Em 2013, com “O Que se Move”, Caetano Gotardo emocionou uma plateia inteira e quase venceu o prémio do público e o ano passado, com a curta “Merencória”, os casais separavam-se e reuniam-se no entrelaçar de uma balada triste. Agora, com “Seus Ossos e Seus Olhos”, o realizador (e também argumentista, montador e protagonista) lança-nos mais uma vez no baile dos sentimentos, por entre lençóis suados, conversas de sofá, confissões e passeios pela rua. Na tradição de Rohmer ou Sang-soo, mas numa perspectiva queer, este é um filme que nos toca, com a mão aberta, o peito despido.
Less than two hundred feet away from the prison cell of the world’s most famous political prisoner, a vigil group follows the outcome of the most important presidential elections of the last 30 years in Brazil.
After the austere revision of the historical film in the previous Jeanne la pucelle (1994), Rivette conceived Haut bas fragile under the sign of musical cinema. “Inspiration? MGM’s low budget films of the fifties, shot in four or five weeks, using sets left by other films; in particular a Stanley Donen film called Give a Girl a Break“(Rivette). Here is a film with a group of girls, songs and dance numbers. Anna Karina’s special starring suggests that Haut bas fragile also intended to evoke the “Nouvelle Vague spirit”. (Cinemateca Portuguesa)
Contando a história de um desertor francês que se alista num grupo de extrema-direita suíço, do qual mais tarde tenta fugir por amor a uma mulher, Le petit soldat foi um dos mais polémicos filmes de Godard, acusado à época de “fascismo” por parte da esquerda oficial e proibido em França durante três anos, pelas muitas alusões à Guerra da Argélia, então no auge. É também o filme do primeiro encontro de Godard com Anna Karina, que sempre que entra em cena rouba toda a luz à sua volta. E o filme do célebre aforismo que vem de um discurso sobre a fotografia, o cinema e a verdade: “a fotografia é a verdade e o cinema é a verdade a 24 fotogramas por segundo.” (Cinemateca Portuguesa)
A segunda longa metragem de Rivette adapta o romance homónimo de Diderot sobre uma jovem que é posta num convento à sua revelia. Antes mesmo de ser realizado, o filme desencadeou uma cabala de políticos conservadores, que fizeram com que fosse proibido, o que gerou um enorme escândalo. Só foi autorizado depois do título ser alterado para Simone Simonin, la religieuse de Denis Diderot, embora nunca ninguém se tenha referido assim ao filme. Muito diferente do estilo que Rivette adoptaria a partir de L’amour fou (1969), rigoroso e rarefeito, extremamente “escrito”, La religieuse conta com um desempenho excepcional de Anna Karina no papel principal. (Cinemateca Portuguesa)
Visconti trabalhou a adaptação do romance de Camus (O Estrangeiro, 1942) seduzido pela possibilidade de traçar um fresco político contemporâneo centrado no fim da colonização francesa na Argélia, versão que a viúva de Camus impossibilitou exigindo que o livro fosse escrupulosamente seguido. Visconti manteve-se fiel aos compromissos de produção e filmou Lo straniero mas desinteressou-se do projecto, para o que além das pressões de Francine Camus e do produtor Dino de Laurentiis, terá contribuído a desistência do actor com quem queria trabalhar, Alain Delon, que Mastroianni acabou por substituir, contracenando com Anna Karina. Para muitos, LO STRANIERO é um Visconti fracassado. Outros enaltecem a primeira parte, rodada sob o sol da Argélia. Na Cinemateca foi exibido uma única vez, em 1997. (Cinemateca Portuguesa)
“A Noite Amarela” é, nas palavras do realizador, um «slasher espiritual». Um grupo de adolescentes vai passar férias numa ilha isolada e quase inabitada e, um a um, começam a desaparecer. Só que não há sangue e o assassino é, possivelmente, um espectro quântico. Os jovens são assolados por visões, «memórias de um sonho futuro», e as fotografias nos seus telemóveis corrompem-se. Aquilo que era para ser a celebração da juventude transforma-se numa angustiante busca pela noite dentro. Um amanhã que nunca chega e um passado que se esquece. Metáfora de uma geração, de um país?
1992. Os últimos herdeiros da prestigiada família Baumann, do sul de Minas Gerais, desaparecem sem deixar rasto. 2017. Uma caixa com cassetes VHS é encontrada, contendo registos dos seus últimos momentos, durante as férias na casa da família. Através da compilação desses arquivos familiares, o filme reorganiza os fragmentos de um mistério até hoje sem solução. A primeira longa de Bruna Carvalho Almeida (após trabalhar como montadora, nomeadamente em “Fabiana”, também presente no festival) é um enigmático filme de fantasmas. Em estreia europeia no IndieLisboa.
