Jokinen é um filme-investigação que percorre a história do Partido Comunista nos EUA, as tensões raciais e a imigração finlandesa nos anos 1930: uma história de detectives e bricolage.
Secção: Silvestre
Löss é uma virtuosa animação sobre a condição da mulher na China rural: a única alternativa aos abusos do marido e à dureza do campo são os bonecos de barro com que Yulin fantasia.
O casal Archibald adoptou uma traça, por causa do sapo, que devia ter comido a mosca, que vinha por causa do gato, que chegara depois do cão… Les animaux domestiques.
Não há condições para Tairo, um domador de feras, continuar a trabalhar. Um dos leões adoeceu, outro está já velho e cansado, o macho alfa anda agressivo por causa do cio e, como se já não bastasse, Tairo perde o seu amuleto da sorte – uma barra de ferro dobrada em forma de ferradura. Inicia, então, uma viagem pelo mundo do espectáculo, em busca do “homem mais forte do mundo”, Mister Universo, que lhe havia dado o talismã quando Tairo era ainda criança. Este delicioso roadmovie circense é um filme que renova a nossa capacidade de nos maravilharmos com o mundo.
O prolífico cineasta experimental norte-americano Robert Todd faz de Phases of Noon uma exploração da luz do meio-dia em quatro actos, que são também quatro rolos de 16mm.
Tocam à porta e Penelope tem tudo por arrumar: no meio do caos, até a batata precisa de depilação.
Vitaly Mansky, um dos documentaristas russos mais aclamados por todo o mundo, regressa ao IndieLisboa, depois de, em 2014, ter apresentado Truba. Nascido na Ucrânia, Mansky regressa ao seu país de origem, de modo a explorar as consequências dos protestos de 2013 na Maidan, a Praça da Independência. O realizador visita vários dos seus familiares, que tanto vivem em Odessa como na zona separatista de Donbass e na Crimeia, a zona ocupada pela Rússia. Rodnye (Close Relations) retrata uma família dividida por um conflito fundeado na história secular dos dois países.
O decano Mark Rappaport (cujo Tati vs. Bresson: The Gag é exibido na secção Director’s Cut) continua a inventar biografias fictícias para as grandes figuras do cinema. Desta vez, foi Sergei/Sir Gay Eisenstein.
A paisagem como elemento arquitectónico: em Stella 50.4N1.5E, viajamos até um complexo turístico abandonado e deparamo-nos com a distância entre o modelo e a realidade.
A animação de Peter Millard (Happy Unhappy, IndieLisboa 2016) continua inigualável: em Six God Alphabet Peter, o acto de soletrar é levado ao limite frenético da humilhação.
Michael Glawogger foi Herói Independente no IndieLisboa 2006. Ao longo dos anos, o festival tem exibido os seus filmes e Untitled é a última oportunidade ver a obra do documentarista austríaco. O realizador faleceu em 2014, vítima de malária contraída durante a rodagem deste filme (nos Balcãs, em Itália e na África Ocidental). Dois anos depois, a montadora Monika Willi inicia a tarefa de terminar o filme. Mas a natureza do projecto era a própria noção de deriva, propulsionada pela curiosidade e pela intuição de um grande cineasta. O resultado é, então, uma reflexão sobre a poesia do aleatório.
O humor nórdico de Patrik Eklund (Istället för Abrakadabra, IndieLisboa 2009) cristaliza-se em Anatomi, uma lamentosa apresentação PowerPoint sobre as maleitas do realizador.
Como resposta a um casting, mais de cem mulheres de Copenhaga, entre os vinte e os trinta anos, apareceram para falar da sua sexualidade, os seus desejos, as suas fantasias, as suas frustrações e os seus medos. O filme era para ser outro, mas as realizadoras Mette Carla Albrechtsen e Lea Glob (co-realizadora de Olmo e a Gaivota, IndieLisboa 2016) perceberam que o material era demasiado bom para ser desperdiçado. Venus é um filme que tes- temunha, candidamente, a franqueza de uma confissão, sem julgar, nem meter medo ou vergonha: um espaço seguro para a sexualidade feminina.
Benjamin d’Aoust (Mur, IndieLisboa 2007) ouve, da sua janela, os rumores de uma prisão vizinha. Corps é a sua investigação do que se passa além muros.
Um filho e um pai (Pascal Cervo e Jacques Nolot – Herói Independente em 2009), uma viagem de carro, anos de silêncio acumulado: Enfant chéri é de uma explosiva contenção.
Ainda ontem, Elon despediu-se da mulher, antes de esta ir para o trabalho, mas, quando foi buscá-la, ela tinha desaparecido. Os colegas não a viram, não deu entrada em nenhum dos hospitais e a polícia diz que ainda é muito cedo para dá-la como desaparecida. Elon Não Acredita na Morte é a jornada claustrofóbica de um homem que vagueia por Belo Horizonte sem rumo, por entre mal-entendidos e encontros inusitados. A longa metragem de estreia de Ricardo Alves Jr. é uma espiral nocturna, que testa os limites da sanidade contra o cimento frio da metrópole.
Borders é um filme-documento: um plano fixo e contínuo do êxodo dos refugiados que se encaminham para o campo de Brežice, na fronteira entre a Eslovénia e a Croácia.
Um homem, sentado à varanda, observa as gentes que passam. Quanto mais olha para fora, mais se centra em si, regressando a fotografias e vídeos da adolescência. O movimento das coisas fá-lo prosseguir uma corrente de pensamentos que o leva a reflectir no seu futuro, no dos seus filhos e no da sua mulher. Ole Giæver, realizador de Mot naturen (Da Natureza), estreado em 2015 em Portugal, prossegue o seu cinema de autodescoberta, tão honesto como leve e elegante. Fra balkongen é uma divertida colagem meditativa sobre o lugar que cada um de nós ocupa no mundo.