Um Godard influenciado pelos “agentes secretos” e o caso Ben Barka, com Anna Karina no papel de uma jovem, que procura vingar o namorado, um jornalista assassinado numa cidade da província, por possuir um segredo perigoso. “Uma das coisas geniais de Made in U.S.A. reside no facto de Godard ter integrado um discurso político (ou sobre a política) de contexto e referências bastante ‘realistas’ numa espécie de alegoria que não anda muito longe da ficção científica” (Luís Miguel Oliveira). É a última longa-metragem de Godard e Karina. (Cinemateca Portuguesa)
Secção: Herói Independente
O realizador Lucas Lazarini parte das imagens da campanha de Magalhães Teixeira, candidato à prefeitura de Campinas em 1992 (aquando do impeachment do presidente Collor), e encontra perturbantes reflexos com a presente situação do Brasil.
Personagens alcoolizados deitados em espreguiçadeiras, junto à água as crianças brincam, o churrasco assa e a sogra reclama, cheira-se coca e assedia-se a filha da empregada, a casa de família decai e os criados negros são destratados. É um Domingo normal de uma burguesia decadente. Como pano de fundo, o discurso de tomada de posse de Lula da Silva, estamos em 2003. Só que esta já não é a vingança do proletariado, pelo contrário, tudo virou profecia negra sobre a ascensão da extrema direita. Uma comédia sexual de enganos tintada pelo presente contexto político brasileiro.
Fabiana é camionista há mais de 30 anos, a sua pele endurecida pelo sol é sinal disso, assim como os amigos e as namoradas que foi deixando ao longo da estrada. Fabiana é também uma mulher trans, ainda que isso não pareça afectar a sua vida nómada. A idade da reforma aproxima-se e a realizadora estreante Brunna Laboissière apanha boleia da última entrega de Fabiana. Um retrato intimista construído a partir da cabina do camião, espaço pequeno que se abre à vastidão da paisagem; por oposição à casa que a aguarda, na sua monotonia aposentada.
A comédia musical de Pierre Koralnik com Anna Karina, a partir de música e canções de Serge Gainsbourg (orquestrada por Michel Colombier; a banda musical seria editada em disco), foi o primeiro (tele)filme a cores produzido para a estação televisiva ORTF. Rodado em 35mm nas ruas de Paris, na discoteca Bus Palladium e na gare de l’Est, no castelo Porgès de Rochefort-en-Yvelines e na praia de Deauville, Anna compõe-se a partir da inspiração musical e coreográfica, mas também pop e gráfica. A história é a da paixão de um agente publicitário pela imagem de uma rapariga fotografada por acaso numa estação. Foi um título importante no percurso de Gainsbourg e de Karina, Sous le soleil exactement. (Cinemateca Portuguesa)
Um retrato de Anna Karina por Dennis Berry, seu cúmplice de longa data (casados desde 1982), também actor de Éric Rohmer (“La Collectionneuse”) ou André Téchiné (“Paulina s’en va”), e seu realizador em “Chloé”. Numa sala de cinema de cadeiras vermelhas, Anna Karina comenta o seu percurso no cinema e na música, os encontros decisivos com Jean-Luc Godard e Serge Gainsbourg, mas também as colaborações com realizadores como Jacques Rivette, Luchino Visconti, George Cukor, Volker Schlöndorff, Rainer Werner Fassbinder ou Raoul Ruiz (todos incluídos na retrospectiva que agora dedicamos à actriz). (a partir do texto da Cinemateca Portuguesa)
Segmento do coletivo Le plus vieux métier du monde. Rodado em 1966, estreado em 1967 como o último dos seis segmentos do colectivo Le plus vieux métier du monde/A mais Antiga Profissão, em que se abordam a prostituição, o sexo e o dinheiro ao longo dos séculos. Com Karina, Anticipation dirige-se “àqueles que desejam saber como Jean-Luc Godard imaginou a mais velha profissão do mundo na era interplanetária”. A preto e branco até à explosão cromática do desfecho. (Cinemateca Portuguesa)
Homenagem ao filme negro, obra de ficção científica e de ficção política, é como indica o título completo “uma estranha aventura de Lemmy Caution”. O agente secreto Lemmy Caution (protagonista de uma série do cinema francês) vai à cidade de Alphaville, onde todos os sentimentos foram abolidos e onde ninguém é capaz de perceber poesia, tentar convencer um cientista a regressar aos “planetas exteriores”. Esta parábola sobre a sociedade futura foi inteiramente filmada em cenários naturais, em Paris e nos seus arredores. Anna Karina contracena com Eddie Constantine no enredo “de aventura e amor”, “morte e mistério” que as personagens atravessam entre as malhas de uma ditadura tecnocrática. (Cinemateca Portuguesa)
Logo em 2004 o IndieLisboa exibiu La niña santa, a segunda longa de Lucrecia Martel, em competição. Protagonizado por duas adolescentes, Josefina e Amalia (interpretada por María Alché, que se tornaria também realizadora e cuja curta Noelia receberia o prémio de melhor ficção no IndieLisboa 2013), este é um filme onde o sexo e a religião andam de mãos dadas, quando a vocação religiosa se emaranha no desejo. Baseado nas memórias de infância de Martel e produzido por Pedro Almodóvar, o filme viria a estrear no Festival de Cannes, firmando o nome da realizadora nos lugares cimeiros do cinema mundial.
