Journey to the West, de Tsai Ming-liang acompanha um monge budista que caminha pela cidade de Marselha a passo de caracol, no meio da indiferença de quem passa. A lentidão e o cuidado de cada passo parecem não levar o monge a lado nenhum e desafiam a paciência tanto do que caminha como de quem vê passar, mas o trajecto visa a busca de uma paz interior apenas possível quando se escuta o corpo a cada passo; e no meio do barulho da cidade há um homem que o segue (interpretado por Denis Lavant) que, qual discípulo, imita os seus passos e parece encontrar aí um sentido para a vida.
Secção: Observatório
Em Livepan, virada para o espectador está uma senhora atrás de uma tábua de engomar, de um ferro e de uma pilha de roupa. Olha para nós e depois passa e dobra a roupa como por magia.
Farto da rotina que tomou conta da sua vida, Takafumi, um vendedor de mobiliário, pai de um filho adolescente e casado com uma mulher em estado vegetativo, resolve assinar um contrato indissolúvel, por um período de um ano, com um serviço de seis experientes dominatrix que, de modo aleatório, o deverão atacar durante esse período. Cada uma delas tem uma qualidade específica e a regra é ser submisso e não lhes tocar de modo a poder, no final, alcançar uma revelação de si mesmo. Ao retirar cor ao filme, e com uma montagem sonora que acentua a bizarria das cenas, o realizador Hitoshi Matsumoto (Symbol) cria um universo excêntrico, cheio de humor e violência, que faz justiça ao seu raro dom para o absurdo e permite descrever este R100 como uma espécie de film noir meets Zen S&M.
Em 1912, Arnold Schonberg compôs Pierrot Lunaire a partir da colecção de poemas com o mesmo nome, escritos pelo belga Albert Giraud; em 2011, o maestro Premil Petrovic convidou Bruce LaBruce para dirigir uma versão teatral de Pierrot Lunaire baseada na noção de cabaret do compositor austríaco; em 2013, Bruce LaBruce leva Pierrot Lunaire para as ruas de Berlim e, ao som da interpretação que Petrovic faz da música de Schonberg, filma uma história de desejo, amor e transgressão, em que uma mulher vestida de homem seduz uma jovem rapariga que não imagina que o amante é na verdade uma amante.
Sleeping Image é um filme intimista que em 25 polaróides percorre pessoas e paisagens que se encontram numa espécie de sonho; num movimento fluído e contínuo, o filme abre caminho através de um mundo hostil e fascinante, onde a violência e o sofrimento coexistem com a esperança e a resiliência.
Três locais diferentes de prostituição: Tailândia, Bangladesh e México. A primeira parte passa-se num bordel-aquário onde as prostitutas estão sentadas atrás de um vidro iluminado, como modelos prontas para uma passerele, à espera que os clientes as escolham. A prostituição na Tailândia é uma rotina diária, um serviço ao cliente, uma empresa de entretenimento que contrasta com as duas outras cidades. Em Bangladesh, as mulheres vêem o seu trabalho como um serviço social: se não prestassem os seus serviços, os homens estariam a violar mulheres nas ruas. Elas sacrificam a sua dignidade todos os dias por dinheiro. No México, vemos a profissão ser literalmente glorificada, enquanto Glawogger filma uma prostituta a trabalhar. Imagens maravilhosas e excepcionalmente editadas, acompanhadas pelos sons de PJ Harvey e Cocorosie, constituem uma tela voyeurista da profissão mais antiga. (Nina Veligradi)
O tempo: mesmo antes da Revolução Francesa de 1789; o herói: Louis Mandrin, um fora-da-lei famoso pelo contrabando fora das fronteiras francesas. Ele é capturado e executado e os seus companheiros, governados financeiramente pelo aristocrata idealista Marquês de Levezin (Jacques Nolot), começam uma rede subterrânea para divulgar poemas e canções de Mandrin. Um drama de época, uma representação de um período da História distante e ainda assim muito contemporâneo, repleto de poesia num espaço aberto único onde o cinema se reúne com a História e a Política. Ladrões, assassinos, poetas, rebeldes e guerreiros vingativos significam o início da Revolução Francesa, com o seu espírito intenso e progressivo. A necessidade de liberdade é evidente ao longo do filme, não só pelo seu lirismo brutal, mas também pela paisagem grosseira francesa que se torna ela própria uma personagem. (Nina Veligradi)
No seu trabalho mais recente, Nicolas Philibert filma animais tendo como pano de fundo extractos lidos a partir da obra “L’Essai sur l’origine des langues” de Rousseau, que questiona o papel social da linguagem e as suas origens.
Figura chave do terrorismo internacional dos anos 70 e 80, Carlos, “o Chacal”, foi simultaneamente associado à extrema-esquerda e considerado um mercenário oportunista ao serviço dos serviços secretos de governos asiáticos. Aliando-se ao activismo pró-pal
Filme a preto e branco rodado em 16mm, onde Todd, através da dupla exposição da película, alcança a delicadeza de uma poesia visual próxima da abstracção. O seu forte contraste entre luz e sombra, entre a textura da imagem e a subtileza do som, transporta
Inserido no projecto “Civic Life” (IndieLisboa 2009), este novo segmento entrecruza histórias num mosaico quadrangular, onde cada um necessita erguer a sua própria voz. Leo e Veronica têm algo a contar, a Avó tomou uma decisão e a neta precisa de inspiraç
Uma série de planos fixos milimetricamente escolhidos e um desenho sonoro que acompanha o dia-a-dia da população de Nicósia (Chipre) são o ponto de partida para “Flag Mountain”. A pouco e pouco, e de forma contundente, emerge a bandeira turca na montanha
2008. Qingtian, Zhejiang, República Popular da China. Uma pequena cidade rural de imigração para a Europa. Jin Wang Ping é um rapaz a quem chegou a vez de abandonar a sua cidade. Confrontado com esta perspectiva, e com este processo de emigração, procurará os conselhos de terceiros.
Anne tem um problema no apartamento: ele treme. Um dia decide resolver a questão de raiz e parar com as pequenas soluções caseiras que evitam as vibrações dos objectos que a rodeiam. Como num documentário, vamos descobrir sob a forma de entrevistas, vizin
Se acreditarmos tanto na nossa fé a ponto de passarmos as piores provações da nossa vida – chegando mesmo a pô-la em risco – o que acontece, então, quando encontramos o bom selvagem e ele se oferece para nos ajudar? O regresso de Kelly Reichardt ao Indi
Através de uma sequência inicial de rigorosos e misteriosos planos fixos, Seabra Lopes e Akerman introduzem-nos uma deliciosa comédia cosida com música clássica. O poeta é Goethe, o músico é Schubert. Os três alunos não estão pelos ajustes com o rigor da
Um filme perturbador sobre os demónios interiores de cada pessoa. O efeito “olhos vermelhos” registado em algumas fotografias transforma-se aqui no leitmotiv de uma história que oscila entre a ternura e o terror puro. Um filme de atmosfera. E nem por isso
Ao som de uma ária de Shostakovich, este ensaio de Jay Rosenblatt acompanha um homem velho numa viagem através daquilo que poderia ser a sua memória. Arquétipos de felicidade na infância, de normalidade na vida adulta e por fim, na velhice, de consciência