“Este projecto foi elaborado como resposta ao assassinato de John T. Williams por um polícia de Seattle. Decidimos realizá-lo quando ouvimos pela primeira vez a notícia de que o agente que o alvejou quatro vezes não iria a julgamento. A ideia era produzir uma obra audiovisual que pudesse ser usada como alerta e despertar a consciência das pessoas e das comunidades que de outra forma nunca teriam sido expostas à morte de William, bem como para a continuada onda de violência contra os povos aborígenes na América do Norte.” (Ehren Bear Witness Thomas)
Secção: Pulsar do Mundo
Arquitectar um local de trabalho é um arte, mostra-nos este documentário. Num futuro próximo, o ideal de escritório não-territorial concretiza-se e as empresas motivam os seus empregados fazendo-os sentir-se em casa e especiais. A arquitectura, fria e imponente, mas liberal, permite circular à vontade e produzir eficazmente. Nos espaços comuns acontecem conversas informais que dão origem às melhores invenções. As entrevistas são matemáticas e enquanto os entrevistados esperam pela avaliação, semi-protegidos pela imensidão do edifício, ouvimos os argumentos dos entrevistadores. Abandonamos o espaço com um plano de uma só vez cativante e perturbador, onde a linguagem binária da decoração nos relembra que somos elementos de um todo, plenos na individualidade que se pode, ainda assim, contabilizar e pontuar como as respostas às perguntas. (Ágata Pinho)
No campo mexicano as crianças começam a trabalhar pequenas. “Los herederos” é um retrato das suas vidas e da sua luta diária pela sobrevivência. Herdaram ferramentas e técnicas dos seus ancestrais, mas também o seu infortúnio quotidiano. As gerações passam e elas continuam cativas do seu ciclo de pobreza herdada.
Observação súbtil da vida quotidiana de dois refugiados da Chechénia a viver em Varsóvia, Polónia ‚ Magomed, de dez anos, e o seu pai Vakha ‚, que acaba por ser uma história sobre o amor humano e a dignidade.” (Marta Prus)
Estruturado no pensamento e análises de intelectuais de renome, este documentário traça um retrato da ideologia neo-liberal e examina os vários mecanismos que costumavam impôr as suas regras em todo o mundo. Mas além da panaceia da mão invisível, o que se está realmente a passar?
No sopé das montanhas do império, uns pescam, outros namoram. O tempo voa. Cigarro atrás de cigarro, reinventamos o mundo. Quando o tempo está bom no outro lado, conseguimos ver o paraíso perdido. É uma miragem?… É tempo de sermos insensatos: o mundo inteiro passa por Calais.
Na estrada do carvão que liga as minas de Shanxi ao grande porto de Tianjin, no norte da China, os motoristas de camiões de 100 toneladas fazem incessantes transportes de e para, dia e noite. À berma da estrada: prostitutas, polícias, gangsters de meia tijela, donos de garagem, mecânicos.
O realizador convence a mulher e os dois filhos que toda a família deve submeter-se a uma dieta de óleo, mas sem desistirem do seu estilo de vida de classe média suburbana. Nesta comédia de enganos, as personagens dão por si a questionar os seus valores e a testarem o poder da vontade e, em última instância, a felicidade.
Patrice Lumumba, eleito primeiro-ministro do Congo na década de 60, foi brutalmente assassinado num dos episódios mais negros da descolonização do país e regressa neste documentário para assombrar a Bélgica, qual herói de uma história que quase parece lenda. Através de encontros, conversas, comemorações e visitas emocionadas, acompanhamos a viagem de um civil belga que estava em Elisabethville na triste data, à medida que tenta exorcizar fantasmas. A Paixão segundo São João de J. S. Bach toca como música de fundo e do enquadramento biopolítico emergem aspectos do poder colonial, questões de dever e responsabilidade e, de um modo especial, as memórias pessoais de uma família. O realizador conduz-nos de uma forma crua, mas poética, nesta visita a um outro lado da Bélgica. (Ágata Pinho)
Esta peça tem lugar nos arredores de Kabul, onde a paisagem está atravancada de detritos com mais de 20 anos. É uma visão sinistra, símbolo da presença dos traumas físicos e psicológicos das guerras que definiam a história do Afeganistão há mais de três décadas.
