Edgar Pêra foi Herói Independente do festival em 2006 e já nessa altura os “Arquivos Kino-Pop” estavam bem apetrechados. Desde dos anos 1980 o ‘Homem-Kâmara’ vem recolhendo imagens do mundo em cine-diários que, muitas vezes, tendem para a música. Um registo inédito desse repositório inclui uma performances incrível de Manuel João Vieira (Ena Pá 2000, Irmãos Catita e Corações de Atum). Uma oportunidade única de viajar no tempo e assistir a um dos momentos em que a história da música portuguesa se fez, em cima do palco!
Secção: IndieMusic
Quem ouviu falar de Karen Dalton? Cantora lendária com uma voz de tirar a respiração, é uma das musas esquecidas dos anos 1960 que influenciou vários artistas da folk como Bob Dylan, Fred Neil ou Dino Valenti. A realizadora Emmanuelle Antille embarcou numa viagem pelos EUA, do Colorado a Woodstock, para melhor compreender o processo criativo desta mulher que sempre fugiu da ribalta (existem muito poucas imagens suas) e que nunca encaixou nas gavetas onde a queriam arrumar. Quando muitos artistas têm três dimensões, ela tinha quatro: a espiritualidade, o negrume da obsessão.
Pop Dell’Arte, Mão Morta, Telectu, Sei Miguel, Mler Ife Dada, Croix Sainte, Anamar… Na segunda metade dos anos 1980, a Ama Romanta, editora de João Peste (o carismático vocalista dos Pop Dell’Arte), era a alternativa no mundo da música portuguesa. Criada com o objectivo de lutar contra a censura camuflada de rádios e editoras, eram um movimento «de vanguarda face a um mercado discográfico atrofiado pela miopia cultural e pela obsessiva maximização fácil do lucro.» Este documentário, realizado por Vasco Bação, recorda esse momento marcante da música portuguesa que, como afirmou, anos mais tarde, João Peste, «era um projecto suicida à partida.»
Eram os anos 90 e uma série de miúdos passava as manhãs a ouvir Mobb Deep, Wu-Tang Clan, Cypress Hill ou De La Soul, e as tardes a construir as suas próprias batidas. Assim nasceu o movimento do hip hop português. Não Consegues Criar O Mundo Duas Vezes de Catarina David e Francisco Noronha (crítico musical do jornal Público) centra-se no eixo Porto-Gaia e organiza um monumental documento sobre um período marcante da música nacional. Para isso convocaram pioneiros como os Mind da Gap ou os Dealema, que recordam uma época em que a amizade gerava criatividade, e vice-versa.
Studio 54 é considerada a “melhor discoteca de todos os tempos”. Aberta no dia 26 de Abril de 1977 (e encerrada apenas 33 meses depois, por evasão ao fisco) o seu legado ficou marcado a sexo e drogas na história de Nova Iorque. Um espaço mítico pela máxima liberdade que permitia (no rules), cujo fim coincidiu com as primeiras mortes associadas à pandemia da SIDA e o início da administração Reagan. Studio 54 conta a história das celebridades e da atmosfera do clube, mas também dos dois amigos que alteraram o panorama do entretenimento nocturno da cidade que nunca dorme.
Se no documentário anterior o realizador escocês Grant McPhee se tinha focado nas produtoras independentes e na cena indie de Edimburgo nos anos 70 e 80, em Teenage Superstars o foco desvia-se ligeiramente no tempo e na geografia: estamos em Glasgow e os anos 90 estão a começar. O espírito de revolta sente-se pelas garagens do subúrbio e deste caldeirão nervoso e energético surgem (a partir da produtora Creation Records) nomes como The Vaselines, Teenage Fanclub, The Jesus and Mary Chain e Primal Scream. Teenage Superstars, narrado pela baixista dos Pixies, Kim Deal, descreve um momento inesquecível da música indie.
Ao longo de uma carreira de mais de quatro décadas, Ryuichi Sakamoto passou de ícone pop do Japão ao mais importante activista contra a utilização de energia nuclear, após o desastre de Fukushima. Uma carreira que inclui um Óscar, pela melhor banda sonora de O Último Imperador, tendo composto também para realizadores como Nagisa Ôshima, Pedro Almodóvar ou Alejandro Iñarritu. Na sequência de um cancro, o músico regressa ao trabalho (com consciência que talvez seja esta a sua derradeira obra) e o realizador Stephen Schible oferece-nos um retrato íntimo do homem e do seu processo criativo.
Mathangi “Maya” Arulpragasam – mais conhecida por M.I.A. – é provavelmente a estrela pop mais transgressiva dos últimos tempos. Originária do Sri Lanka (sendo o pai membro fundador dos Tigers Tamil, a mais letal organização terrorista do país), o seu percurso é descrito pelo realizador (e amigo, desde 1996) através de uma colecção de material de arquivo, a maior parte filmado pela própria Maya (ela que, antes da música, queria ser documentarista). Matangi/Maya/M.I.A. retrata uma mulher que é um terramoto musical, mas também, político: sempre pronta a pôr em causa todas as formas de conservadorismo.
Milford Graves é uma lenda viva, um guru da criatividade com uma carreira com mais de 50 anos. Fundador e pioneiro do movimento do jazzavant-garde, o percussionista vive numa casa que é meio dojo de artes marciais, meio laboratório para música experimental. A dupla de realizadores (o músico Jake Meginsky e o artista visual Neil Young) constrói um filme que reflecte a aura do seu protagonista, misturando performances arrebatadoras com momentos de intimidade. O resultado: uma visão cósmica e visceral de um artista que procura fazer música segundo os ritmos orgânicos e irregulares do seu próprio coração.
