O filme de Jane Magnusson e Hynek Pallas sobre Ingmar Bergman trata de facto de uma invasão, filmando a visita de uma série de notáveis à mítica casa do realizador sueco na remota ilha de Faro, construída em 1960 como escolha para uma vida salvaguardada de intrusões. É o espaço de Ingmar Bergman ‚ também o espaço de muitos dos seus filmes ‚ que Trespassing Bergman visita, levando consigo cineastas como Claire Denis ou Michael Haneke, parte de um elenco que, na ilha de Bergman e noutros locais do mundo, evoca a importância da sua vida e obra, e de que fazem também parte Ang Lee, Zhang Yimou, Woody Allen, Francis Ford Coppola, Takeshi Kitano, Holly Hunter, Wes Anderson, Robert De Niro, Martin Scorsese, Isabella Rossellini, Harriet Andersson e Laura Dern.
Secção: Director's Cut
Walk In The Flesh de Filipe Afonso, de registo experimental, trabalha imagens originais de Scanners de David Cronenberg.
No filme de Julie Conte, Jean-Pierre Beauviala, o protagonista, é apresentado como inventor de câmaras desde 1971. Propondo uma história de cinema, iniciada há quarenta anos em Grenoble, que se cruzou intimamente com a de Jean-Luc Godard (pelo desejo de uma câmara 35mm de características semelhantes à Aanton 7A 16mm, conhecida como o gato), a sinopse de Un Chat Sur l’Épaule acrescenta que as câmaras inventadas por Beauviala nos seus ateliês permitiram um ‚Äòcinema ligeiro, na natureza’. Há cineastas que se lembram. Hoje, já nada é pesado. O mercado está saturado com novos instrumentos. Todos experimentam novos modos de rodar. E Beauviala continua a inventar. A que utopia se mantém fiel?
Apresentado no IndieLisboa o ano passado, com a exibição de Messenger From The Shadows (Notes On Film 06 A/Monologue 01), em tributo a Lon Chaney, Norbert Pfaffenbichler prossegue a sua série Notes on Film com um filme centrado noutro dos mais famosos actores de Hollywood, Boris Karloff. A Masque Of Madness compõe-se a partir de planos de Karloff vindos do seu trabalho em televisão e cinema. Nesta longa metragem experimental, o actor britânico Boris Karloff (1887-1969) encarna aproximadamente 170 personagens diferentes. Uma carreira de actor que atravessa 50 anos (1919-1969) é compactada num único filme. O protagonista experimenta uma esquizofrénica viagem de terror na qual se confronta apenas com versões de si mesmo em diferentes máscaras, diferentes idades, diferentes géneros e raças. (‚Ķ) Conceptual com características de pesadelo, este filme é uma homenagem a um grande actor e também uma estranha lição de história do cinema (Norbert Pfaffenbichler).
É como um filme ensaio na primeira pessoa do singular que Bertolucci on Bertolucci se apresenta, através de uma montagem que articula as palavras do cineasta italiano a partir de centenas de horas de entrevistas e material de arquivo recolhido um pouco por todo o mundo. Trata-se de uma reflexão sobre o cinema que segue um intenso fluxo de emoções, introspecção psicológica, anedotas e visões reveladora da identidade de um autêntico e extraordinário praticante da arte da mise en scène. Nascidos em 1970/71, o tempo de Il Conformista na obra de Bertolucci, então já aclamado com Prima Della Rivoluzione, é na qualidade de cinéfilos que Guadagnino (realizador internacionalizado com Melissa P. e Io Sono L’amore) e Fasano (que tem trabalhado sobretudo como montador, entre outros de Dario Argento, Ferzan Ozpetek, Stefano Mordini) assinam o seu filme sobre Bernardo Bertolucci.
Filmado em 1953 (só estreou em 1954) durante a primeira e breve tentativa de Hollywood para aderir à tecnologia 3D, Dial M for Murder serviu de exercício tecnológico da Warner Brothers. Infelizmente, a moda passou antes mesmo da estreia do filme, fazendo com que a sua exibição tivesse tido o formato tradicional. A história centra-se num jogador de ténis, Tony Wendice, que, farto do seu emprego de vendedor de equipamento desportivo, começa a cobiçar a conta bancária da mulher e engendra um plano para a matar e ficar com a herança. Apesar da relutância inicial de Hitchcock em usar o formato, o filme acaba por ser um dos melhores exemplos de sempre do potencial artístico da filmagem em 3D, aliando movimentos de câmara fluídos que acompanham com subtileza o drama a efeitos 3D que aumentam a intensidade da experiência ao colocarem os espectadores no meio da acção.
