismäki.