Amanda

Mikhael Hers é um nome habitual do IndieLisboa. Depois dos seus três primeiros filmes terem sido exibidos na Competição Internacional (“Ce sentiment de l’été”, “Memory Lane” e “Primrose Hill”), Amanda confirma-o como um dos mais argutos retratistas do cinema francês contemporâneo. Aqui o realizador olha de frente para as consequências do terrorismo: Amanda é a sobrinha de David, de 20 anos, que fica ao seu cuidado depois da sua irmã ter morrido brutalmente num ataque. O dilema que se segue constrói um filme tocante sobre o amor e compromisso da idade adulta.

Premières solitudes

Depois de ter sido homenageada na secção retrospectiva do festival em 2014, Claire Simon regressa com Premières solitudes. Um documentário sobre seis adolescentes de uma escola no subúrbio de Paris. Em conjuntos de dois ou três, os rapazes e raparigas conversam sobre as suas vidas, as suas memórias, os seus anseios e os seus sonhos para o futuro. E de repente abre-se espaço à compreensão, e surge alguém que os ouve e conforta. Na passagem para a idade adulta, estes jovens percebem a importância da partilha e da articulação das suas emoções. Funcionando a câmara de Simon como sensível catalisador.

En attendant les barbares

O norte-americano naturalizado francês Eugène Green desenvolveu num atelier com actores En attendant les barbares, uma sátira de fino humor sobre os dias de hoje. As redes sociais anunciam a chegada dos bárbaros e o único sítio seguro é uma mansão medieval onde os telemóveis ficam à porta. Green (que venceu o Grande Prémio do IndieLisboa, em 2004, com Le monde vivant) mantém-se fiel ao estilo que o caracteriza: diálogos em tom declamatório dirigidos à câmara, trabalho de composição milimétrico e um gosto erudito pelas outras artes. Um filme que depura o cinema até aos seus primórdios.

Im Schatten der Utopie

O terceiro, e último, tomo da trilogia de Antoinette Zwirchmayr sobre o seu pai (Der Zuhälter und seine Trophäen e Josef – Täterprofil meines Vaters, IndieLisboa 2015 e 2016), Im Schatten der Utopie, trata do seu período brasileiro, após o assalto a um banco que o obrigou ao exílio.

O Processo

O Processo é, como o título anuncia, um filme de tribunal. Um thriller onde o que interessa não é tanto o desfecho (a destituição da presidente Dilma Rousseff), mas sim compreender de que forma se deu o dito “Golpe”. A realizadora Maria Augusta Ramos acompanhou a equipa de defesa da ex-presidente durante meses e o resultado é um documentário que coloca a nu os meandros da judicialização da política. Um olhar observacional que revela as traições e os interesses nos bastidores do Senado e do Congresso, ao som dos gritos de protesto vindos do exterior. O cinema político brasileiro nunca foi tão urgente.

Dialogue du tigre

Um entomologista, entre o profissional e o amador, e um tigre alado (Papilio canadensis) encontram-se em Dialogue du tigre para uma inebriante viagem pelas malhas apertadas de uma rede para caçar borboletas.

Den’ Pobedy

Todos os anos o dia 9 de Maio é especial, as pessoas juntam-se no parque Treptower em Berlin. Vestem uniformes militares soviéticos, trazem bandeiras e cartazes que celebram Putin e a grande nação russa, cantam, dançam e bebem. Victory Day é um documentário observacional que segue os trâmites do dia em que os emigrantes russos que vivem na Alemanha celebram a tomada da cidade aos nazis pela União Soviética. Juntamente com Uma Mulher Doce, Sergei Loznitsa desenvolve uma potente parábola sobre a ascensão do nacionalismo na Rússia, a partir de um aparentemente inocente feriado nacional.

Le Lion est mort ce soir

Nobuhiro Suwa (Herói Independente do IndieLisboa 2006) é autor de uma obra de produção atípica e Le Lion est mort ce soir marca o regresso do realizador japonês depois de um interregno de oito anos. O filme, protagonizado por Jean-Pierre Léaud, rouba o título à famosa canção dos The Tokens. Léaud interpreta Jean, um actor cuja cena de morte é interrompida por um problema na rodagem, o que o leva a deambular pelas redondezas acabando num filme de terror caseiro que um grupo de crianças está a fazer. Suwa parece fazer aqui o inverso (em cores vivas e cheias de alegria) do último filme de Albert Serra, La mort de Louis XIV.