O filme de Gabe Klinger apresenta-se como um retrato da amizade entre dois cineastas americanos de obras e percursos diversos: James Benning e Richard Linklater. Double Play é construído a partir de conversas filmadas entre Benning e Linklater e imagens de arquivo, explorando as marcas do tempo, da duração, não apenas nas [suas respectivas] obras cinematográficas, mas também na sua amizade e nas suas vidas (Gabe Klinger).
Head, Tail, Rail parte de um conjunto de bobines 35mm abandonadas em salas de cinema, revelando as imagens veladas e esquecidas pela indústria cinematográfica comercial.
Esta primeira longa-metragem de Tessa Louise-Salomé surgiu na sequência de Drive in Holy Motors, registo de bastidores do último filme de Léos Carax, de 2012. Mr Leos Carax é um retrato do percurso e obra de Carax olhados na perspectiva do seu visionarismo, do modo como surgiu em cena com Boy Meets Girl e Mauvais Sang (1984/86) tornando-se uma figura de culto, secreta e polémica, de aura maldita com Les Amants Du Pont Neuf (1991), Pola X (1999), marcados pelas dificuldades de produção do primeiro e a má recepção pública do segundo, e o recente Holy Motors, genericamente defendido com estima pela crítica internacional. O filme combina material de arquivo inédito, entrevistas, excertos de filmes favoritos de Carax, compondo um retrato inspirado na sua visão poética. Os intervenientes incluem os críticos Richard Brody e Kent Jones, a directora de fotografia Caroline Champetier e o actor Denis Lavant, alter ego de Carax.
Em Memória Da Memória, Paula Gaitán, cineasta, fotógrafa e artista visual, propõe um filme-anotação sob a forma de ensaio a partir de um trabalho em material Super 8. Aquele que não tem limites, pleno de afecto e imaginação, diz a autora.
A partir do testemunho e experiência pessoal do cineasta Alberto Seixas Santos e das suas reflexões sobre a história do cinema fez-se a reconstrução de uma memória fílmica através de um processo de montagem. Um diálogo entre as imagens dos seus filmes e dos cineastas que admira, cujos filmes contaminam este documentário como fantasmas que vêm assombrar o real. Para o realizador, a questão central no cinema, como a questão central na pintura, na música, onde quer que seja, é que só ficam as obras que correm riscos.
Elegia arrebatada de uma época de ouro da produção de cinema no Egipto, numa das suas mais reverenciadas actrizes: Soad Hosni, que entre os anos 1960 e 90 deu corpo à mulher árabe na sua complexidade e paradoxos. Exclusivamente composto de material VHS, é um filme construído como uma tragédia em três actos em que a actriz conta a história da sua vida.
Retrato de HPG, actor, realizador e produtor de filmes pornográficos, integralmente composto a partir de milhares de horas de imagens de bastidores. Mais do que um simples arquivo do mundo da pornografia, este documentário questiona a natureza da pornografia e a paixão pelo real que a caracteriza.
Apropriando-se de diálogos de filmes de Hollywood que lidam com o legado da guerra do Vietname e implantando-os nos sossegados subúrbios alemães, I’m Not the Enemy encara directamente o modo como uma sociedade envolvida na guerra lida com a culpa do regresso problemático. Como pode um veterano de guerra encontrar um nível de aceitação?
Construído como um tríptico em que o todo é suposto ser maior do que a soma das partes, utilizando material de arquivo documental e industrial de 1940-1975 para seguir a incessante correia de transmissão da vida. Uma sinfonia de movimento e metamorfose, imagens de fábricas, de indústrias criativas e pedagógicas.
Em 1993, Paulo Seabra comprou, barato, todo o espólio do foto Estúdio Paris, à Estrela, Lisboa: dezenas de caixotes de cartão, com centenas de caixas com milhares de negativos. Nesta primeira e exclusiva versão para o Festival Indie, o filme documenta a abertura e descoberta de muitos desses negativos.
Investigação ontológica por um lugar onde o cinema se torna em algo mais do que cinema. Filmado a cores em alta definição durante cinco dias nas Ilhas Canárias de Fuerteventura e Tenerife.
Um jovem e inexperiente crítico de cinema, François, tem uma namorada e apaixona-se por uma reputada colega, Rosa. Os dois iniciam uma relação picante, que leva François a descobrir o trabalho interior do desejo: desejo por uma mulher e pela crítica. Até ao dia em que a sua infidelidade é descoberta.