Eis um dia quente na praia de Casablanca em Marrocos. Através do delicado e divertido estilo de El-Faris… o desejo que nasce na adolescência… a brincadeira e a curiosidade das crianças… os adultos a serem adultos em vão.
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Miúdos e graúdos num dia de praia em Casablanca, Marrocos. Ninguém está sozinho, as interacções sucedem-se, o desejo e a curiosidade estão às claras. O divertimento é rei e a ternura é incontível. No final do dia toda a irreverência valeu a pena. Como sempre vale. Um filme tão profundamente livre e doce quanto a história que conta, Sukar é uma lição em montagem e economia narrativa, profundamente consciente das capacidades do cinema como linguagem universal. (Ana David)
Uma melga que se escapa de boa. Uma tatuagem de um tigre. Coleccionar provas de infidelidade. Voyeurismo de traição. O adultério e a caça. Repensar as relações e a sexualidade. Animação adulta. O sorriso e o orgasmo solitário.
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Uma mulher à espreita. Uma inquietação constante. O acto de lidar com uma infidelidade é como estar a olhar para um espelho e questionar-se quem será a mais bela. Mas as coisas não duram para sempre e os pequenos objectos fazem toda a diferença. E a seguir à dúvida, vem a curiosidade. E um conhecimento interior. E uma nova vida. Sou eu a mais bela.
O Verão está uma brasa. E junto ao lago, Mia, 11 anos, pergunta a Hugo, com os seus já veteranos 15 anos, como foi a sua história de amor com Chaïnes. A linguagem da infância e da memória em torno do amor, do toque, do insulto, da tormenta, do beijo…
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O universo infanto-juvenil tem sido tema recorrente no cinema de Isabel Pagliai. Mas ao contrário da forma tradicional de tratamento do tema, Pagliai subverte-o e coloca os adolescentes a dizer o que pensam e de forma muito realista. Neste mundo do qual não se sabe muito, adultificam-se comportamentos e sugere-se que talvez seja no meio, entre a ingenuidade e a perversidade, que a maioria dos adolescentes de hoje se situa. Média metragem de folgo, este documentário-ficção carrega o tempo com que se fosse um fardo e densifica-o. (Miguel Valverde)
Os pratos sujos amontoaram-se na casa dos ursos Ned e Mishka, mas eles não têm vontade de arrumar. Como estão com fome, Ned lembra-se de telefonar ao guaxinim: para ele, lavar a louça não deve ser um problema.
O músico alemão Klaus Dinger foi um dos membros fundadores da banda NEU!, e baterista dos Kraftwerk. Foi também um dos pioneiros da chamada batida Motorik, sonoridade de marca de muita da música experimental alemã dos anos 60 e 70, com influência em artistas como Iggy Pop, ou grupos como os Joy Division ou Primal Scream. Jacob Frössén traça aqui a história de Dinger e a hipótese de um trauma amoroso ter estado por detrás da criação dessa célebre batida.
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Podíamos descrever o apache beat do lendário baterista alemão Klaus Dinger como a repetição do 4:4 num padrão melódico que parece infinito; se o fizéssemos estaríamos a reduzi-lo à sua vertente mais mecânica. Através de imagens tão ou mais incomuns que o próprio Dinger, acompanhadas pela contrastante narração de Kim Gordon, somos convidados a descobrir a história de amor que influenciou alguns dos incontornáveis da cena rock alemã da década de 70. The Heart is a Drum é não só um filme sobre o processo criativo que acompanhou Dinger entre os Kraftwerk e os Neu!, mas também sobre o (des)amor que o alimentou. (Filipa Henriques)
De 1922 a 1924, o historiador de arte alemão Aby Warburg esteve internado numa clínica psiquiátrica em Kreuzlingen, na Suíça. Acedendo aos seus escritos e a relatórios médicos desse período, esta é uma viagem pela sua mente, entre a loucura e a genialidade.
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Filme pequeno para o gigante Aby Warbourg, incontornável autor do museu Mnemosyne. A persistente memória visita elementos trágicos da vida do historiador de arte, na primeira pessoa. Diários e dados clínicos completam a biografia dum criador icónico. Uma enorme parede expositiva cresce e recua num progressivo afastamento imersivo; figuração do movimento do tempo, da imagem, do som. Momento evocativo e testemunhal da loucura de Warbourg, que nos torna cúmplices face a este insaciável criador. (Carlota Gonçalves)
Pobre Sr. Raposa! Os irmãos estão sempre à briga e é ele quem paga as favas. Desta vez ficou sem um braço. É tempo de fazerem as pazes e de tratarem do Sr. Raposa.
A luz revela, mas pode sacrificar. A partir de um trabalho de improvisação visual e sonora, Reinaldo Almeida explora as ligações entre a lenda dos druidas e uma misteriosa casa. Exercício de atmosfera que une o que nos contam e o que queremos contar.
A primeira longa de Matthew Rankin é uma maravilhosa bizarria camp. Cenários que fazem lembrar o expressionismo alemão, a estética da televisão dos anos 80, ou a influência de gente como Guy Maddin, John Waters ou mesmo os primeiros trabalhos de Peter Jackson. O alvo: a história e costumes canadianos. Uma divertida pseudo biopic que imagina os primeiros anos de formação do antigo primeiro ministro do país, William King, o político e o choninhas.