Tara Moarta

Radu Jude é um nome maior do cinema romeno. No IndieLisboa, a sua curta Lampa cu căciulă venceu a competição, em 2007, assim como a sua longa Aferim! venceu o Grande Prémio, em 2015. Em Tara Moarta o realizador parte das recém-descobertas fotografias de Costică Acsinte, tiradas numa vila romena nas décadas de 1930 e 40, e acrescenta-lhes passagens do diário de um médico judeu da mesma época. O resultado é um filme que reflecte sobre as responsabilidades da Roménia no Holocausto e questiona os limites da representação fotográfica. Jude afirmou mesmo que este é “o meu filme mais abertamente político”.

Les quatre sœurs

Claude Lanzmann, provavelmente o maior documentarista vivo e autor do monumental Shoaapresenta Les quatre soeurs: Paula Biren, Ruth Elias, Ada Lichtman e Hanna Marton. Quatro mulheres judias que testemunharam e sobreviveram aos horrores do holocausto. Lanzmann dá-lhes a palavra, uma hora dedicada à história de cada uma, para que aquilo que viram e aquilo que ainda lembram fique registado. Mas o que têm elas em comum, além do referido sofrimento? A sua inteligência, o seu discurso incisivo e directo que rejeita qualquer falácia retórica ou pretensão. Numa palavra: o seu idealismo.

La liberté

Numa ilha da Córsega cerca de 130 homens estão presos, naquela que é a única “prisão aberta” de França. Um centro de detenção que acolhe maioritariamente condenados por pedofilia que se aproximam do final da pena. O realizador Guillaume Massart invade este estranho território de câmara em riste e, surpreendentemente, conhece vários homens que estão disponíveis para conversar. Com eles dará longos passeios entre as árvores e à beira mar. Abre-se espaço às palavras, num gesto que não procura a redenção, antes algo bem mais simples: o outro.

Merencória

Caetano Gotardo (realizador da longa O Que se Move, IndieLisboa 2013) repete a estrutura tripartida em Merencória: os casais separam-se e reúnem-se no entrelaçar de uma balada triste.

Krotkaya

Uma mulher deixa de conseguir contactar com o seu marido, que se encontra encarcerado. Com o intuito de saber o que se passa, mergulha numa vila onde a corrupção, a burocracia e violência são o “pão nosso de cada dia”. Inspirado no conto homónimo de Fiódor Dostoiévski, que Robert Bresson já adaptara em 1966 como Uma Mulher Meiga, Sergei Loznitsa encontra um melodrama surrealista que é uma potente parábola política sobre a Rússia de hoje. Com este filme (e Victory Day) o realizador, ao qual dedicámos uma retrospectiva em 2011, prossegue a sua desmontagem das ruínas identitárias do regime soviético.

Mes provinciales

Em 2016, o IndieLisboa exibiu o filme de escola de Jean Paul Civeyrac, La vie selon Luc, aquando da homenagem à escola de cinema, La Fémis. Escola da qual Civeyrac e Claire Simon foram co-directores por mais de uma década. É exactamente sobre a passagem pelo conservatório de cinema que Mes provinciales reflecte. Etienne começa a estudar realização em Paris e lá faz uma série de amigos que irão desafiar as suas ideias do que é, ou deve ser, o cinema. Discussões sobre Pasolini e Sorrentino, traições, amores e invejas: enquanto ferve a febre da juventude. Um filme de extraordinária melancolia sobre a vida e a arte.

Train de vies ou les voyages d’Angelique

Se Les sept déserteurs (filmado em simultâneo e com os mesmos actores e equipa) se inspira nos filmes de guerra de Wellman, Fuller e Godard, Train de vies está algures entre Hitchcock e Lubitsch, no modo como para estes o comboio foi catalisador fundamental das suas tramas (ora thrillescas, ora amorosas). Filmado integralmente sobre carris, Train de vies cruza uma série de personagens que, aos pares (lado a lado ou frente a frente), confessam os seus desejos mais íntimos e as suas memórias mais secretas. Um filme terno e delicado sobre a possibilidade de um encontro. Uma estreia mundial no IndieLisboa.

Waste No.5 the Raft of the Medusa

Em TwoIslands (IndieLisboa 2013), Jan Ijäs problematizava a produção de detritos, desde então iniciou a série Waste. Neste quinto tomo parte-se do famoso quadro do subtítulo para reflectir sobre os barcos dos refugiados que são expostos em espaço museológico.

Wrong Revision

Wrong Revision analisa brilhantemente a introdução, pelos padres franciscanos portugueses, do conceito de diabo, na forma do polvo, na cultura japonesa, e de como os símbolos cristãos se converteram em estratégias de persecução dos cristãos convertidos.

Stay Ups

Stay Ups é uma reflexão sobre a dificuldade de se ser mãe solteira com uma vida sexual saudável: a realizadora, de meia idade, tem um visitante nocturno, mas antes que ele chegue há que ensinar o filho a ficar muito bem escondido atrás do sofá.