Daisies Cloud Passing

Muitas vezes no cinema o momento decisivo ocorre num piscar de olhos. Poucos segundos. Tempo que basta para se instalar a beleza. As nuvens são o obturador natural.

Em poucos segundos, uma nuvem atravessa um campo de margaridas. A imagem primaveril é sobressaltada pela passagem da escuridão. Tão breve, tão fugaz, tão insignificante. É nessa passagem que se forma um poema em 16mm. (Margarida Moz)

 

A Bright Summer Diary

A partir de uma fotografia tirada com a sua mãe no final dos anos 80, Lei Lei (presente no IndieLisboa em 2016 com Missing One Player e 2017 com Books on Books) reflete sobre o estatuto da imagem como arquivo de nostalgia, fusão de memórias individuais e coletivas.

Análise de memórias que começam num carro-cenário e crescem depois para carros reais, objectos de transporte perfeito para revisitar o tempo como verdadeira experiência de imagem fixa e em movimento. Outros objectos e espaços juntam-se, suportes duma impressão do tempo que se move em constante evocação. Filme de natureza analítica e sensível que vai do pessoal ao colectivo abrindo-nos a um belo diário pleno de vida. (Carlota Gonçalves)

 

Apiyemiyekî?

Parte-se de uma memória visual colectiva, constituída por mais de 3000 desenhos, feitos pelo povo indígena brasileiro, Waimiri-Atroari. Neles vemos um processo de aprendizagem, mas também a violência a que foram submetidos durante a ditadura militar.

Os desenhos feitos nos anos 70 pelos Waimiri-Atroari durante o seu processo de alfabetização servem de base a Apiyemiyekî?. Neles vê-se e lê-se os testemunhos-reacções deste povo indígena da Amazónia à violência e atrocidades contra si perpetradas pelos brancos durante a ditadura militar brasileira. Num filme ancorado no passado, a reverberar num presente com que partilha demasiadas semelhanças, Vaz reproduz com inteligência e intenção um gesto de audição original essencial ao entendimento de uma comunidade. (Ana David)

 

Apparition

Ver com os as mãos. Uma fotografia foi tirada por alguém no dia da independência da Tunísia, em 1956. Neste filme premiado em Roterdão, Bahri mostra-nos essa imagem, opaca à luz, mas revelada, pedaço a pedaço, pela coreografia e movimento de umas mãos.

Um filme que se desdobra pelo toque mágico e exploratório da imagem como peça, onde as mãos se tornam sombras vivas, reveladoras de mais imagem que também é memória, fazendo-nos descobrir figuras humanas e andar para trás no tempo. Imagem permeável, transparente, de alta sensibilidade ao gesto; um gesto que vai criar a intimidade de um momento breve, delicado e singularmente háptico: “Tocar é ver”, diz-nos Ismaïl Bahri. (Carlota Gonçalves)

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Arnold Schwarzenegger – The Art of Bodybuilding

VanLoo filmou Schwarzenegger nos anos 70, num concurso de culturismo. As imagens em 16 mm foram utilizadas numa instalação artística entretanto perdida. Restam as poses, sem sincronia, com a escultura do homem-músculo a ganhar um novo poder, trazido pelo tempo.

Arnold Schwarzenegger – The Art of Bodybuilding é composto de imagens inéditas, filmadas em 16mm por Babeth van Loo durante a competição Mr. Olympia Bodybuilding em 1976. É uma reflexão sobre a relação do corpo físico e arte. Arnold esculpe o seu próprio corpo para igualar os ideais do corpo masculino imaginados por artistas do renascimento, com isso ele próprio se torna em arte meticulosamente esculpida para ser algo tão efémero como eterno. (Rui Mendes)

 

Average Happiness

O dia em que os diagramas enlouqueceram, os gráficos bailaram e as pirâmides etárias se mostram todas “sensualonas”. Gehrig ironiza sobre o poder normalizador das estatísticas e das eficientes apresentações Powerpoint.

Atire a primeira pedra quem nunca descansou os olhos durante uma apresentação PowerPoint. O que acontece quando os próprios gráficos estatísticos se aborrecem de morte? Uma curta de contornos sensuais e sentido de humor acima da média. (Ana David)

 

Big in Vietnam

Uma realizadora francesa de origem vietnamita deserta o plateau onde rodava uma versão de Ligações Perigosas para subir a bordo de um barco fantasma. Depois de Atlantiques, Diop voltou com este filme a vencer o prémio de melhor curta-metragem no festival de Roterdão.

