Alice decide ir viver para Berlim, e Ema, sua colega de casa, organiza-lhe um jantar de despedida: Rui Esperança (“Tudo Vai Sem se Dizer”, IndieLisboa 2014) filma, em “Os Inúteis” uma terna tentativa de reconciliamento com o inevitável final de todas as coisas.
Secção: Competição Nacional
Francisca, uma bela mulher viúva de 50 anos (interpretada por Maria de Medeiros), preparava um futuro tranquilo. Num assomo inesperado, agarra uma oportunidade de mudança e embarca num veleiro chamado ‘À Flor do Mar’. A memória da epopeia marítima portuguesa emerge. Surgem ainda outras reminiscências: a polaridade Ocidente/Oriente e o embate com o actual drama dos refugiados. Realizado por Margarida Gil (que venceu a Competição Nacional do IndieLisboa 2005 com “Adriana”), o filme conta com as interpretações de Pedro Cabrita Reis, Catarina Wallenstein, Nuno Lopes e Augusto Amado.
A animação anárquica de Júlio F. R. Costa (“O Peso dos Dias”, IndieLisboa 2018) investiga o movimento a partir da obra de Eadweard Muybridge, com os devidos acrescentos.
‘Catitinha’ vagueava pelas praias portuguesas, nos anos 1950. De barbas brancas e apito, atraia as crianças do areal. Catarina Mourão (de quem exibimos “Pelas Sombras” e “A Toca do Lobo”) descobriu 4 segundos de película com ele, mas isso torna-o mais real?
Em “A Casa, a Verdadeira…”, Sílvia das Fadas (“Square Dance…”, IndieLisboa 2014) leva-nos numa jornada por utopias arquitectónicas que incluem um palácio de um carteiro, uma casa vermelha de um socialista e um jardim engendrado no feminino.
“Memória e Dicionário” é uma visita às lembranças daqueles que ainda trabalharam e conheceram a indústria baleeira nas ilhas dos Açores: Paulo Lima oferece-nos uma realidade corroída pelo esquecimento e deturpada pelo turismo.
Rafael é director de som e foi incumbido de encontrar um som que falta ao filme em que está a trabalhar: “Poder Fantasma”, de Afonso Mota (“O Sul”, IndieLisboa 2016), retrata docemente Lisboa e a nova geração do cinema português.
Baseado na peça homónima de Tiago Rodrigues, “Tristeza e Alegria na Vida das Girafas” acompanha a aventura de uma menina e o seu urso de peluche suicida, chamado Judy Garland, em busca do perdido Discovery Channel. Lisboa é um território mágico, mas onde a crise espreita a cada encontro, e há que saber fugir das panteras negras e pedir ajuda ao primeiro ministro. Realizado por Tiago Guedes (“Coro dos Amantes”, IndieLisboa 2014), esta é uma comédia doce e triste que conta com os desempenhos de Miguel Borges, Tonan Quito, Maria Abreu, Gonçalo Waddington e Miguel Guilherme.
A paisagem do Ribatejo ardeu e Chico é assombrado pelo homicídio encapotado de um colega com quem esteve envolvido. Tomás Paula Marques (“Sem Armas”, IndieLisboa 2016) descreve o desejo de integração de um rapaz numa pequena comunidade avessa à diferença.
Duarte, de 50 anos, tem uma deficiência visual. Anda à procura de Leandro, um imigrante cabo-verdiano desaparecido: Cristèle Alves Meira (“Campo de Víboras”, IndieLisboa 2016) dá-nos, em “Invisível Herói”, uma história de perseverança e disponibilidade, entre o facto e a ficção.
Ana, uma actriz portuguesa no Rio de Janeiro (interpretada por Catarina Wallenstein, que assina a realização com Felipe Bragança) mergulha no actual pesadelo político brasileiro, enquanto se prepara para encarnar o papel da fantástica luso-brasileira Carmen Miranda, num misterioso filme que se avizinha. Mas a mitologia colorida da Embaixatriz do Samba choca com o presente cinzento. Um filme que se interroga sobre uma utopia «pan-tropical e futurista», celebrando o «canibalismo cultural» que, nos tempos da ditadura funcionou como forma de resistência. E hoje?
Patrícia Vidal Delgado constrói em “The Hood” um found footage sobre o processo criativo de um jovem actor que visita Compton (nos arredores de Los Angeles) e aprende mais do que desejava.
Não é o rotineiro documentário sobre um artista, neste caso o cineasta Pedro Costa, nem tão pouco uma visão equilibrada da sua obra. Entre outros méritos, Sacavém dialoga com essa figura maior do cinema contemporâneo sem recorrer às habituais cauções (depoimentos de terceiros, evocação de prémios e reconhecimento crítico, etc.) ou procurar mimetizar o seu cinema. Júlio Alves encontra a distância justa para ler essa obra sem o peso da reverência ou do pastiche, ligando algumas personagens e objectos recorrentes desde Casa de Lava ao seu próximo filme, mostrando a continuidade entre a visão do realizador e o mundo que lhe serve de matéria e iluminando a singular forma de realismo assombrado por fantasmas e memórias que atravessa o cinema de Pedro Costa. A presença esquiva do próprio no filme de Júlio Alves é também ela exemplar de uma ética de trabalho solitária e artesanal de que os filmes são o testemunho mais eloquente. (N.S.)
Jorge Jácome (de quem exibimos “Flores”, “A Guest + A Host = A Ghost” e “Plutão”) leva-nos, através de uma geografia da melancolia, numa série de associações livres que atravessam vários séculos da História. “Past Perfect” coloca-nos, por fim, a questão: qual o lugar da tristeza?
Grbavica é um bairro de Sarajevo, Manel Raga Raga filma-o num preto-e-branco densamente elíptico (direcção de fotografia de André Gil Mata), fixando-se em motivos do quotidiano para construir um perturbante mergulho na noite.
O calor corre nas veias, intumesce corpos cavernosos e as confissões soltam-se da língua: “Heatstroke”, filme de estreia do actor Edgar Morais, reflecte visceralmente sobre a desorientação sexual e existencial desta geração.
Susana de Sousa Dias (“Luz Obscura”, IndieLisboa 2017) faz, em “Fordlândia Malaise” um filme sobre a memória e o presente da homónima cidade, agora em ruínas, fundada em 1928 por Henry Ford na floresta amazónica.
Estranhos espíritos e criaturas habitam uma misteriosa paisagem de folhagens e ruínas; Clara Pais e Daniel Fawcett capturaram estes “Espectros da Terra” em película Super8.