A vida não podia parecer mais ditosa para Bogdan, férias de mar com a deslumbrante mulher e o adorável filho pequeno. Cresceu: os tempos das pândegas gloriosas e das aventuras sexuais são histórias passadas… Mas quando encontra inesperadamente os melhores amigos de liceu, voltam-lhe instantaneamente memórias vividas. Apanhado entre as obrigações familiares e a tentação de uma noitada com os velhos amigos, Bogdan – ou Boogie, como então lhe chamavam – chega a uma conclusão. Os fossos entre os amigos aumentaram. Ao que parece a amizade já não se pode basear nos gostos comuns por mulheres, cerveja ou equipas de futebol.
Secção: Cinema emergente
Durante uma vulgar soirée em frente a uma telenovela, uma rapariga rejeita os incessantes sinais de afecto da sua mãe. O ambiente caloroso do lar familiar torna-se sufocante.
Numa cadeia transmontana começam os preparativos para a encenação da Via Sacra e os prisioneiros, como se fossem alunos outra vez, reúnem-se na sala de aula e recebem instruções. O documentário acompanha-os desde os primeiros ensaios até ao dia da procissão, com uma visão detalhada do processo: a dramaturgia levada muito a sério, as feridas na imagem de Jesus pintadas ao pormenor, a construção das cruzes de madeira que constituem o quadro final do filme, os mais velhos que assistem e cantam sobre a vida e o tempo que não volta atrás. A realização recorre a planos sucintos, cheios de pequenos apontamentos ‚ o poster de Jesus numa porta, qual celebridade que um deles vai encarnar. A quietude do campo e a vida pacífica da comunidade rural que com eles coexiste contrasta com a tensão latente, a incerteza do futuro e contribui para a nostalgia da tradição. (Ágata Pinho)
A realizadora deste filme-performance enfrenta o poder da natureza enquanto tenta convencer uma cascata a transformar-se numa central energética. O seu discurso, os argumentos que utiliza, o seu raciocínio supostamente ecológico e bem fundamentado só camufla a nossa falta de senso comum mais básico. O que tem a humanidade a ver com a natureza? Estamos a tentar dar o nosso melhor ou dominar? (Karim Shimsal)
Transformar uma cidade num formigueiro é apenas uma questão de perspectiva. A maneira como vemos uma coisa determina o seu significado. Aqui observamos vidas inteiras ao longo de um dia. A energia transforma-se em futilidade e os objectivos comuns numa agitação sem sentido. (Karim Shimsal)
Num futuro próximo seremos capazes de encontrar refúgio em implantes de memória que nos permitam viver num mundo ficcional vintage. A morar nesta falsa realidade, recriada com imagens antiquadas, está uma mãe que decidiu apagar a morte da sua filha. Mas a criança ainda lá está, algures, escondendo-se nos espaços perdidos da sua memória. (Karim Shimsal)
No Alasca a paisagem nunca muda, só envelhece.
“Alicia en el País” segue uma rapariga de 13 anos da tribo Quechua durante uma viagem a pé de 180 quilómetros. Alicia parte da sua aldeia no sul da Bolívia para procurar de trabalho no norte do Chile, na turística cidade de San Pedro de Atacama. Grandes planos filmados com câmara à mão, apenas com a respiração da rapariga e o repetitivo ruído dos seus passos na banda sonora, longas panorâmicas laterais nas quais as linhas horizontais das planícies interagem com a geometria da silhueta de Alicia; tudo sublinha o esforço envolvido numa viagem como esta.
Vagueando por imagens em movimento captadas com uma câmara de turista justapostas a clássicos do Cinema, From New York with Love é um ensaio sobre a crescente relação de um estrangeiro com o país que o acolhe. (André Valentim Almeida)
12… explosões em Viena.12 … explosions in Vienna.
Uma paródia moderna do film noir. A estrutura segue o exemplo clássico da narração em voz off, na base da primeira pessoa pelo anti-herói Enzo, como mecanismo de estruturação do enredo. Enzo é um ladrão que saiu da prisão recentemente, especialista em abertura de cofres com as próprias mãos em 10 minutos. Ele é o protagonista trapalhão clássico, parecido com um Peter Sellers, emocionalmente alienado já há tanto tempo que não se lembra da última vez que sorriu a alguém. Mas há uma colega de crime, uma heroína femme fatale, que desperta a sua atenção e desejo. O filme é parcialmente filmado num bar decadente com artistas de cabaret falhados e casas de jogo, e em parte ao ar livre, em estações de metro e fábricas. Um conto noir europeu sobre corrupção, sedução e desilusão e uma homenagem ao filme noir/soleil. (Nina Veligradi)
Num parque industrial francês em decadência, Mao, um chefe muçulmano, é proprietário de uma empresa especializada em reparações de camiões e paletes. Decide abrir uma mesquita e nomeia o imã sem consultar os trabalhadores.
O vocalista de uma banda de hard rock está a desempenhar o seu papel de pai, a caminho de se encontrar com a esposa para assinar os papéis do divórcio, e a redescobrir-se a a si mesmo como um adulto. O muito aguardado For Ellen de So Yong Kim debruça-se mais uma vez sobre o lado humanista, examinando a imaturidade quando se trata da paternidade. A tentativa de construir uma relação entre pai e filha, uma criança confusa a tentar lidar com a rejeição e um pai desesperado, cheio de culpa, que tenta explicar a sua ausência. Não sabendo como agir, ele parece menos maduro que a filha, incapaz de se relacionar emocionalmente e a lutar para manter alguma ligação com o lugar onde pertence. Ele interroga-se, na presença da filha, se deveria estar ali, criando ainda mais incerteza e medo. Um drama sobre a infância, dado pelo ponto de vista de um músico falhado, um pai ausente que tenta ganhar presença na sua própria vida. (Nina Veligradi)
O tempo passa por nós como uma tarde passageira. Corre como as nuvens no céu levadas pelo vento, à deriva. Enquanto o tempo passa vivemos e sentimos a sua passagem. Uma breve reflexão sobre a passagem do tempo sobre nós, vista através de dois momentos da vida das nossas mães.
Se uma mulher estiver acima dos 40, filhos crescidos e um companheiro pouco delicado, pode ter razões para se interrogar sobre a forma como conduziu a sua vida. Ou foi levada por ela. Faça o que fizer, de qualquer forma, vai sentir-se sempre errada‚Ķ (Possidónio Cachapa)
Victor é um ex-músico rock que faz tudo para ajudar o filho toxicodependente e a banda rock deste, numa pequena cidade romena. Ao mesmo tempo, tenta reconstruir uma nova família com a mulher com quem está. Mas a vida de Victor parece complicar-se cada vez mais e pender para o lado do filho e da sua banda rock. Depois de Morgen, que o IndieLisboa mostrou em 2011, Marian Crisan regressa com a sua segunda longa-metragem, Rocker, centrando-se na relações familiares, entre pai e filho. O filme segue este pai perdido num labirinto de emoções e frustações, cujo escape acaba por ser afinal a música rock e o concerto da banda numa cidade maior. (C. C.)
Robin e Robin encontram-se numa lavandaria. Enquanto esperam que o ciclo de lavagem termine deixam-se atrair por uma óbvia semelhança. (M. Moz)
Cinco Emiles ‚ talvez em memória das cinco crianças que Rousseau abandonou à assistência social chapinham na banheira. A sua conversa sobre a natureza, o homem e a educação é animada, paradoxal e bem humorada.