Na pequena aldeia deRey Muerto, no noroeste da Argentina, uma mulher foge, com os seus três filhos, de um marido violento. O filme faz parte de um filme-compilação, Historias Breves I, resultante do primeiro apoio do instituto de cinema argentino que foi peça fundamental do “novo cinema” do país (o qual o IndieLisboa destacou, em 2005, como Herói Independente).
Concebido por Janine Bazin e André S. Labarthe, o programa televisivo “Vive le cinéma” tinha por conceito o convite a uma personalidade que comentasse um mês de atualidade cinematográfica. Jeanne Moreau é a anfitriã do número 2, realizado por Jacques Rozier. “A seguir ao filme sobre Jean Vigo, é a minha outra grande recordação pessoal”, disse, referindo-se aos seus projectos para televisão. Boa parte da emissão é dedicada a Orson Welles, filmado durante uma refeição no Ritz, mas conta também com participações de Catherine Breillat, Jerry Lewis ou Barbet Schroeder, Bulle Ogier e Nestor Almendros. A apresentar numa versão posteriormente remontada por Jacques Rozier.(A partir do texto da Cinemateca Portuguesa)
Em Voyage en terre – Philippine, Jacques Rozier evoca a história da sua primeira longa metragem, filmada em tempo de guerra e censura, a cuja banda musical reserva uma atenção particular.(A partir do texto da Cinemateca Portuguesa)
O regresso de Lucrecia Martel à longa, depois de quase uma década de interrupção, adapta o romance de Antonio Di Benedetto escrito em 1956, sobre Don Diego de Zama, um oficial de Espanha do século XVII. Mas em Zama o regresso ao passado é um movimento irreverente, anti-historicista e profundamente subversivo. Uma viagem delirante a um passado onde se encontra o gérmen de uma identidade latino-americana fundada nos modos do colonialismo. Esta co-produção portuguesa (com direcção de fotografia de Rui Poças) foi considerada o melhor filme de 2017 por um conjunto de 135 programadores, críticos e cineastas de todo o mundo.
Paparazzi(juntamente com Le Parti des choses: Bardot et Godard) resulta do material filmado durante a rodagem mediterrânica de O Desprezode Godard, testemunhada pela câmara de Rozier. É um retrato da imprensa sensacionalista ancorado no assalto que a dita imprensa faz a Brigitte Bardot, no auge da sua fama. Nele, Rozier não prescinde de encenar a actriz e alguns dos seus paparazzi para um “filme de ficção sobretudo composto por elementos registados com a consciência de uma e de outros”.(A partir do texto da Cinemateca Portuguesa)
Pescados é o filme de Martel com mais sentido de humor. A sonoplasta e música Juana Molina junta-se à realizadora para dar voz a um coro de carpas que sonharam ser um carro.
Numa vila da Provence, um miúdo, em gazeta ao primeiro dia de aulas, atira a mochila ao rio numa aposta, o que o faz embarcar numa aventura para a reaver.
“Filme musical” de Jacques Rozier, ancorado numa das obras de Jean-Baptiste Lully, compositor italiano naturalizado francês cuja prolífera obra surgiu na corte de Luís XIV, Alceste ou Le Triomphe d’Alcide. Realizado durante a preparação da respectiva ópera pelos director musical Jean-Claude Malgoire e encenador Jean-Louis Martinoty.(A partir do texto da Cinemateca Portuguesa)