“Filmando a vida quotidiana de uma criança num berçário, espero fazer surgir um actor de menos de três anos no cinema. Espero tentar criar uma história sem palavras sobre o tempo da primeira infância. Experimentem a tentar filmar o que acontece quando não
Secção: Observatório
Dos vencedores do IndieLisboa’11, vem mais um filme cantado. Desta vez o diálogo é entre um bilionário que não sabe se quer investir em arte e um artista sem dinheiro que o tenta convencer. As grandes questões para que serve a arte e para quem passam por aqui, mas os realizadores dinamitam o processo ao questionar a sua falta de controlo no seu filme. E agora? (MV)
Um pai vive só com a filha adolescente numa zona rural do Québec. A protecção que lhe devota vai ao limite de a isolar e de a privar de ir à escola. O relacionamento entre ambos é frágil, tendo como pano de fundo um inverno rigoroso. Côté assina a sua 5¬™
Filme desenhado em pequenos quadros fragmentados e inventivos com comboios, grandes paisagens, janelas e espelhos. Assim é este quarto a que chamamos céu, uma proposta da cineasta basca Laida Lertxundi, cujas composições fílmicas se desenvolvem através da ressonância emotiva dos sons e da música com paisagens do quotidiano. (M. V.)
Há um lado antropológico em todas as obras de Rivers. Como num livro dividido por capítulos, vamos descobrir neste filme três histórias mitológicas de Vanuatu, uma ilha do sul do Pacífico. A natureza devolve o que expõe. (M. V.)
People in big cities. People in Vienna. Lonely people, whose dogs, rats, rabbits and other pets serve as conversation partners, companions, objects to be cuddled, and bedmates.
Cena inicial: o Homem dos Balões vê-se a braços com uma missão impossível ‚ tem de cuidar de uma série de crianças, cujos pais não apareceram. Inicia um trajecto por Nova Iorque e os balões voam. Cena seguinte: o Balão Preto tem vida própria e quer interagir com as pessoas de Nova Iorque. Como conseguirá ele cuidar de tanta gente? Ele tem um plano. Regresso em força dos irmãos Safdie. (M. V.)
Uma divertida comédia a preto e branco, com Greta Gerwig ‚ co-argumentista do filme ‚ no principal papel. A história, passada em Nova Iorque, é a de uma aspirante a dançarina apaixonada pela sua melhor amiga, sem a atracção sexual. Ou seja, o que resulta é a constatação de que vão ter que crescer e descobrir se conseguem viver um sem a outra. A fotografia, deslumbrante e intrigante, invoca uma espécie de secretismo, como se estivéssemos a asssistir a algo de muito pessoal destas personagens, uma espécie de arquivo sentimental. Transparece em cada plano, com incrível subtileza, um amor genuíno pela cidade e por estas personagens, que têm tanto de perdidas como de inspiradas.
A mulher das Caxinas é um modelo da portuguesa moderna. Esta afirmação contradiz a imagem tradicional de uma peixeira enlutada do Norte de Portugal. Mas foi isso o que descobrimos durante a investigação para este filme. E foi isso que nos encantou. A força romântica e vital daquelas mulheres, capazes de amar e lutar pela vida – delas e dos maridos -, fez com que se lhes dedicasse um filme. E este filme é sobre duas mulheres que têm duas maneiras muito diferentes de corresponder à confiança que lhes é dada e pedida. Porque, para além do retrato das mulheres das Caxinas, este é um filme sobre uma amizade que nasce entre duas mulheres muito diferentes: a mestra Sónia e a actriz Anabela. Sónia é a mestra escolhida para protagonizar o filme, Anabela é a actriz que se infiltra no seu meio para descobrir uma personagem das Caxinas. (João Canijo)
Embora seja contra a pena de morte, Werner Herzog não está deste lado do vidro por complacência nem pretende ser usado como instrumento, avisa imediatamente desde o início. A sua honestidade não impede que, do outro lado, os condenados à morte lhe contem as razões pelas quais estão ali, sem esperança de voltarem a sair vivos dos complexos prisionais que habitam, nos estados do Texas e da Florida. A mini-série em quatro partes, James Barnes, Linda Carty, Joseph Garcia e George Rivas e Hank Skinner, projecto que nasce do anterior Into the Abyss, é uma observação do sistema penal americano e da natureza do ser humano, cruel na sua reflexão. Através de entrevistas com os condenados, as suas famílias, os advogados envolvidos nos processos, as testemunhas dos crimes e os familiares das vítimas, Herzog oferece um panorama completo de cada uma das histórias, sem juízos de valor. A simples apresentação dos factos e a narração das histórias, no seu assustador naturalismo, dá origem a uma inevitável e profunda análise do comportamento humano. (M. M.)
