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Amor em tempos de gentrificação. Anna regressa a Barcelona por poucos dias. Ao percorrer o bairro onde anteriormente viveu um grande amor, torna-se inevitável não ceder às memórias que tem naquele espaço, agora alterado pela invasão turística. Uma narrativa que trata o realismo mágico com um charme que lembra o cinema de Hong Sang-soo. (Duarte Coimbra)
Água, fogo, terra, ar, verde, castanho, lesma, cão, noite, luz. O trabalho de Francisco Janes, marcado pelo cinema experimental norte-americano (estudou na CalArts), convoca o aqui-e-agora paisagístico dum Peter Hutton, o pictorialismo diarístico dum Nathaniel Dorsky e as sinfonias naturais dum Paul Clipson. O resultado é uma ode às texturas da natureza (e do digital), num confronto amigável com as abstrações de um olhar (e ouvir) puramente cinemáticos. “Regada” cristaliza o percurso intermédia de Janes no lirismo dos gestos do trabalho e no devir hipnótico dos elementos. (Ricardo Vieira Lisboa)
Quem é Ricardo? Não se sabe bem, embora seja também conhecido como o gajo dos calções coloridos. Reza a história que em 2014 apareceu de calções coloridos em palco, para uma performance artística durante o concerto dos Sensible Soccers no festival Paredes de Coura. Desde aí nunca mais foi esquecido. Ricardo é um mocumentário sobre o bailarino Ricardo Bueno e o drama de se esquecer do seu passo de dança. Sofrendo por você, Ricardo. (Carlos Ramos)
Tempo de vacuidade, tempo jovem, o champagne corre e as conversas saem ligeiras como linhas de coca que desaparecem no riso de jovens amigos que se juntam em Genebra. Ostentar é uma figura natural que alimenta o tom e ‘’ter’’ é só uma consequência a desfrutar. Chiques e selectos baloiçam nas suas gaiolas douradas entregues ao jogo da fruição. A noite é toda deles. (Carlota Gonçalves)
Numa tarde de sol veranil, Pierre e Bastien encontram-se para tomar café à beira mar. A conversa faz lembrar um amor antigo que volta à superfície. No caminho do seu passado, entre floresta misteriosa e mar cativante, será que Pierre e Inès verão o futuro? (Duarte Coimbra)
Poder-se-ia dizer que o novo filme de Rita Macedo destoa dos seus anteriores títulos. De facto a narração confessional e o recurso a imagens de filmes caseiros remetem para uma intimidade ensaística que não se lhe conhecia. Ainda assim, o cerne do seu trabalho permanece intacto: a fusão de ideias na continuidade cósmica de um discurso que tanto é puramente factual (científico até) como puramente subjectivo (e memorialista). E onde antes se interrogava a ontologia do pensamento, agora questiona-se a escrita da história (e das estórias). (Ricardo Vieira Lisboa)
Plano a plano, vamos desbloqueando o mistério de Shānzhài Screens. Ao seguir as ações artísticas e tecnológicas de um grupo de copistas, Paul Heintz reflete sobre o momento em que estamos, na história da pintura e da arte, onde a ideia de copiar um quadro parece ter-se transformado na de copiar um ecrã. (Duarte Coimbra)
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“Eu vejo mesmo a música. Esta carreira nunca foi só um emprego, foi a minha vida.”
Jim Marshall – o fotógrafo do rock n’roll – é autor de emblemáticas imagens da história da música. Jimi Hendrix em palco com a guitarra em chamas, Miles Davis sentado num ringue de boxe, o jovem Bob Dylan a andar atrás de um pneu em Nova Iorque, Johnny Cash com o dedo médio espetado para a câmara, Janis Joplin em casa, ou The Beatles no seu último concerto. São inúmeros os momentos captados por Marshall que se tornaram famosos. Um homem de temperamento intenso, vida de excessos e luta contra alguns demónios interiores, que era amado ou odiado, sem meio-termo. “Se ele te amasse, atirava-se para a frente de um camião por ti. Se ele te odiasse, atropelava-te alegremente com o camião”, refere Amelia Davis, responsável pelo arquivo de Jim Marshall.
O retrato do fotógrafo que viveu e morreu como uma autêntica rockstar que nos mostra o seu trabalho e alguns dos mais importantes momentos da música. (Helena César)
Tranches de vida citadina, ritmos mecânicos e sombras tremeluzentes compõem os retratos especulares de Simon Liu. Agora, a plasticidade da sua câmara de 16mm (que ora esbate as imagens em manchas, ora as revela na porosidade da película, em movimento desacelerado – criando poéticas cadências visuais), vê-se acompanhada de uma composição sonora que acentua o tráfego humano de Hong Kong e a incomunicabilidade numa metrópole . “Signal 8” descobre na dimensão pitoresca de um território a sua inquietação política. (Ricardo Vieira Lisboa)
Imagine-se um outro mundo sem som. Imagine-se ao menos que, como no nosso mundo, não fosse a momentânea ausência de som que o definisse. Eis o que SOA interpela: a ubiquidade do som, desde a mais simples actividade humana hodierna à mais antiga prova de existência de vida. Afinal, se Deus ditou que se fizesse luz, tê-la-á precedido o som da Sua voz. SOA é uma viagem de questionamentos sobre a heterogeneidade do som e, de par com a geografia da complexidade humana, sobre as suas itinerâncias – e sobre nossa capacidade de o escutar. (Filipa Henriques)