Um filme que começa por mostrar um Ai Weiwei a tentar perceber as verdadeiras razões para as escolas públicas não terem resistido ao terramoto que assolou Sichuan, e que depois evolui para um confronto entre o artista plástico e as autoridades chinesas e que culmina na sua muito recente prisão. (Rui Pereira)
Em jeito de homenagem ao cinema se constrói um filme em planos fixos que fala de forma acutilante do presente e do suposto progresso, mas com o recurso a imagens e a um tempo de cinema que lembra os primeiros filmes. Uma voz off testemunha os factos, devolvendo-nos questões. E com uma hipnótica cena final. (Miguel Valverde)
Ai Weiwei esteve ligado à concepção do famoso estádio Ninho de Pássaro, construído para as Olimpíadas de Pequim. Mantendo a parceria com a mesma dupla de arquitectos suíços Herzog & de Meuron, Ai Weiwei foi incumbido de conceber uma cidade no interior do deserto da Mongólia. E é assim que nasce o projecto Ordos 100, no qual 100 arquitectos de 27 países foram convidados a desenhar uma vivenda com 1000 m2. Neste filme acompanhamos três períodos de visitas que os 100 arquitectos realizaram ao local da construção. É fascinante ver como aqueles 100 arquitectos se deixam deslumbrar e envolver neste projecto megalómano e como Ai Weiwei mantém a sua bonomia mesmo tendo de lidar com as infantis falhas de organização das entidades oficiais, que são as promotoras do projecto. (Rui Pereira)
É no espírito dos Julgamentos de Nuremberga que o Tribunal Internacional para o Ruanda (ICTR) reúne em Arusha, Tanzânia, no Monte Kilimanjaro. Foi decidido perseguir os responsáveis pelo genocídio do Ruanda em 1994, que assassinaram quase um milhão de pessoas, a maior parte delas da etnia Tutsi, ao longo de três meses enquanto o resto do mundo observava.
A profissão mais antiga do mundo: a prostituição. Ser prostituta vem com uma espécie de franqueza desarmante em relação a outras profissões: nunca se confunde amor com trabalho, por muito sexo que esteja envolvido. O Red Light District é a Meca da prostituição e Luise e Martine Fokkens, duas irmãs gémeas adoráveis, têm mais de 50 anos de experiência. Elas são simples e estão felizes por contar a sua história sem a necessidade de explicações, desculpas ou dramatismos. O filme em si não levanta quaisquer questões morais e elas nunca são vitimizadas. O filme é dado de forma pragmática partindo de um perspectiva optimista e cheia de humor. Estas raparigas são simplesmente adoráveis, elas compram preservativos, consultam as novidades em vibradores, estão actualizados no que toca a todos os brinquedos sexuais de Amesterdão, assim como qualquer dona-de-casa está em relação a equipamentos de cozinha. Elas são tão joviais e aventureiras, espancam os seus clientes, dançam com eles, envolvem-se no jogo dominatrix ‚ elas têm uma vida plena. (Nina Veligradi)
Enquanto viaja pela cidade de Las Vegas e pelo deserto que a rodeia, Las Vegas | Les près analisa a alma de uma cidade real e irreal. Movendo-se de fora para dentro, as imagens de fachadas e os vazios revelam um império de fantasmas e de electricidade. O parque-fantasia-frenesim de diversões de Las Vegas torna-se uma paisagem psicológica de espaços esquecidos, pessoas invisíveis e quilowatts que se multiplicam e enchem o que em tempos costumavam ser os prados do deserto do Nevada. (Benjamin R Taylor)
Leste da República Democrática do Congo. Na região de Kivu, devastada pela guerra, uma mulher debate-se para reconfortar e ajudar as vítimas de um conflito interminável que até agora já custou entre 4 e 4,5 milhões de vidas. A violação é usada habitualmente como uma maneira de destruir as comunidades, as religiões recuam, os exércitos e as milícias governam. Mas, ainda assim, há esperança. Tem que haver. (Karim Shimsal)
Mercado de Futuros abre com um desenho do céu com pontos brilhantes que lembram os planetas e, em seguida, uma voz off descreve como o poeta grego Simonides de Ceos inventou a arte da memória para uso, durante séculos, de filósofos, poetas e arquitectos. A meditação de sonhos e desejos que finalmente se transformam num produto. Um vendedor imobiliário oferece aos potenciais investidores a virtualização de um espaço urbano até com mobiliário, um espaço dos seus pensamentos, tendo sempre em mente o lucro primeiro que tudo. A qualidade de esperanças, ideias e sonhos como valores espirituais foi substituída por bens materiais que nos recordam que nos esquecemos de como se olha para as pessoas e para as coisas. Um documentário brilhantemente composto, com um enquadramento extraordinário da arte de Michelangelo e uma composição pós-moderna dos espaços abertos. (Nina Veligradi)