Amadeu não só foi um grande pintor, mas um artista total. Apanhado na ratoeira do país onde nasceu, pelo tempo de destruição em que viveu e por si mesmo, teve uma vida curta e não lhe foi consentido o reconhecimento internacional que poucos artistas portugueses podiam ter tido.
Secção: Observatório
Há muito que o colectivo Flatform faz parte da memória do IndieLisboa. Movimenti traz-nos uma sucessão maravilhosa de acontecimentos meteorológicos que fazem parte de um onírico plano sequência. Um quarteto de cordas cria ambiências sonoras específicas para cada estado de tempo. O som de Ravel perdura mesmo depois de o filme acabar. (Miguel Valverde)
“Este é um filme sublimação de notas, aguarelas e diários de viagem. Em 1989-90 filmámos os últimos sobreviventes dos movimentos de vanguarda russos dos anos 20 e 30 em Leningrado, São Petersburgo, cidade de Osip Emil’evic Mandel’≈°tam, autor do poema Viagem à Arménia. O filme é um fragmento de um vasto fresco gravado durante a queda da União Soviética, com os retratos das últimas testemunhas de uma grande história que ninguém registou e que agora estão mortos. (Yervant Gianikian, Angela Ricci Lucchi)
Há muito tempo que sonhava retratar Camargue, a forma como sinto a sua essência e a forma como é habitada. É um território incerto e incompleto, ainda em formação. […] Como tornar esta paisagem palpável, ainda que isso seja ilusão, mantendo a sensação de inacessibilidade, a sua dimensão invisível, aqueles momentos de imperceptibilidade dos sons e das imagens que são trazidas e levadas pelo vento?” (Khristine Gillard)
De Klahr conhecemos o trabalho inventivo de colagem e de subversão da animação tradicional. Neste videoclip que constrói para Gabriel Kahane (álbum: Where are the Arms), vemos perpassar na imagem o tom melancólico e pessimista do som para ganharmos um conjunto admirável de síntese. (Miguel Valverde) “Na minha visita a Lisboa e ao IndieLisboa, há alguns anos, comprei algumas revistas antigas que tinham foto-romances. O protagonista deste filme saiu de algumas fotografias usadas nessas páginas”. (Lewis Klahr)
Kali é a história de um rapaz que sonha com um lugar ao sol mas é na sombra que encontra a luz que procura. É o ultimo capitulo de uma trilogia e o resultado de uma reflexão sobre os temas e as estéticas que me têm inspirado: a infância e os seus os medos, a diferença, a solidão, a luz e a sombra. No fundo, é a reconciliação com a infância, o aceitar ser adulto, deixar de fugir dos medos e conseguir vê-los de outro angulo. (Regina Pessoa)
Homenageado na secção Herói Independente do IndieLisboa 2009, Werner Herzog está de volta com o seu mais recente trabalho, um documentário que, através de conversas com o jovem assassino Michael Perry, dias antes da sua pena de morte, e com todos os que foram afectados pelos crimes que cometeu ‚ os seus familiares e os familiares das vítimas, nos leva a reflectir sobre o acto de matar. Herzog examina de forma inteligente os vários pontos de vista em torno dos crimes que foram cometidos – o de quem matou e é condenado à pena de morte, o de quem chora a perda dos seus familiares assassinados, o de quem registou e investigou a cena do crime, o de quem, cumprindo a lei, executou a pena. Questionando o acto de matar ‚ ilícito ou a mando da lei ‚ Into the Abyss torna-se ele próprio um filme-inquérito, que tanto interroga o assassino como a pena que o condena. (Catarina Cabral)
13 pinturas de Edward Hopper ganham vida num filme que conta a história de Shirley, uma mulher cujo olhar, pensamento e emoções nos conduzem ao contexto histórico norte-americano dos anos 30 aos anos 60. Realizador de Film ist. A Girl and a Gun, que o IndieLisboa exibiu em 2009, Gustav Deutsch mergulha a fundo na estética das obras de Edward Hopper para a recriar no cinema, com um filme absolutamente maravilhoso, a fazer de forma feliz o cruzamento da pintura com a imagem em movimento. A obra de Hopper, ela própria influenciada pelo cinema, tem inspirado cineastas como Wim Wenders ou Jim Jarmush. É ela o mote estético para o filme de Deutsch, que dá vida às personagens e aos lugares retratados pelo pintor, sem descurar nenhuma pincelada. As sombras estão lá para recriar os ambientes, mas também o movimento de uma cortina, os reflexos de luz e os sons, levando à íntima relação dos planos interiores com os exteriores fora de campo. (C. C.)
Poema visual musical, em que Sakda nos diz quem é enquanto o seu som se espalha pelo caudal do rio Mekong. Em cada plano deste pequeno filme se sente a pulsação deste cineasta único ‚ Joe, cujos fantasmas de olhos vermelhos nos acompanham através de uma experiência sensorial cinematográfica. (M. V.)
