Por vezes fica-se com a sensação de que a música que passa nas rádios é toda igual, um produto industrial criado em laboratório para optimizar o consumo. Em “Parallel Planes”, a realizadora Nicole Wegner organiza um documentário ensaístico sobre a independência no mundo da música, retratando 12 músicos norte-americanos de diferentes géneros. Entre eles, Michael Gira (Swans), Ian MacKaye (Minor Threat, Fugazi) ou Jamie Stewart (Xiu Xiu). Um filme que encara a música como ferramenta para criticamos a política e a sociedade, mas também como forma de nos ligarmos uns aos outros.
Secção: IndieMusic
A cineasta Inês Oliveira vai buscar a canção à maquete dos Rollana Beat de 1998 e transporta-a, subvertendo-a, para o abrigo quente mas populoso do metropolitano de Londres durante o Blitz de 1940-1941. Enquanto as sucessivas imagens a preto e branco relatam a possibilidade de concórdia por baixo da terra e dos bombardeamentos nazis, o riso nervoso da voz que persegue Jack devolve-nos a neurótica e instável realidade.
“John and Yoko: Above Us Only Sky” conta a história desconhecida de como a música ‘Imagine’, de John Lennon, foi criada. Editada em 1971, esta canção, que se tornou ícone de paz e do respeito entre culturas, esconde uma bela história de amor. Com base na demo original da música (que nunca tinha sido ouvida antes) e em entrevistas inéditas do ex-Beatle, este documentário descreve o modo como a relação de John e Yoko Ono os levou a uma profunda exploração artística e política. Como diz a artista japonesa, no filme, «No fundo, eu e o John encontrámo-nos para fazer esta canção».
Para o cineasta Edgar Pêra, a sua viagem à China, filmada em Super8 colorido, “My Trip to China”, reflectiu-se nos instantes de escadarias em movimento, de ruas que se atravessam a passo lento e bicicletas perpendiculares às passagens de peões. Também no circular parado da multidão nas cidades proibidas, dos anúncios luminosos, do sol vermelho que se deita. Até o som de ‘Just What the Doctor Ordered’ (‘Murdering the Classics’) é distendido, distorcido, quase parodiado, pela voz sincopada da língua chinesa.
Viktor Tsoi foi um dos músicos que co-fundou a Kino, uma das bandas mais populares e musicalmente influentes da história da música russa. O realizador Kirill Serebrennikov baseia-se na vida (pouco conhecida) do cantor para nos transportar para os verões quentes dos anos 1980, em Leningrado, quando ouvir Sex Pistols, Clash ou Blondie era ilegal na União Soviética. Um filme que descreve os encontros, confrontos e paixões que mudaram a história do rock na Rússia. “Leto” foi considerado, pela reputada revista Cahiers du cinèma, como um dos melhores filmes de 2018.
O ilustrador Gonçalo Duarte liberta a banda desenhada sobre a animação do cinema, inverte as cores e transforma a tela numa ardósia onde as linhas desenhadas sugerem o giz agreste da infância. As vozes múltiplas, um caixão e um telefonema que se evade pela janela. Sobre a mancha que desvanece e transforma a cobra em pássaro, a flor em ruído urbano. O negro como princípio vital do ritmo.
Tudo começou com John Coltrane, Ornette Coleman e o génio do piano, Cecil Taylor, cujos grupos tonais pouco ortodoxos e a libertação das regras da harmonia estabeleceram uma nova linguagem musical. Foi a revolução do free jazz, e “Fire Music” conta a história deste momento revolucionário. Tom Surgal foca-se no chamado Grupo de Chicago (Albert Ayler, Eric Dolphy, Sam Rivers, Sun Ra & His Arkestra), descobrindo imagens de arquivo reveladoras e testemunhos tocantes. Um tributo livre e selvagem como o free jazz já merecia. Em estreia internacional no IndieLisboa.
A vida não anda fácil para quem chega do espaço cideral cheio de boas intenções e com um carrinho azul na mão. O planeta está cheio de big brothers de olhares cruzados e vermelhos. Um spectrum game de onde é difícil escapar. O melhor é sintonizar o ecrã e regressar ao firmamento. Dedo Mau prefere as cores primárias para se evadir no interior do cinema de animação, programático mas delirante, dentro da faixa extraída de ‘Big Sneeze’.
A abstracção gárrula do filme que Bruno Borges executa sobre a trama musical sincopada, quase histérica, quase bruta, de ‘Garland’ (‘Murdering the Classics’), é provocadora de uma sintonia dicotómica e sincrética que ocupa todo o espaço criativo da visão do espectador. Digamos, toda a violência que um adulto pensa estar envolvida na ideia infantil do super-herói. Ou seja, o adulto infantil, a preto e branco. O riso e o medo.
