Um grupo de amigos junta-se num jantar de aniversário. A refeição está no fim e o ambiente está animado: as pessoas cantam, bebem, abraçam-se, contam piadas. Então alguém faz uma adivinha: Três aranhas caminham num tronco de árvore na Amazónia‚Ķ. A tarde vai mudar de tom.
Secção: Cinema emergente
Por vezes debaixo do nariz de um Homem estão coisas que só o próprio Homem não vê. Um cágado que não sai do mesmo sítio revela a teimosia de um homem que vai até ao outro lado do mundo para o encontrar. Uma animação com cor e diferentes escalas, baseada num conto de Almada Negreiros. (Carlos Ramos)
1 de Agosto, algures no campo de Aubonne, Cécile e a filha Marion, de dez anos, acabaram de adquirir um velho Ford Taunus dos anos 1970. Mas a sua viagem é incessantemente adiada. Talvez, no entanto, uma vez que os problemas se resolvam, o caminho em frente se abra para Cécile e Marion. Tão longe como a lua.
Se um dia a terra deixasse de girar sobre si própria, um dos lados perderia a luz do sol. Mas se alguém lesse uma sequência de frases em voz alta, perduraria durante esse tempo uma luz mais brilhante do que o dia. Num filme texturado a gravura e colagens, conta-se essa história – uma narrativa imaginativa, perturbadora e profética. (Miguel Valverde)
“La vie lontaine” é o título do romance inacabado de Haruki. Yoshido prepara um filme com o mesmo título baseado no manuscrito do seu falecido amigo. Quando Martin encontra o fantasma de Haruki perto da floresta que faz fronteira com a casa ainda não sabe que vai tornar-se o protagonista desta vida distante.
Uma jovem mãe, duas crianças, e os fragmentos de um dia num subúrbio parisiense.
Para Roque, acabado de chegar do interior, a universidade em Buenos Aires era uma oportunidade para conhecer raparigas, mas é pela política que ele se apaixona. Entre aulas e festas onde se joga a popularidade, a curiosidade e algumas inseguranças, todos estão à procura de si próprios, mas Roque é descoberto pelo discurso sentido da intrigante Paula e pelas conversas mais ou menos informais onde se aborda o capitalismo, o marxismo, um Rousseau e um Hobbes, a necessidade ou não da guerra e a hipótese de uma nova ordem social. Quando as diferenças dividem a associação de estudantes e instalam o caos, Roque afirma-se como líder estudantil, por um melhor ensino. Com um estilo cru, câmara à mão e planos fechados nas personagens que nos fazem sentir as suas lutas (interiores também), tropeçamos nelas à medida que vão tropeçando umas nas outras. (Ágata Pinho)
Mathieu, de 15 anos, estuda num liceu agrícola em França e trabalha em part-time na quinta de Paul, uma pequena criação de gado leiteiro nos planaltos da região de Haut-Doubs, na fronteira com a Suíça.
Recorrendo a uma iconografia variada, num diálogo estimulante, o realizador retrata a vida de um vigarista. O conjunto de pedaços animados ilustra os seus vícios e os nós que se criam à medida que as cartas, as mulheres, os aplausos, o declínio e a ascensão se sucedem. A música e o som, distante, de pessoas e lugares perdidos algures em 1963, inflamam a experiência. Num bar ao longe ouvimos conversas, bolas de snooker a chocar umas contra as outras, um piano solitário. A colagem de estímulos mergulha-nos, agita-nos, acalma-nos e é a nossa respiração que abranda à medida que o ritmo do filme se torna mais lento e ganhamos espaço para pensar no que acabámos de absorver. Uma voz murmura perdeste qualquer coisa, o que de mais valioso as crianças possuem e entre pequenas destruições, joga-se a vida, consome-se, ganha-se e perde-se dinheiro. (Ágata Pinho)
Escrito em dois momentos, como uma partitura, “Kinogamma” vagueia numa melodiosa evasão. Partindo de um movimento lento baseado num arpejo de blues, desliza para um ritmo staccato seguido de uma transe alaranjada. Surge uma melodia e a câmara filma amorosamente o poema, abraçando rostos familiares.