Terceiro de uma série de cinco filmes intitulada Compound Eyes, encomendados pelo San Francisco Exploratorium. Mais do que um filme de carácter científico, este filme experimental leva-nos a uma viagem macroscópica ao mundo da polinização de moscas e borboletas num tom transcendental e alienígena. (Rita Figueiredo)
Um trintão com problemas de crescimento apaixona-se por uma trintona com problemas de crescimento, mas sair do seu quarto, típico de um aluno de liceu, é demasiado para ele e a tragédia acontece.
O primeiro filme de uma trilogia que é, pode dizer-se, sobre o amor. Desesperado, em Love, obsessivo, em Faith, ingénuo, em Hope. Nas três partes existem outros elementos de ligação. Não é só a das três protagonistas, o laço familiar, mas o mesmo sentido cáustico que vem do anterior cinema de Seidl, o mesmo prazer de operar sobre o grotesco sem piedade. No desespero de se sentir atraente, Teresa quer que a olhem nos olhos enquanto lhe mexem no corpo e esquecer-se que o faz a troco de milhares de xelins a poucos passos de um resort queniano. Na praia, os geométricos planos dividem turistas e locais, como a corda que separa o território de uns e outros, e que poucos se atrevem a cruzar. São justas as evocações de Rubens. É algures entre a carne e as cores que Seidl posiciona o jogo da presa e do caçador, e diverte-se a mudá-lo de direcção sempre que lhe apraz. (M. M.)
Se para Teresa o paraíso seria ter um amor terreno, para a sua irmã, Anna Maria, a felicidade suprema tem de vir da fé. Radiologista durante o dia, no tempo que lhe sobra empenha-se na missão de evangelizar almas perdidas – um casal que vive em pecado, uma alcoólica e outros seres humanos sem rumo. Através da abnegação total dos prazeres carnais, da penitência diária, da tentativa de conversão dos hereges”
A arte enlouquece-me é a forma como começa este retrato perspicaz do artista contemporâneo e coleccionador Chong Gon Byun. Marie Losier, com a sua câmara de 16mm e toda a sua originalidade e forma instintiva de fazer cinema, cria um stop motion brilhantemente maduro e ao mesmo tempo ingénuo sobre o consumismo, onde os seres humanos e os objectos co-existem num mundo de sonho, de bonecas e fadas. (Nina Veligradi)
Depois de Curling, exibido no IndieLisboa 2011, Denis Côté volta a surpreender-nos com mais um filme extraordinário, a comprovar que a sua filmografia é a de um cineasta absolutamente incontornável. Bestiaire é um documentário que observa os animais num parque zoológico e a relação destes com o espaço onde estão e as pessoas, à medida que as estações do ano passam. As imagens de uma estética contemporânea apurada fazem deste filme uma obra maior, a que apetece voltar. Imagens que nos levam a reflectir sobre o acto de observar e ser observado. (Catarina Cabral)
Pablo Larraín recria a histórica campanha que disse ¬´não¬ª a Pinochet no plebiscito de 1988. Um Larraín distante de Tony Manero ou Post Mortem, então negro e impenetrável, aqui colorido e com uma energia contagiante. Exímio no look retro, atinge o clímax com o fabuloso videoclip que transborda arco-íris envolto em lycra, onde todos cantam a democracia. Não e Sim em luta aguerrida, numa campanha que, se não estivesse ligada à história de um povo tristemente rendido, seria hilariante. René Saavedra (Gael García Bernal) é o cabecilha da operação publicitária que vendeu ao povo o produto democracia como sinónimo de felicidade. Enquanto luta atrás da secretária, tenta recuperar o respeito da ex-mulher, ela sim, uma voz activa nas ruas de Santiago. Larraín captou na perfeição o espírito da época, como Saavedra captou a atenção dos chilenos. O passado de uma maioria serena, moldável, com medo do exercício da sua vontade. (M. M.)
Johann é vigilante no Museu de História de Arte em Viena. As suas horas de trabalho fazem-se da observação discreta e atenta dos visitantes que atravessam as salas do museu e se detêm diante das obras de arte expostas. Johann depara-se com a presença enigmática de Anne, uma visitante estrangeira que veio de emergência a Viena ver uma pessoa amiga hospitalizada, e que, sem conhecer a cidade, procura refúgio no museu. Um filme sensível e inteligente sobre o cruzamento algo misterioso entre a vida, os espaços e as obras de arte, aberto a tantas leituras quantas se queiram fazer. Realizador dos conhecidos Benjamin Smoke (2000) e Chain (2004), Jem Cohen conta com uma sólida e versátil filmografia de curtas e longas-metragens. A sua curta experimental Smells Like Teens Spirit esteve no IndieLisboa, em 2008. (C. C.)
O corpo é o objeto deste filme. A dimensão exagerada que se interpõe entre o que se sente e o que se faz. Um gigante atraído por uma mulher de pequenas dimensões faz o que pode para fazer funcionar esta relação. Mas por vezes, a força bruta não ajuda. Outras, sim. (Possidónio Cachapa)