Curtas metragens nacionais: caminhos improváveis e lugares misteriosos

O formato da curta metragem tem sido o território de descoberta e de confirmação das promessas da cinematografia nacional e dos mais importantes realizadores portugueses. Este ano não é excepção.

Em Cabeça d’Asno a materialidade da memória afirma-se por entre diferentes suportes e nessa multiplicidade, que é tanto sensível quanto analítica, a intimidade e os fantasmas interiores ganham corpo. Também de espectros secretos e espaços assombrados se faz Macabre, filme de animação que recupera o género do terror gótico num casarão abandonando. Já Heroísmo trata também da ocupação de um espaço vazio, um centro comercial deserto, onde vive sozinho um jovem rapaz. Transmission from the Liberated Zones é feito igualmente de memórias e testemunhos animados do arquivo por um dispositivo de feedback visual e performativo (exibido na secção Forum Expanded do Festival de Berlim). Os quatro filmes são exibidos nos dias 25 de Abril (segunda-feira), às 18h00, na sala Manoel de Oliveira do Cinema São Jorge e 27 de Abril (quarta-feira), às 21h45, na sala 3 do Cinema São Jorge.

A segunda sessão de curtas metragens nacionais [26 de Abril (segunda-feira), às 19h00, na sala Manoel de Oliveira do Cinema São Jorge e 28 de Abril (quinta-feira), às 21h30, na sala 3 do Cinema São Jorge] conta com O Sul, onde se coreografam imagens, vídeos, palavras e pensamentos de uma viagem à América do Sul num exercício de articulação digital. Viktoria acompanha também uma viagem, interior, de uma atleta paralímpica que se descobre de novo a andar e se defronta com aquilo que esconde ao mundo e a si. Quanto a Chatear-me-ia morrer tão joveeeeem… percorre os túneis lamacentos das trincheiras de uma guerra de fumos tóxicos e morte vã. Já Balada de um Batráquio descreve a mitologia dos sapos para a comunidade cigana para de seguida a quebrar em mil pedaços (vencedor do Urso de Ouro do Festival de Berlim).

O poder da associação livre evidencia-se em A Guest + A Host = A Ghost onde as imagens e a montagem constroem equações visuais misteriosas, a caminho da subjectividade do espectador. Também improvável é o episódio retratado em O Desvio de Metternich, quando Leopoldina de Hasburgo parou nos Açores quando viajava a caminho do Brasil ao encontro de D. Pedro IV (I do Brasil). Já Rochas e Minerais também se amolece no quente de uma estância balnear onde duas raparigas se reencontram no lugar dos verões da infância e deles emana as memórias doutros calores. Em The Hunchback, dos realizadores Gabriel Abrantes e Ben Rivers – pela primeira vez a trabalhar juntos -, também os espaços reflectem a duplicidade do tempo e, num jogo semiótico de ficção científica, diferentes épocas (futuras e passadas) cruzam-se com diferentes géneros cinematográficos. Todos podem ser vistos nas duas sessões da competição nacional Curtas 3 nos dias 27 de Abril (quarta-feira), às 19h00, na sala Manoel de Oliveira do Cinema São Jorge e 29 de Abril (sexta-feira), às 21h30, na sala 3 do Cinema São Jorge.

A última sessão da competição nacional [28 de Abril (quinta-feira), às 19h00, na sala Manoel de Oliveira do Cinema São Jorge e 30 de Abril (sábado), às 21h30, na sala 3 do Cinema São Jorge] abre com Sem Armas, onde um grupo de jovens exibe a sua masculinidade borbulhante até que o perigo surge e a força se desfaz na espuma do medo. Para Live Tropical Fish a fotografia brilhante em preto-e-branco alia-se à duração dos planos fixos e os silêncios e os segredos são tão misteriosos quanto o movimento dos peixes exóticos. Menina também trabalha sobre o não dito e os segredos entre os elementos de um casal “ideal” do Estado Novo. Campo de Víboras retrata igualmente uma história de mistério e suspeita onde as pulsões homicidas e as más-línguas de uma terra pequena se manifestam na figura dos Caretos transmontanos. Já Ascensão trabalha sobre o mistério supremo da vida, a morte.

A secção Novíssimos, constituída por uma selecção de filmes de jovens cineastas, distende-se em duas sessões. A primeira sessão [29 de Abril (sexta-feira), às 19h00, na sala Manoel de Oliveira do Cinema São Jorge] abre com Hora di Bai sobre a destruição do bairro 6 de Maio; seguem-se os filmes Não-Tempo, que problematiza a expressão de Marc Augé, Prefiro Não Dizer, que retrata a relação de não-ditos de dois amigos e Vigília, que acompanha um seminarista timorense na sua integração na cultura e língua portuguesa.

Na segunda sessão [30 de Abril (sábado), às 19h00, na sala Manoel de Oliveira do Cinema São Jorge] começa-se com Maxamba, filme sobre a demolição do bairro Quinta da Vitória, depois A Minha Juventude, onde três gerações de cruzam numa casa perdida no tempo, Borda d’Água, sobre a arte da pesca tradicional no rio Tejo e por fim Jean-Claude, feito a partir de fotografias dos anos 1930 descobertas numa feira de rua.