Affonso Uchôa (vencedor do Prémio Especial do Júri no indieLisboa 2017 pela longa “Arábia”) dá-nos a conhecer a história de Rafael numa noite interminável, junto à fogueira, em longos monólogos: um dia invadiram-lhe a casa e ameaçaram-no de morte, no outro a sua vida mudou para o pior.
Conhecemos a actriz Julia Katharine o ano passado em “Lembro Mais dos Corvos” (uma das longas vencedoras do festival em 2018), “Tea for Two” é a sua estreia na realização: sobre uma realizadora, em crise de meia idade, dividida entre duas mulheres.
Depois de vencer o Grande Prémio do festival, o ano passado, com “Lembro Mais dos Corvos”, Gustavo Vinagre regressa ao IndieLisboa com uma co-realização com Rodrigo Carneiro (estreante na realização, após uma carreira como montador). À imagem do filme anterior, este é um documentário biográfico altamente encenado onde lenda e facto se fundem na figura de Marcelo Diorio, anfitrião do seu ânus aberto e das suas vidas passadas. Aqui, os seus traumas (os abusos, o HIV) fazem-se tragicomédia literária e o seu charme subversivo não deixa ninguém indiferente.
In WWII, Lieut. Martino and his men are assigned to lead a group of prostitutes through the mountainous ways to serve in brothels for Italian soldiers in Albania.
Petra Costa (“Olmo e a Gaivota”, IndieLisboa 2016) confessa, «tenho aproximadamente a mesma idade que a democracia no Brasil.» A partir daqui inicia uma reflexão, entre o pessoal, o político e o poético, sobre a paisagem governamental do seu país à luz dos presentes volte-faces. Com acesso sem precedentes a Dilma Rousseff e Lula da Silva, a realizadora explora a ascensão e queda de ambos os líderes. Um documentário ensaístico, estreado este ano no festival de Sundance, que serve de aviso para a fragilidade dos sistemas democráticos às forças do populismo.
Juliana acaba de chegar a Belo Horizonte para integrar uma equipa de combate ao mosquito da dengue. Enquanto espera que o marido se junte a ela na nova cidade, Juliana conhece pessoas e faz amigos. Uma viagem tocante pelo quotidiano dos afectos no estilo doce de André Novais Oliveira (regressa ao IndieLisboa depois da longa “Ela Volta na Quinta” e das curtas “Quintal” e “Pouco Mais de Um Mês”). Estreado em Locarno, o filme foi o grande vencedor do Festival de Brasília consagrando o realizador como uma das mais interessantes jovens vozes do cinema brasileiro.
Baseado no conto homónimo de Heinrich Von Kleist (1810) a partir de uma história verídica (de meados do século XVI) admirada por escritores como Goethe e Kafka graças ao poderoso livro de Kleist, o filme de Volker Schlöndorff centra-se na personagem titular. O negociante de cavalos Michael Kohlhaas (David Warner) é obrigado a pagar um imposto a um aristrocrata descobrindo que foi enganado, o que o leva a exacerbar um inato sentimento de justiça. Anna Karina interpreta a personagem da sua mulher, Elizabeth. (Cinemateca Portuguesa)
Escrito, realizado, produzido e interpretado por Anna Karina, Vivre ensemble (que esteve para se chamar Nous deux) é a estreia da atriz na realização. Um retrato conjugal dos anos setenta imbuído do espírito do tempo, nos espaços parisiense e nova-iorquino de Saint-Germain-des-Près e do Quartier Latin, do Harlem e Greenwich Village. Filmado em 16 mm em quatro semanas com um orçamento reduzido e dificuldades inerentes ao facto de ser o projeto de uma mulher (e uma mulher actriz de profissão), é composto em seis “quadros”. Destila um realismo pontuado pela melancolia e o burlesco, em cujo enredo a protagonista feminina vive decididamente a sua vida. (Cinemateca Portuguesa)
Francisco sai com um rapaz diferente todos os dia mas confessa à amiga Flávia que está insatisfeito com a sua gordura: “Reforma”, escrito, realizado e protagonizado por Fábio Leal, é um doce e intimista retrato do corpo e do sexo.
O filme de Lobo Mauro encontra paralelos entre desvios orçamentais da renovação do estádio do Maracanã para o Mundial de 2014 com a derrota contra a Alemanha, a reforma trabalhista de 2017 e a votação que depôs Dilma Rousseff.