A bruxa está a sentir-se velha. Por isso resolve fazer um feitiço para ficar jovem. Mas falta-lhe um ingrediente muito especial: um bebé. A pequenina princesa do reino mais próximo parece ser uma excelente escolha. Será?
Inspirado nos poemas gregos e latinos que davam lugar de destaque às artes da agricultura – como são os casos de Os Trabalhos e os Dias de Hesíodo e de Geórgicas de Virgílio -, esta é uma obra que acompanha o trabalho no campo de uma família japonesa, numa pequena vila perto de Kyoto. Catorze meses de rodagem convertem-se nestas oito horas que são uma magnífica ode ao trabalho, à terra, à paisagem sonora e à passagem do tempo e das estações.
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Tayoko Shiojuri, agricultora, esposa e mulher que vive numa pequena aldeia perto de Kyoto, interpreta-se a si na segunda longa-metragem de C.W. Winter & Anders Edström (The Anchorage), inspirada nos poemas gregos e latinos sobre a arte da agricultura. Tayoko cuida da sua família da mesma forma que cuida da sua terra, e a repetição Jeanne Dielmann-esca das tarefas diárias, retratada com a sensibilidade peculiar da câmera de Edström e enriquecida com as paisagens sonoras de CW Winter, abre caminho para a nossa percepção, bem como as longas horas do filme. A profunda ligação às alegrias e tristezas de Tayoko e a permanência assombrosa da sua presença fazem com que se sinta – com uma força de partir o coração – a solidão e a paz de se cumprir o destino, respeitando os ciclos da natureza e os ciclos da vida humana. (Anastasia Lukovnikova)
Este é um filme que acompanha o trabalho do campo de uma família Japonesa em uma pequena vila próxima à Kyoto.
Combinando técnicas de animação como o 2D, o 3D, a pintura a pastel sobre impressões live-action ou métodos como a pintura sobre vidro e serigrafia, esta é uma jornada onírica em torno de símbolos de morte, cores garridas e problemas sem resolução.
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“Um dia sonhei que não conseguia acordar de camadas e camadas de sonhos”. Nesta animação os sonhos exploram as contradições do eu recorrendo a diferentes técnicas para criar um universo surreal e psicadélico onde as cores resplandecentes e um trompete esfuziante disfarçam o lado mais sombrio das emoções. (Margarida Moz)
Imagens de simulação de uma multidão são confrontadas com os testemunhos de apoiantes do Liverpool que recordam a tragédia do desastre do estádio de Hillsborough em 1989, onde morreram 96 pessoas. Os estádios como lugar de libertação, mas também de controlo.
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Nicolas Gourault aplica as técnicas do seu trabalho nos Forensic Architecture ao contexto dos estudos na Le Fresnoy. Recorre às possibilidades da modelação 3D e dos programas de simulação de multidões, cruzadas com recolha de testemunhos e de materiais de arquivo (mapas, fotografias, reportagens televisivas) para dar corpo a um evento do passado que se esboroou nas memórias, mas que redefiniu a indústria do futebol. “This Means More” é um ensaio político, emocionalmente poderoso, sobre a natureza comunitária de um desporto que se tornou de elite. (Ricardo Vieira Lisboa)
Há uma ligação muito forte entre pais e filhos. Uma jovem deixa a casa da família para ver o mundo. Mas o mundo dos seus pais está tão ligado ao seu que, ao ir-se embora, põe-no em risco. Por vezes esta ligação pode também ser destrutiva.
No final dos anos 90, Reinhart e Widrich inventaram o processo “tx-transform” que inverte os eixos cinemáticos do tempo e do espaço. Agora filmaram num cinema de Berlim, com 135 actores e usando uma OmniCam-360. O resultado é algo nunca antes visto.
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Os filmes de Virgil Widrich são epopeias conceptuais (mais difíceis de explicar do que ver). Após “Copy Shop” converter em fotocópias os fotogramas da rodagem, “Fast Film” aplicar essa técnica à história do cinema em origami e de “Black Track” regressar a essa espacialização em versão 3D translúcida, “TX-Reverse” retoma a técnica de inversão dos eixos espaço-tempo de “TX-Transform” com uma câmara de 360º 10K, numa sala de cinema onde se exibe o próprio filme. O resultado: uma sucessão de deformações dançantes que, no sumo da tecnologia, reduzem o cinema a uma arte das sombras. (Ricardo Vieira Lisboa)
Feito em VHS e recorrendo a imagens de Youtube, este é a história de um simpático serial killer: um jaguar chamado Valerio, que escapou do zoo de Nova Orleães, matando vários animais. Depois de capturado decide fazer um vídeo diário para a sua cara metade.
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Valerio é um dos dois jaguares no zoológico. Um dia escapa e faz uma matança. Valerio mata cinco alpacas, três raposas e uma emu antes de ser capturado e sedado. Neste estado dormente Valerio faz um diário à sua companheira, o outro jaguar chamado Lula. Valerio tem saudades de Lula e espera voltar a vê-la. (Rui Mendes)