Três quadros estranhos e insólitos protagonizados pela realizadora que literalmente testa os seus limites nestes encontros com a paisagem de São Miguel, nos Açores. A força que emana da paisagem filmada é tão sedutora quanto a forma arriscada do encontro entre imagem e som. Filme-limite para uma artista portuguesa inventiva. (Miguel Valverde)
Secção: Cinema emergente
A história de família de um pai cigano e de uma mãe não cigana serve de inspiração à realizadora para ir à procura do que a sua vida teria sido se o pai, inspirado pela sua própria mãe, não tivesse quebrado a tradição onde nasceu. Neste percurso encontramos a jovem Joaquina, inserida na comunidade cigana que serve de referência à realizadora na sua auto-descoberta. (M. Moz)
Dragonslayer retrata a vida e as viagens de Josh, um skater profissional ‚ Skreech ou Dragonslayer, segundo o nickname de um amigo. Em modo auto-destrutivo, Josh viaja da Califórnia para Copenhaga, seguido por grandes angulares e por uma atmosfera suja mas despretensiosa. Um documentário dividido em 11 capítulos que têm como título frases de duas palavras que resultam de uma luta irregular entre a maturidade e a imaturidade da existência de Josh. Enquanto anda de skate em piscina vazias, invade casas abandonadas, Josh está à procura de um sentido. Com uma poesia ao estilo punkrock, um impressionismo rude e uma fotografia deslumbrante que usa cores brilhantes, este documentário destina-se especialmente aos sonhadores e aos descomprometidos. Um filme sobre juventude, música, viagens, amor e skate que, como dizia o tema de Nirvana, cheira a espírito jovem. (Nina Veligradi)
Enquanto outros adolescentes saem e apanham primeiras bebedeiras, Sabine concentra-se em tornar-se atleta de alta competição. Tem um único objectivo: desenvolver as suas proezas físicas seja a que preço for. A palavra fracasso não existe no seu vocabulário. Mas, a continuar assim, pode estar a caminhar para o abismo.
Somos convidados na residência de Ragnhild Borgomanero (e do seu falecido marido) que detém a maior colecção particular de fósseis da América latina. Guiados pela extravagante dona de casa e através de um dispositivo muito assumido de planos fixos encenados, vamos descobrir um espaço que abunda em História e histórias. (Miguel Cabral)
O Dr. Johannes Hagel, psico-físico alemão, prepara-se para enunciar o princípio da contingência através da sua experiência com um comboio de modelismo ligado a um computador. Um filme hipnotizante sobre ciência e uma narrativa que nos absorve do início ao fim. Para quem acredita em coincidências e para quem não acredita em coincidências. (C. R.)
Um cientista fala-nos que Plutão deixou de ser considerado um planeta. Os sentimento de desilusão e nostalgia, e a impossibilidade de não poder voltar a certos momentos da sua vida, levam-no a querer encontrar na história de David uma resposta para o que quer que exista para lá da ciência e da razão. (Jorge Jácome)
Pincus Finster (David Nordstrom) vive em Miami e está entre empregos, a tentar tomar conta do pai que sofre de Parkinson. O negócio de construção da família é outra das suas responsabilidades, mas leva-o pouco a sério. Passa os dias na companhia de Dietmar, um imigrante ilegal de meia idade que trabalhava para o pai, com quem fuma erva e bebe cerveja. Quando se inscreve nas aulas de ioga de Anna, a sua mente abre-se para o mundo das terapias alternativas, que tenta aplicar ao pai, também como desculpa para passar mais tempo com Anna e, quem sabe, dormir com ela.
Mischa é o anti-herói em crise e está no vértice de um inusitado triângulo de desamor. É despedido da escola onde ensina e lança-se numa espiral de más decisões. A personagem interpretada por Nonny Geffen, que também realiza o filme, não perde muito tempo a pensar no que tem de fazer. Os acontecimentos escalam e Mischa age conforme lhe parece melhor: rapta uma aluna menor, enfrenta um grupo de feministas enfurecidas, mata a mãe – não faz mal, ela pediu-lhe, era apenas um favor – vai atrás de uma antiga paixão. Os três, raptada, raptor e apaixonada, instalam-se no apartamento dele numa convivência algo possessiva à espera do momento em que tudo acaba. A salvação vem sob a forma de uma estrela de cinema israelita. (M. M.)