A atribulada fuga de um jovem africano da sua terra natal. A procura de um mundo melhor, onde a guerra não faça parte do dia-a-dia. Mesmo quando a vontade de um só homem é inabalável, aquilo que o rodeia pode pregar-lhe uma partida. Uma animação que nos deixa sem fôlego enquanto acompanhamos esta viagem amarga. (Carlos Ramos)
Josh regressa a Buenos Aires para um estágio não remunerado. Está à procura de qualquer coisa, talvez de coisa nenhuma, mas ainda assim tenta restabelecer a ligação, depois da sua primeira visita, com a cidade, o povo e uma rapariga que desapareceu da sua vida. Embora mais crescido e mais sábio, ele continua a sentir-se um estranho, incapaz de criar um laço com aquele sítio. Sente-se sozinho e perdido. De repente, por detrás do papel de parede florido do seu quarto ele recebe uma pancada surreal. Do outro lado, Anna assinala a sua presença. Ele escuta-a por um bocado, mas parece estar ausente da sua própria vida. Viciado no skype e em e-mails imaginários, não consegue conectar-se com o mundo real. A ausência parece ser o tema principal do filme, com a sua atmosfera niquenta e emocionalmente confusa, presa entre o passado e o presente. (Nina Veligradi)
Thibault tem muitas responsabilidades apesar da sua idade: cuida do seu rebanho, das suas abelhas e do seu terreno. O pequeno homem domina perfeitamente o seu trabalho. Voltamos à essência da vida, à terra, ao fogo, à agua… Descobrimos os seus sonhos, os seus problemas, a sua amiga Ophélie que vem da cidade e alguns dos seus amigos. (Miguel Cabral)
Sobre dois jovens formados por uma cultura de sucesso com dois homens que personificam uma visão niilista e desmaterializada da sociedade.
Para Alex e Nica (Gael Garcia Bernal e Nani Furstenberg), apaixonados e quase a casar, tudo é brilhante, colorido e os objectos à sua volta têm uma vivacidade tão incrível que parecem brinquedos. Tudo é permitido. Eles são jovens e partem à descoberta das montanhas de Cáucaso, na Georgia. Dato, o guia que os acompanha mostra-lhes o caminho, mas à medida que os três mergulham no verde majestoso das montanhas, um gesto faz toda a diferença e há algo sob ameaça ‚ a masculinidade dele, a protecção dela, o perdão como reabilitação da sua relação. O silêncio progressivamente substitui os sorrisos que eram automáticos enquanto recolhem a tenda. A realizadora, na sua terceira longa metragem, adapta uma história de Tom Bissell e mostra-nos os planos mais improváveis, com quadros que surpreendem a cada novo corte. A música de Richard Skelton, com a sua textura lancinante de cordas, preconiza a solidão prestes a instalar-se. (Ágata Pinho)
Era uma casa, idêntica a uma construída de tijolos de brincar. Desde que o nível da água do mar subia mais e mais alto, também a casa era construída mais e mais alto. Esta é a história de um avô que vive na casa e das memórias da sua vida com a família.
António, Zé Maria e João vivem na Casa à medida que a constroem. Durante dois anos eles reiniciaram processos vezes e vezes sem conta, de acordo com as suas funções na Casa. As transformações de cada divisão obrigam a constantes mudanças na sua organização. As salas para refeições, para vestir ou descontrair mudam, assim como os seus habitantes. O tempo passa. Os moradores entram e saem de cena. A câmara não os segue, permanece, focada no particular. A luz natural invade os espaços geométricos, intensificando-se à medida que o trabalho avança. O som ambiente também muda. Os silêncios predominam. Os contrastes são cada vez mais fortes. No final, vemos os homens que fazem o filme para alguns, o trabalho para outros, ou simplesmente uma casa.
Certa noite, o meu avô Tahar faleceu nos cuidados paliativos. Zouina, a sua enteada, está lá. Aziz, o seu filho, está lá. Fayçal está lá. Eu estou lá. Deus não está lá? Kamel chega tarde demais.