Nem Olivia Newton John, nem Jane Fonda. A cineasta Leonor Noivo justapõe a um certo blue mood do tema ‘Dopping’ os nove exercícios (e um tanto) para classes de exercício físico a serem visionados no pequeno ecrã. Uma aeróbica que tem tanto de soviética quanto de libidinosa. Curtas cenas vindas das secções televisivas com o físico dos modelos a olhar-nos nos olhos enquanto a mira técnica se sintoniza em pose anacronicamente lenta e colorida.
O universo das guitarras amplificadas e do som distorcido é um meio maioritariamente masculino. Mas se escutarmos melhor e com mais atenção, a história é outra. Dos anos 1950 até à actualidade, a realizadora Francisca Marvão abre o baú dos testemunhos vivos e dele começam saltar imagens e sons que nunca antes haviam entrado no cânone da música portuguesa. As miúdas andam por aí… a rockar como se não houvesse amanhã! “Ela é uma música” é uma viagem de descoberta pelo mundo do rock em Portugal, na voz das suas ilustres desconhecidas: as mulheres.
O realizador e músico Vasco Reis Ruivo vai à Ásia buscar olhares e sorrisos (ou quase sorrisos) e fumo e cigarros. Politicamente incorrecto, contudo pacificador. Filma a cores dentro do scratch, sobre o scratch, e justapõe as imagens como slides em movimento alongado, ilustrando a faixa intróito do álbum ‘Big Sneeze’. Uma pequena história com final feliz e cão em fundo.
Ostraliana usa a vibração rítmica da bateria dos 3’25 minutos de ‘Expire Date’ (‘Big Sneeze’) para pôr a correr a transfiguração na dança profissional, desenhando a fotografia (rotoscopia). Parece coisa bíblica, a banda desenhada animada em papel de seda colorido: alguém, frente ao espelho, faz o que ele não diz do seu corpo mas também o que o olhar dos outros ordena. Ostraliana impõe às pausas musicais o figurativo da personagem em pose ostensivamente reflexiva.
Luis Lázaro verbaliza de modo plástico, histriónico, o que a mais longa faixa (‘Murdering the Classics’) desta série de filmes tende a velar. Aparentemente são palavras erradas e cantadas num sistema de sobreposição de caras e personagens escondidas que, a todo o custo, tentam tornar abstracto aquilo que deseja o figurativo. Cor de fogo lançado, quase metalúrgico. Existem olhos que não espreitam, apenas pretendem que sejam vistos. O pintor surge então, em luz negra-branca-azul, com pinceladas extremas transfigurando os comboios e os sinos secretos em animais nocturnos: solitários e urgentes.
Conhece o Havai? Essa é a pergunta que o protagonista de “August at Akiko’s”, o músico cosmopolita Alex Zhang Hungtai (da banda Dirty Beaches), se coloca quando regressa à ilha onde cresceu. Aterra com apenas uma mala de viagem e o seu saxofone, mas é confrontado com uma desilusão: tudo o que encontra está muito distante das suas memórias de infância. Será na companhia de uma senhora mais velha, Akiko, que Alex descobrirá uma paisagem à qual consegue finalmente ligar-se. Um deslumbrante filme que através do conto de fadas dá um novo significado à espiritualidade.
Não podemos desmobilizar, desviando o olhar da sociedade de informação. A televisão é tão importante quanto o microscópico. A beleza de um vírus ou de uma bactéria é, através deles, visível e transmitida. Atenção ao espirro e à lindeza televisiva! Por esse motivo, Renata Sancho reparte o ecrã em três módulos, sublinhando a consciência da informação-infecção. Por fundo, uma das canções-mote dos Rollana Beat.
Edgar Pêra foi Herói Independente do festival em 2006 e já nessa altura os “Arquivos Kino-Pop” estavam bem apetrechados. Desde dos anos 1980 o ‘Homem-Kâmara’ vem recolhendo imagens do mundo em cine-diários que, muitas vezes, tendem para a música. Um registo inédito desse repositório inclui uma performances incrível de Pedro Ayres de Magalhães (Heróis do Mar e Madredeus) Uma oportunidade única de viajar no tempo e assistir a um dos momentos em que a história da música portuguesa se fez, em cima do palco!
Edgar Pêra foi Herói Independente do festival em 2006 e já nessa altura os “Arquivos Kino-Pop” estavam bem apetrechados. Desde dos anos 1980 o ‘Homem-Kâmara’ vem recolhendo imagens do mundo em cine-diários que, muitas vezes, tendem para a música. Um registo inédito desse repositório inclui uma performances incrível de Farinha Master (líder dos míticos Ocaso Épico, falecido em 2002). Uma oportunidade única de viajar no tempo e assistir a um dos momentos em que a história da música portuguesa se fez, em cima do palco!