Um longo travelling inicial estabelece o ambiente desta curta vencedora da Palma de Ouro de Cannes em 2011. As tensões provocadas pela aparência do fim da adolescência dão lugar a confronto, mas o terno e misterioso final remete-nos para o lirismo do princípio. Um eterno retorno filmado com mestria e rigor. (Miguel Valverde)
As mesmas situações repetem-se e a realidade e a ficção confundem-se na cabeça das personagens, para formar um filme singular e circular. A natureza está lá como pano de fundo generoso, enquanto a importância da literatura se sobrepõe a tudo, mesmo à verdade. Os livros e a música alta funcionam como distracção e tudo é inventado, excepto a constatação com que o narrador começa: Júlio vive e Emília morre. Eles tinham Proust em comum, mas nenhum deles lera todos os seus livros. O número de páginas na memória funcionava como garantia, uma forma de cuidar da relação como se ela fosse um bonsai. Oito anos depois, Blanca é a sua nova companheira, crente nas pequenas mentiras que ele lhe conta a ela e a si próprio. Nos planos multiplicam-se as janelas, varandas, portas e pontes, mas não há como ver para dentro do que as personagens realmente são. (Ágata Pinho)
A partir de fotografias da sua família e do namorado, Carina Freire realiza o retrato de dois clãs, em tudo opostos. Entre os dois: ela.
Três histórias sem aparente ligação entre si, apenas com um ponto comum: uma profunda observação dramática associada à maternidade. Tentar encaixar O que se move numa gaveta cinematográfica é deixar escapar um filme que não tem medo de não se encaixar num território formal. Caetano Gotardo foi temerário e saltou todas as fronteiras para explorar os territórios que o interessavam. Nesta quase tragédia grega em III actos, a monstruosidade de cada uma das acções é totalmente subjugada ao amor maternal e moldada pelo romantismo. A crueldade está, sim, nos gestos quotidianos, no regresso à banalidade depois de um acontecimento que destrói todas as fundações. (M.M.)
Um padre tenta lutar contra as tentações do amor não correspondido de uma mulher comprometida. Tenta a razão, a fé, a magia e, por fim, a vilania, aterrorizando a cidade. Além de ser uma homenagem ao cinema mudo, O Facínora recupera o filme perdido de Conrad Wilhelm Meyersick, um engenheiro e cineasta alemão que filmou a história em 1920, de visita a Guimarães. (A. P.)
Inspirado no culto popular, O Coveiro é um filme misto luz misto trevas, história de embalar e quase um terrível pesadelo. Uma criança nasce e os pais morrem de susto ao vê-lo. A sua vida ‚ e ocupação ‚ são definidas por essa impressão. André Gil Mata revisita o conto de cordel tradicional português, num filme fantástico onde saltam cabeças, mas ouve-se uma canção. (A. P.)
Entramos no mundo íntimo de Ely e Nina Bielutine, que vivem em Moscovo na companhia de um corvo, alguns gatos e a maior colecção privada de arte renascentista (pinturas e esculturas). Este retrato profundamente humano marca paralelos constantes entre a vida real e o sonho e ensina-nos como a arte pode influenciar a maneira como vemos o mundo. (Karim Shimsal)
Um chico-esperto, um sonhador, um simplório e um preguiçoso vivem em comunidade numa era pré-civilizacional. Através de uma visão precisa de cinema, o realizador mostra com pessimismo e humor que o homem é um ser que permanece igual a si próprio, independentemente das mudanças que origina no mundo. E tem um final em grande estilo. (Miguel Valverde)
Um filme no domínio do pagão e do popular. Um documentário com várias camadas do Portugal rural sobre um homem chamado Antero. Antero é perverso. Antero recita rimas, quadras e ditos populares. Antero ri-se. Antero recolhe objectos perdidos e ajeita tudo o que lhe aparece à mão. Como disse Joseph Beuys, cada homem um artista. (Carlos Ramos)