Em 1819, deu-se um dos episódios mais tristes da história da Inglaterra, o infame massacre de Peterloo. Uma multidão pacífica de 60 mil pessoas, em Manchester, protestava pacificamente por uma reforma democrática, quando foram violentamente atacados pela cavalaria, apoiada pelo governo. O mestre do realismo inglês e grande cineasta político, Mike Leigh (de quem exibimos “Happy-Go-Lucky” e “Thumsucker”), aborda este episódio histórico com uma enorme sede de justiça e uma raiva visceral, oferecendo-nos ecos do presente imbróglio populista que tomou conta do Reino Unido.
Secção: Silvestre
Charlie Lyne (o realizador das longas “Beyond Clueless” e “Fear Itself”, IndieLisboa 2015 e 2016) dá voz aos 16 homens que, nos anos 1990 em Inglaterra, foram condenados por pertencerem a um clube de S&M.
Após vencer o prémio do público, o ano passado, com “Stay Ups”, Joanna Rytel regressa com “Hard On”, também sobre a dificuldade de se ser mãe solteira com uma vida sexual saudável. Máscaras, animação e cenários perfeitos constroem o seu universo de fantasias.
Menahem Lang é um actor conhecido do cinema israelita, mas em “M.” ele interpreta-se a si mesmo e guia-nos pelo perturbador mundo secreto da pedofilia na sua cidade natal: Bneï Brak, a capital mundial do ultra-ortodoxo judaísmo Haredi. Vítima de abusos ao longo de toda a sua infância, Menahem usa este filme para reabrir a ferida e procurar desinfectar a gangrena que lhe corroeu a vida adulta. A ele e a centenas de outros, que encontra nas ruas e com quem conversa sobre os seus traumas. Um filme anti-sensacionalista mas sem concessões, cândido e ao mesmo tempo redentor.
Uma manhã, em Berlim, o realizador acorda o seu amigo, em Inglaterra, com um telefonema. Está preocupado. Na noite anterior, assinou uma petição a favor do boicote do concerto dos Radiohead em Israel. Terá sido uma boa ideia? Como palestiniano, este acto pode trazer-lhe problemas no futuro… “I Signed the Petition”.
Na maratona olímpica de 1960, em Roma, a medalha de ouro foi pela primeira vez para África, para o maratonista etíope Abebe Bikila. “Freedom of Movement” parte deste marco histórico para reflectir sobre o nacionalismo europeu, da arquitectura fascista à presente crise de refugiados.
Mark Jenkin (que apresenta, na Competição Internacional, a sua longa “Bait”) cospe palavras à velocidade do projector enquanto o mundo se transforma ao ritmo do “progresso”. E o David Bowie morreu. E o mundo não parou.
O que pode a ficção-científica ensinar-nos sobre ecologia? “Extra-Terrestrial-Ecologies” é um ensaio, ao correr do pensamento, que investiga filmes e estranhas experiências dos anos 1970, encarando os ecossistemas de uma perspectiva mais có(s)mica que terrena.
Em 2014, o governo da Macedónia inicia um projecto de renovação urbanística de Skopje com vista a (re)inscrever a cidade no cânone da antiguidade. “Bigger than Life” é uma reflexão musical sobre a fabricação da identidade nacional.
O cinema onírico de Apichatpong Weerasethakul revela-se na sua máxima poesia em “Blue”: onde o estado de vigília faz arder os sonhos no palco do inconsciente e a insónia transforma a paisagem da noite.
Bookanima = Book + Anima. O realizador Shon Kim dá (nova) vida a antigos manuais de dança numa torrente de páginas que descrevem diferentes estilos: do ballet coreano ao jazz, da aeróbica ao disco dance, do hip-hop ao sapateado.
Depois de 8 anos sem filmar, Lee Chang-dong regressa com uma adaptação de um conto de Haruki Murakami, do livro ‘O Elefante Evapora-se’. Uma história de mistério construída sobre um triângulo amoroso ao qual desapareceu um dos vértices. Um perturbante puzzle psicológico que queima lentamente sobre os enigmas da juventude. Segundo o próprio realizador, este é um filme sobre a raiva das gerações mais novas, da sua sensação de impotência e de como têm consciência de que as suas vidas serão piores que a dos seus pais. “Burning” recebeu o prémio da crítica no festival de Cannes.
“Cairo Affaire” é um filme de espiões em três andamentos: em Teerão, uma mulher com secretas intenções mete conversa com o realizador, no Cairo, os animais parecem estar ao serviço de interesses estrangeiros e, no Iémen, uma história de amor entre uma actriz croata e um dos fundadores da Al-Qaeda.
Pouco depois de exibirmos “Offside”, no IndieLisboa 2007, Jafar Panahi foi preso e proibido de filmar durante 20 anos pelo Tribunal Revolucionário Islâmico do Irão. Entretanto, “3 Faces” é já o quarto filme que o realizador faz ilegalmente, e o seu regresso ao universo feminino e às dificuldades sociais que as mulheres sofrem no seu país. Três mulheres de três gerações, três actrizes a interpretarem actrizes e um vídeo dentro de um filme dentro de outro, com Panahi a fazer de si mesmo. Um complexo jogo de espelhos que nos remete para o melhor do cinema iraniano moderno. O filme estreará em Portugal no dia 16 de Maio.
Uma mosca entra num restaurante e além de perturbar os clientes e fugir dos funcionários, observa as transformações da Revolução Cultural Chinesa em curso. “A Fly in the Restaurant” é uma inventiva animação de colagens.
“A.B.” são as iniciais de Ashlynn Brooke, uma das mais conceituadas actrizes porno da actualidade, e este é um retrato imaginário dos seus desejos.
‘Knife Fight’ é o nome da banda dos adolescentes Laëtitia, Roca, Nico e Naël, mas Laëtitia irá em breve estudar para longe. Antes disso, um último ensaio e um último adeus, para afastar a chegada da idade adulta (estreado na Semana da Crítica do Festival de Cannes).
“Alice T.” é a sexta longa do romeno Radu Muntean, que estreou nas salas portuguesas “Terça, Depois do Natal” (e que exibiu no IndieLisboa a longa “One Floor Below” e várias curtas). Alice é uma adolescente que faz a vida negra à sua mãe adoptiva. Numa discussão mais acesa confessa-lhe que está grávida e que quer ter o bebé. Só que nem tudo é o que parece e há consequências para o que se diz. Um desempenho extraordinário da estreante actriz Andra Guţi que carrega uma energia voraz e desarmante. Uma mistura explosiva de amor, frustração, suspeita e decepção.