As L7 foram a grande influência do movimento feminista punk underground Riot grrrl. A banda, fundada em 1985, foi um dos nomes maiores do grunge. Composta totalmente por mulheres, a sua relação com a indústria musical foi sempre complicada, apesar do sucesso e popularidade. Pretend We’re Dead é um passe VIP aos bastidores de uma época, composto por filmagens vídeo nunca antes vistas, algumas das performances mais extraordinárias do grupo e inúmeras entrevistas. Um história de ascensão e queda (a banda termina em 2001) e posterior redenção (reúnem-se em 2014) daquela que foi a banda pioneira do rock no feminino.
A música electrónicafrancesa é um dos fenómenos populares mais marcantes dos últimos 20 anos. Partindo das origens americanas do techno e do house e passado pelo tempo das raves ilegais, French Waves procura descrever o french touch que transformou a música electrónica num movimento global. Mas este não é um mero documentário, é o primeiro objecto transmedia dedicado a este tema: composto por um filme, uma série, uma tourné e um site imersivo que ilustram décadas de história. Inclui a participação de dezenas de artistas,dos mais consagrados às grandes revelações mais recentes como Laurent Garnier, Jacques, Pedro Winter, Rone, Breakbot, Bob Sinclar ou o americano Carl Craig.
Em 1976, na cidade de Londres, surgia uma banda de raparigas adolescentes (a vocalista – e alma da banda –, Ari Up, tinha apenas 14 anos), as The Slits. Pioneiras do subgénero punky reggae, elas formaram um movimento feminista que vinha para destruir o status quo estético e social. Tomadas por uma energia disruptiva, donas de personalidades idiossincráticas e quebrando todas as regras, a sua música acabou por nunca chegar ao grande público. Here to be Heard: The Story of The Slits corrige essa falha, traçando o percurso e importância histórica do grupo que terminou, em 2010, aquando do falecimento de Ari Up.
Em Hip to da Hop a dupla de realizadores António Freitas e Fábio Silva percorre o território português à procura das diferentes manifestações da cultura do hip hop, focando-se nas quatro vertentes principais do movimento: o rap, o DJ, o breakdance e o graffiti. Do sul às ilhas, passando pelo microclima do Porto, este é um documentário que procura compreender de que modo cada artista “se apropria do seu país de diferentes formas”. Inclui dezenas de entrevistas a nomes maiores do panorama nacional, entre eles, Mundo Segundo, Orelha Negra, NBC, Slow J, DJ Ride, Stereossauro, Bdjoy, TNT, Sanryse ou Sensei D.
Estamos na década de 1980, no estado de Los Angeles, no meio do deserto e, de repente, encontramos um evento de música e performance clandestino e anarquista. Desolation Center conta a história de uma série de happenings em modo guerrilha que eram a resposta idealista aos anos de repressão do governo Reagan. Um documentário que mistura animação, entrevistas e raras imagens de arquivo (de, entre outros, Sonic Youth, Minutemen, Meat Puppets, Savage Republic ou Swans) para demonstrar o risco e a falta de sensatez daqueles amantes do punk e da música industrial.
Em 1997, os ouvidos do ocidente receberam, pela primeira vez, a rica musicalidade da Etiópia através da série de CDs Éthiopiques (já no 30.º volume). Revolt of the Soul conta a história do jornalista de música que organizou a famosa série, e do seu produtor, que entre 1969 e 1975 fez 120 singles e 14 álbuns. Mas isto aconteceu quando o imperador Haile Selassie tolerava a mistura dos sons africanos com os géneros ocidentais (soul, funk, rock, jazz). Tudo mudou com o golpe militar de 1974, que impôs o brutal regime Derg. A história de uma nação e da sua música, contada a partir da batida dos que resistiram à opressão.
A rainha do funk, Betty Davis, alterou o paradigma artístico para as mulheres. Como disse Miles Davis, “ela foi a primeira. Madonna antes de Madonna”. Betty escancarou as fronteiras bem delimitadas dos anos 70 com a sua ousada personalidade, estilo icónico e som arrebatador. Apesar de banida e boicotada, foi a primeira mulher negra a cantar, escrever e produzir as suas próprias músicas. Pioneira feminista e inspiradora como nenhuma mulher fora antes, este é o retrato de um percurso com origens humildes que termina na incompreensão.
Em 1976 quatro rapazes da Manchester pós-industrial foram ver os Sex Pistols. Formaram uma banda, Joy Division. Três anos depois era uma questão de arte, de vida e de morte. 30 anos depois têm um legado que ecoa furiosamente no actual carreirismo da indústria musical e na ultra-mediada cultura pop. Contando com a participação inédita dos membros sobreviventes da banda (actualmente conhecida como New Order), o filme examina a história da banda.
Como líder dos Clash desde 1977, Joe Strummer mudou a vida das pessoas para sempre. Quatro anos depois da sua morte, a sua influência é mais forte do que nunca. É revelado não só como uma lenda ou um músico, mas como um verdadeiro comunicador dos nossos tempos. Retratando tanto a partilha por ambos da história do punk como a sua relação pessoal de amizade, o filme de Temple é uma celebração de Joe Strummer ‚ antes, durante e depois dos Clash.