Corte

A morte da rainha deixou a corte vazia de presenças femininas durante vários anos. Entre uma chávena de chá e uma ironia tão fina quanto a ponta de um sabre, Corte é um jogo de xadrez envolvendo um assassinato e um nascimento, uma luta pela sucessão ao trono.

Em “Corte”, os gémeos Rapazote lançam o tradicional filme histórico às urtigas. Uma intriga palaciana, o “whodunnit”, um conjunto de actores magistralmente dirigido, um argumento muito bem escrito e diálogos de se tirar o chapéu, esta dupla faz tudo bem e arrisca ser um caso muito sério no cinema português. Desde há mais de 10 anos que quem tem estado atento aos cineastas saídos da ESTC, sabe que é deles o futuro do cinema em Portugal. E estes gémeos temerários oriundos de Viseu, fazem do impossível a sua normalidade. (Miguel Valverde)

 

A Chuva Acalanta a Dor

“Quanto pesa uma nuvem?”, pergunta Lucrécio. O filósofo romano vê o seu desejo afectado pelo desespero, habitando o abismo entre a ciência e a magia. Baseado num conto de Marcel Schwob, Mouramateus cruza, com ironia, o clássico e o contemporâneo.

O simbolista francês Marcel Schwob escreveu, entre uma série de outros pequenos contos semiautobiográficos, sobre o poeta e filósofo romano Lucretius. Nesta adaptação anacrónica desse conto, a natureza humana é o alvo óbvio da filosofia em tela, mas é a maneira como é criada a teia desta narrativa cinemática que surpreende pela forma como nos aproxima do que nos mostra: não apesar de, mas devido ao seu artifício. (Ana Cabral Martins)

 

A Dança do Cipreste

A dupla Francisco Queimadela e Mariana Caló (A Trama e o Círculo, 2015 e Sombra Luminosa, 2018) realiza esta viagem sensorial, entre o documental e a imaginação. Um encontro com a natureza, o contacto e o afecto, o movimento de um círculo familiar.

Corpos, natureza, flores, bichos, a luz e a noite, acordam uma narrativa de desejo e sonho. Um filme que paira sobre as coisas, aproxima-se delas, toca-lhes… um filme de gestos, de mãos, melancólico e agitado. Personagens adormecidas e despertas movem-se numa depurada paisagem de límpidos e obscuros desejos; Valéry e Bataille, amor e erotismo e a bravura do pensamento. E mais fantasmas e espelhos ancestrais de água que recolhem imagens. Um filme que fulgura, atmosférico, musical, encantatório. (Carlota Gonçalves)

 

A Rainha

No Oeste de Portugal surge subitamente uma mulher misteriosa. Todos a tinham visto, mas ninguém sabia quem era. Mãe, fada, anjo, dona de uma vinha? Com recurso a depoimentos e imagens de arquivo, Lúcia Pires (Fauna, 2018) questiona a efabulação e a existência sem prova.

“Era noite, a terra tremeu, uma bola enorme que girava como um disco e lá dentro uma figura de uma mulher”. Um dia há muitos anos uma mulher surgiu num lagar de um produtor de vinho e abençoou esse mesmo produtor com a sua melhor vindima. Quem será esta mulher sem nome cuja descrição ficou perdida no tempo? “A Rainha” é um filme sobre a veracidade dos contadores de histórias, uma reflexão e exercício sobre a sua própria forma enquanto filme. (Rui Mendes)