Um chico-esperto, um sonhador, um simplório e um preguiçoso vivem em comunidade numa era pré-civilizacional. Através de uma visão precisa de cinema, o realizador mostra com pessimismo e humor que o homem é um ser que permanece igual a si próprio, independentemente das mudanças que origina no mundo. E tem um final em grande estilo. (Miguel Valverde)
Secção: Competição Nacional
Um filme no domínio do pagão e do popular. Um documentário com várias camadas do Portugal rural sobre um homem chamado Antero. Antero é perverso. Antero recita rimas, quadras e ditos populares. Antero ri-se. Antero recolhe objectos perdidos e ajeita tudo o que lhe aparece à mão. Como disse Joseph Beuys, cada homem um artista. (Carlos Ramos)
Nesta primeira obra de assinatura a solo, o realizador reflecte as imagens do incêndio do Chiado no seu personagem, que deambula entristecido falando ao telefone. Enquanto o fogo consome os prédios, consolida-se a inevitável ruptura amorosa. Um jogo de projecções cria uma atmosfera sobre-real, reconstruindo-se, assim, uma bela parte do cinema português. (Miguel Valverde)
É preciso olhar para dentro dos olhos cansados de quem espera um dia poder comunicar. Mãe e filha não o sabem fazer. Se calhar o cão pode ajudar, mas não, se calhar também não. André Santos e Marco Leão são vozes novas no panorama nacional e procuram a narrativa para afirmar a sua cinematografia, não descurando porém um lado formal e estético muito apurado. (M. V.)
No final do verão de 1980, Alda e a sua irmã Maria, com a idade de 16 e 17 anos, chegam a Lisboa para escapar da guerra civil em Angola. Entregues a si próprias, elas vão ter que aprender a sobreviver numa cidade estrangeira. Alda e Maria vão construir uma nova vida do zero e tornar-se mulheres. Quando os problemas se tornam quase insuportáveis, chega-lhes uma notícia terrível. Paradoxalmente, é esse susto que lhes vai dar a força para decidir o seu destino. (Pocas Pascoal)
O Fim do Mundo parte de um esqueleto ficcional sobre um dado tempo no final da adolescência, para ser preenchido por um corpo documental – uma Setúbal industrial e a realidade presente de um grupo de jovens do bairro da Bela Vista. (Pedro Pinho)
No interior do país rural, um homem tenta compreender o estranho fenómeno que está a acontecer no seu corpo. A avó velha, o pássaro na gaiola e a paisagem quase inóspita cobrem-no como um nevoeiro que não lhe permite ter certezas. Uma ficção sobre as histórias que se criam quando a realidade é demasiado durapara ser enfrentada. (P. C.)
Cenouras. Ruivos. Virilhas de fogo… Genes recessivos. Eles têm traços sedutores, que fazem com que sejam intimidados ou extremamente atraentes. Porque são diferentes, tiveram que aturar muita coisa. Isso tornou-os mais fortes, mais resistentes do que se poderia esperar de homens que estão duplamente em minoria (homossexuais e ruivos). Este filme recolhe amostras dos seus depoimentos e do seu ADN (pele, cabelo e esperma). (Antonio da Silva)
Uma invulgar adaptação portuguesa do famoso conto do Barba Azul. Uma excelente animação em stop motion com um cuidado rigoroso colocado nos planos e guarda-roupa. A história de terror de uma mulher que casa com o famoso Barba Azul e que é tentada a entrar no único quarto onde não pode entrar. O fruto proibido é sempre o mais apetecido. (C. R.)
A dupla Reis/Miller sabe detectar muito bem um universo para trabalhar. Os seus filmes transportam-nos para realidades sociais vincadas em que o seu foco é no sublinhar preciso do mais importante. Neste filme-experiência em que os próprios são empurrados para o seu processo, vemos um grupo de mulheres brasileiras que falam sobre grandes e pequenas questões. (M. V.)
Entre Paredes descreve-nos os pormenores das rotinas diárias de um casal. Os gestos e acções dos dois, numa dança silenciosa mecanizada pelo hábito, são testemunhados pela casa que os acolhe e também lhes dá vida, luz, espaço, e o tempo que os regista. (R. F.)
Antes da investida é preciso sentir o peso do corpo. (Sandro Aguilar)
O animal potente respira e muge na penumbra. Lá fora, estão todos à sua espera: falam, gritam, comem, bebem. O espectáculo vai começar. (M. C.)
Os cinco elementos Japoneses são, por ordem de importância – Terra, Água, Fogo, Vento e Vazio. Pessoas e animais estão lado a lado num jogo muito antigo. Há o dia e a noite. Tudo existe simultaneamente. Uma viagem pela fronteiras portuguesas. Ordenar segredos do mundo visível (André Príncipe)
Um filme que tem como actor principal o complexo das piscinas das marés, desenhadas por Siza Vieira, em Leça da Palmeira. Mais do que um registo sobre uma obra de arquitectura, é um filme que explora os conceitos de espaço e som. Um filme sobre um lugar e as suas entranhas, construído com a solidez de planos rigorosos. (C. R.)