Mud Crab

O jovem e animado Spike sente-se como um conquistador quando apanha o seu primeiro caranguejo da lama. Agora vai tentar, numa animação simples mas muito inteligente, cheia de pormenores, agarrar-se a ele sem que seja agarrado pelas suas pinças implacáveis. Uma armadilha para o animal e para o homem também. (A. P.)

Men of the Earth

Através de um vigoroso plano sequência vemos um conjunto de homens. Não falam, mas comportam-se como se estivessem num ritual. É uma elegia fúnebre num estaleiro de obras. Por isso não somos surpreendidos quando Kavanagh, que conhecemos do magistral At the Formal (IndieLisboa ’12) nos empurra do absurdo para a realidade. (M. V.)

A quoi tu joues

À procura de casa para alugar, Benoît vive temporariamente num hotel. Por ter reparado que os apartamentos são mais facilmente alugados a casais do que a solteiros, pede a Jeanne, sua vizinha de quarto, que finja ser sua namorada. Apaixona-se por esta rapariga, inclinada a apostar em cavalos, e deixa-me levar por uma perigosa aposta de amor.

Un autre homme

Apesar de não perceber nada de cinema, François escreve críticas num jornal local em Vallée de Joux. Rosa é uma crítica conhecida. Entre os dois desenvolve-se uma relação bizarra que leva François a descobrir os desígnios do desejo: desejo de uma mulher, de uma crítica, e em última análise de si mesmo.

Por Aqui Tudo Bem

No final do verão de 1980, Alda e a sua irmã Maria, com a idade de 16 e 17 anos, chegam a Lisboa para escapar da guerra civil em Angola. Entregues a si próprias, elas vão ter que aprender a sobreviver numa cidade estrangeira. Alda e Maria vão construir uma nova vida do zero e tornar-se mulheres. Quando os problemas se tornam quase insuportáveis, chega-lhes uma notícia terrível. Paradoxalmente, é esse susto que lhes vai dar a força para decidir o seu destino. (Pocas Pascoal)

Alpis

Alps é o nome de uma empresa cujos empregados ocupam o lugar de pessoas falecidas recentemente, de forma a ajudar os seus parentes a fazer o luto. Na lógica primária do filme, a transformação das personagens em pessoas mortas é absurda. O absurdo e a irracionalidade que estão contidas na condição humana são a principal preocupação do autor, Yorgos Lanthimos (realizador de Dogtooth), e ele expressa-a de forma brilhante. Trazendo à ideia o teatro do absurdo, as personagens vão ensaiando os seus papéis, construindo assim uma metáfora baseada no humor e na surpresa. Elas discutem utilizando falsas lógicas para se convencerem a si próprias e aos outros como se pouco a pouco se transformassem em rinocerontes. Contudo, há um membro da empresa que está decidido a manter a sua individualidade e humanidade. A atleta de ginástica rítmica Beranger recusa a transformação, só porque quer dançar pop – que aqui pode significar também a existência da vida. (Nina Veligradi)

Los mejores temas

A realidade e a ficção confundem-se, as mesmas situações repetem-se. A metodologia deste jovem cineasta mexicano revela-se perante o espectador. O que interessa Pereda é a transgressão das convenções clássicas do cinema narrativo. A ficção é um pretexto para chegar mais perto do pensamento dos seus actores (não actores/modelos) e atingir uma certa crueza emocional. A historia é simples: Gabino Rodriguez tenta memorizar, repetindo incansavelmente na cozinha, na casa de banho, no quarto, os títulos de um disco do cancioneiro romântico mexicano que tenciona vender. Assistimos também ao regresso do(s) pais depois de vários anos de ausência. O filme trabalha de forma assombrosa os processos de representação e de repetição da realidade e de como nos relacionamos com ela. As Variações Goldberg acompanham esta obra maior do cinema contemporâneo a que devemos sempre voltar. (A. I. S.)

Complices

Vincent e Rebecca têm 18 anos e uma vida despreocupada. Mas dois meses mais tarde, o corpo de Vincent é encontrado no Rhone e Rebecca desaparece. A investigação do caso é entregue a um polícia de 48 anos, que é posto perante uma decisão fundamental que pode mudar totalmente a sua perspectiva de vida.

17 filles

17 Adolescentes tomam juntas uma inesperada decisão que vai mudar as suas tranquilas vidas causando a incompreensão dos rapazes e adultos que as rodeiam: decidem engravidar todas ao mesmo tempo. Baseado numa história verídica que teve lugar em 2008.