Antes da investida é preciso sentir o peso do corpo. (Sandro Aguilar)
Um homem com sombra caminha, enquanto a sua mente divaga em pensamentos. Este homem pensante segundo Rousseau, precisa do movimento das pernas, precisa de energia para pensar, precisa de energia para criar. Schwizgebel mostra-nos, uma vez mais, através da sua pintura animada, porque é um dos melhores realizadores de cinema de animação de todo o mundo. (M. V.)
Dad’s Stick apresenta três objectos muito usados que o meu pai me mostrou um pouco antes da sua morte. Dois deles são tão ricos em histórias que perderam a sua forma original e as suas funções estão completamente obscurecidas. O terceiro objecto parece ser imediatamente reconhecido mas acabou por ser algo completamente diferente. (John Smith)
Três batimentos. Três andamentos. Três momentos de uma paixão tão avassaladora quanto fugaz. Três risos com gosto. Três cantos para uma eternidade. A realidade é perene, assim como a paisagem em volta. E Lisboa nunca foi tão bonita. Nesta sua primeira experiência na realização, Bonenfant di-lo de forma bem vincada. (M. V.)
Um filme com um plano fixo pode ser um filme de acção? Pode se o realizador tiver a mestria de Kevin Jerome Everson, um cineasta multifacetado e inventivo. Century é um precioso objecto com uma invulgar capacidade analítica. Um carro é esmagado até desaparecer. É possível? É. Sob o nosso olhar de inquietação, a máquina prossegue o seu trabalho de destruição. (M. V.)
Há 15 anos, numa entrevista a David Letterman, Korine dizia, a propósito de Gummo e do seu cinema, que o que gostava de ver nos filmes eram imagens a virem de todos os lados”. Uma tradição à qual se manteve fiel e que explode logo no primeiro plano de Spring Breakers, num banho de cor e de pele tão electrizante como a música de Skrillex que o acompanha. E não é só por isso que Harmony Korine é o mestre das combinações improváveis. Nas mãos deste realizador, todos os adolescentes são seres estranhos com uma forte atracção pelo abismo. O que desconcerta ainda mais aqui é que Korine tenha agarrado em três estrelas pop do universo televisivo infanto-juvenil e as tenha transformado em mercenárias da vontade de James Franco, num brilhante cliché do drug dealer hiper-sedutor. Se é para fazer uma viagem de finalistas, então que seja épica. (M. M.)
E se o maior sonho se transformasse no pior pesadelo? Um homem mantém conversas no chat com uma mulher. Simpatizam um com o outro. Marcam um encontro num café. Ela aparece, mas vem acompanhada. Ela é Angela Merkel. Ele não sabe o que dizer. Ela fica descontente. Ela não tem paciência. O conhecido animador Jochen Kuhn dá-nos mais um domingo admirável. (M. V.)
Há momentos suspensos no tempo, como este que Paul Clipson nos dá: À noite, a cidade mostra-nos paletes saturadas de cores (…) Este grupo de objectos encontrados convergem numa série de planos que se entrecruzam, originando novas composições e dando uma visão alternativa do dia-a-dia. (M. V.)