 

Fettknölen

Enquanto trabalhava no documentário “Bergman – Um Ano, Uma Vida” (estreado nas salas portuguesas), Jane Magnusson ficou obcecada com o sinal que Bergman tinha no rosto. “Voz Lipoma” dá voz a essa mancha e ao lado misógino do realizador sueco.

Seus Ossos e Seus Olhos

Em 2013, com “O Que se Move”, Caetano Gotardo emocionou uma plateia inteira e quase venceu o prémio do público e o ano passado, com a curta “Merencória”, os casais separavam-se e reuniam-se no entrelaçar de uma balada triste. Agora, com “Seus Ossos e Seus Olhos”, o realizador (e também argumentista, montador e protagonista) lança-nos mais uma vez no baile dos sentimentos, por entre lençóis suados, conversas de sofá, confissões e passeios pela rua. Na tradição de Rohmer ou Sang-soo, mas numa perspectiva queer, este é um filme que nos toca, com a mão aberta, o peito despido.

 

Too Late to Die Young

During the summer of 1990 in Chile, a small group of families lives in an isolated community, in the aftermath of end of the dictatorship. In this time of change and reckoning, Sofía, Lucas and Clara struggle with parents, first love, and fears.

Treasure Island

It’s summer on an amusement park in the Paris suburbs. A land of adventures, flirting and transgression for some, a place to hide out or take a break for others. It’s like a childhood kingdom waiting to be explored, resonating with the turmoil of today’s society.

Os Jovens Baumann

1992. Os últimos herdeiros da prestigiada família Baumann, do sul de Minas Gerais, desaparecem sem deixar rasto. 2017. Uma caixa com cassetes VHS é encontrada, contendo registos dos seus últimos momentos, durante as férias na casa da família. Através da compilação desses arquivos familiares, o filme reorganiza os fragmentos de um mistério até hoje sem solução. A primeira longa de Bruna Carvalho Almeida (após trabalhar como montadora, nomeadamente em “Fabiana”, também presente no festival) é um enigmático filme de fantasmas. Em estreia europeia no IndieLisboa.

Sete Anos em Maio

Affonso Uchôa (vencedor do Prémio Especial do Júri no indieLisboa 2017 pela longa “Arábia”) dá-nos a conhecer a história de Rafael numa noite interminável, junto à fogueira, em longos monólogos: um dia invadiram-lhe a casa e ameaçaram-no de morte, no outro a sua vida mudou para o pior.

A Rosa Azul de Novalis

Depois de vencer o Grande Prémio do festival, o ano passado, com “Lembro Mais dos Corvos”, Gustavo Vinagre regressa ao IndieLisboa com uma co-realização com Rodrigo Carneiro (estreante na realização, após uma carreira como montador). À imagem do filme anterior, este é um documentário biográfico altamente encenado onde lenda e facto se fundem na figura de Marcelo Diorio, anfitrião do seu ânus aberto e das suas vidas passadas. Aqui, os seus traumas (os abusos, o HIV) fazem-se tragicomédia literária e o seu charme subversivo não deixa ninguém indiferente.

Wyprawa do magicznego wodospadu

Numa estética de vídeo-jogo vintage, “Journey to the Magic Waterfall” é uma fábula triste sobre um zé-ninguém a quem é concedido um desejo: ter uma bela voz de rouxinol 8-bit.

Martin pleure

 Recorrendo ao jogo de vídeo ‘Grand Theft Auto V’, acompanhamos Martin (um hooligan sentimental), numa onda de violência tintada de solidão e desespero: “Martin pleure” (IndieLisboa 2017).

Notre heritage

“Notre héritage” reflecte sobre o peso da descendência: Lucas é filho de um conhecido pornógrafo e a sua relação com o pai faz-se através dos seus abusivos filmes. É possível amar sem emoção?

Chiens

“Chiens”, realizado por Caroline, apresenta-nos um homem que, num país de montanhas e florestas, deixou de reconhecer os seus fiéis cães.