Le grand soir

Punk’s Not Dead. Not é o mais velho punk da Europa e tem um irmão, Dead, que de um um dia para o outro é despedido de uma loja onde era vendedor de colchões, e vai viver com o irmão para a rua. Os dois decidem lançar-se numa guerra aberta contra a sociedade de consumo e todos os seus sonhos capitalistas. Juntos querem ser livres e provocar uma revolução‚Ķ à sua maneira. Le Grand Soir é um road trip poético que tem como cenário, uma zona periférica e comercial de uma cidade. Filme satírico e exigente, da dupla de realizadores belga, e que vem comprovar que a sua filmografia é absolutamente incontornável e que será urgente ver nesta décima edição do festival. Com este filme está convocado o espírito punk e com ele, todos os seus espectadores. We are not dead. (A. I. S.)

Les cheveux courts, ronde, petite taille

Quando Robin repara que a sua vizinha da frente é parecida com a sua falecida mãe, começa a filmá-la de forma obsessiva e compulsiva. Partilha connosco o seu dia-a-dia à janela, vigiando a varanda do duplo, à espera de algo que ele tão pouco sabe. (M. C.)

7 Peaks

Depois do filme sobre o deserto ártico, Anna Abrahams leva-nos para os picos das montanhas. A viagem é sagrada, à procura do desconhecido, guiado por frases de aventureiros onde cada um tem a sua própria maneira de sentir a experiência de subir ao topo de uma montanha, a paisagem e o mistério. (Miguel Cabral)

Le libraire de Belfast

Num documentário à volta da paixão dos livros, cruzam-se personagens surpreendentes que aos poucos nos chamam para os seus universos particulares. Um filme que prova que quando se ama a sua profissão, ninguém se reforma, verdadeiramente, ainda que afirme continuamente que os seu tempo passou.Enquanto isso, um jovem punk tenta encontrar o tom certo na ária de ópera que estuda. (P. C.)

When Night Falls

Depois de estreado no festival de Jeonju, as autoridades chinesas tentaram comprar o filme de forma a proibir a sua circulação internacional. A família do cineasta foi convocada pela policia e respondeu a interrogatórios. O realizador vive actualmente exilado em Hong Kong. Um jovem, Yang Jia foi preso e espancado pela policia de Xangai por andar de bicicleta sem licença. Depois de sofrer várias pressões, entra numa esquadra e mata seis policias. Foi condenado à morte, sem julgamento. Este caso interessou os activistas chineses e o estúdio de Ai Weiwei chegou a produzir um filme para denunciar este trágico acontecimento. When Night Falls conta a história deste caso real. A mãe de Jia, interpretada pela fabulosa actriz Uma Nei, foi detida num hospital psiquiátrico durante 143 dias para não depor a favor do seu filho, quando ele saiu da prisão. O que está de errado nesta sociedade? grita ela. É uma pergunta a que a China não quer responder. (A. I. S.) “

Yaderni wydhody

O ritmo de uma central nuclear é monótono. Os homens conduzem os camiões com os lixos tóxicos, as mulheres procedem à descontaminação da estação. Mas este trabalho tão perigoso quanto difícil é o que fazem Sergey e Sveta. Para eles não há dias de descanso e mesmo o sexo é meramente operativo, uma acção como qualquer outra. (M. V.)

Yumen

Yumen, situada no noroeste árido da China é hoje uma cidade-fantasma, outrora cidade próspera que a exploração petrolífera fez crescer. Rodado em 16 mm, o filme de J.P. Sniadecki, em co-realização com Xu Ruotao e Huang Xiang, percorre as ruínas desta cidade, numa mistura poética de documentário com ficção. Os fantasmas parecem habitar os interiores dos espaços abandonados na aridez da paisagem circundante. As paredes que ainda estão de pé servem de telas à inspiração artística. A colagem narrativa de gestos, arte performática e realismo urbano constrói a originalidade de Yumen, fazendo deste filme uma obra singular que nos leva a reflectir sobre o crescimento desenfreado de cidades à volta de indústrias, que depois declinam e levam ao êxodo populacional. (C. C.)

Workers

Cenas da luta de classes no México resultam numa comédia negra e absurda. A história de Rafael não é muito diferente da de Lidia. Ele limpa a mesma fábrica há trinta anos e no seu último dia de trabalho estreia um novo par de sapatos para celebrar a ocasião, mas é informado de que por ser imigrante ilegal não receberá pensão de reforma. Lidia é empregada doméstica na casa de uma mexicana rica, mas inválida. Após anos de dedicação a cuidar dela e do seu cão, a patroa morre, deixando tudo o que tem ao animal. Lidia vê-se mais uma vez desamparada, de volta ao ponto de partida, agora com um cão como seu empregador. José Luis Valle mostra-nos a vida destas pessoas de uma forma que nos faz sentir próximos delas, pensar na injustiça da sua situação e admirar a sua resistência.

O Fim do Mundo

O Fim do Mundo parte de um esqueleto ficcional sobre um dado tempo no final da adolescência, para ser preenchido por um corpo documental – uma Setúbal industrial e a realidade presente de um grupo de jovens do bairro da Bela Vista. (Pedro Pinho)