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Ana vive em Paris mas vai todos os anos no verão a uma aldeia chamada Bustarenga no interior de Portugal. Tem 36 anos e é solteira. Segue-se uma reflexão sobre encontrar amor através dos olhos e preceitos das mulheres da aldeia. Ana de vestido amarelo no meio da paisagem verde desta aldeia montanhosa procura o príncipe encantado. (Rui Mendes)
Talvez a grande obra-prima de Ousmane Sembène e o grito mais intenso de condenação das injustiças do colonialismo. No rescaldo da 2ª Guerra Mundial, os soldados senegaleses regressam da Europa e, antes do retorno a casa, são colocados no acampamento militar de Thiaroye. Perante as más condições de acomodação e a redução de pagamento, os soldados revoltam-se e são massacrados às mãos do exército francês. Vencedor do prémio especial do Júri em Veneza.
Este filme não é falado e nem legendado em inglês.
Nova Iorque, 2020. Uma cidade entre as profecias de John Carpenter (They Live; Escape from New York) e as de um Trump redentor. Os arranha-céus apontam para o céu, mas, ao mesmo tempo, enclausuram como muros.
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E à terceira curta Francisco Valente troca Lisboa por Nova Iorque, a ficção pelo documentário, o amor por… Não, esse não se troca por nada. Mas deixando-o agora em pano de fundo, Valente pisca antes o olho a They Live de John Carpenter, e com renovada solidez e olhar rigoroso filma a cidade que nunca dorme tomada por um vírus. Ou serão dois? Quando anoitece é Moon River que nos embala. Fica a promessa de que tudo vai ficar bem, algures no futuro. Os arranha-céus lá estarão, para o testemunhar. (Ana David)
Ceddo é o nome dado aos últimos detentores do espiritualismo africano antes da chegada do islamismo e cristianismo. Numa aldeia senegalesa do séc. XVII, o rei Demba War cede às pressões do líder islâmico e os ceddo raptam a sua filha para prevenir a conversão forçada à nova religião. Este “micro épico”, como foi apelidado, foi à época censurado e conta-se que Sembène distribuía, à saída dos cinemas, panfletos que descreviam as cenas removidas.
Este filme não é falado e nem legendado em inglês.
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Cemetery segue o percurso de Nga, um elefante do Sri Lanka que inicia uma viagem até ao cemitério dos elefantes, à medida que o planeta terra entra num colapso apocalíptico pela mão de catástrofes naturais. Numa aventura de ritmo lento, a natureza deixa de ser o pano de fundo da vida humana, e torna-se a entidade sensível, pensante, que comunica através da matéria sonora e visual do filme. A rádio comunica que um violento terramoto deixa a Ásia devastada, matando milhares de pessoas. A partir daqui o filme inicia uma viagem de três partes em direção a uma compreensão cosmológica do espaço após a calamidade e a consequente extinção de espécies. Encontrar o cemitério de elefantes, mergulhando na escuridão, significa iniciar uma espécie de renascimento. Temas como morte, reincarnação, imortalidade, são abordados, mas também memória, colonialismo e colapso da civilização.
Cemetery é uma odisseia sobre o desconhecido, o não-explorado, este cemitério de elefantes – talvez uma espécie de shangri la. (Inês Lima Torres)
Holem Wood, situada no norte de Inglaterra, é uma zona residencial construída nos anos 50 para as classes trabalhadores. Com a passagem do tempo tornou-se uma zona isolada. Nela vive Tyler um rapaz de 16 anos que nunca foi à escola.
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Num complexo habitacional de baixo custo, no norte de Inglaterra, as crianças vivem grande parte do seu tempo na rua, crescendo juntas e aprendendo a enfrentar as adversidades de uma vida de exclusão. Neste retrato da infância não existem adultos e as regras são definidas por outras hierarquias. Não há contenção na alegria nem na revolta. Uma infância no limite que não antecipa um futuro melhor. (Margarida Moz)
Partindo do trabalho de Dennis Oppenheim, Lygia Clark e Joan Jonas, o filme relata a experiência de uma professora de cinema experimental com uma aluna, interessada na prática da performance para a câmara. Uma voz doce descreve e analisa o resultado dos exercícios, percorrendo uma história crítica do período seminal da vídeo-performance. Tudo se complexifica quando o formalismo dos gestos se verte em sofisticada metáfora do relacionamento interpessoal, do ensino das artes, da parentalidade, da alteridade, do próprio acto de ver e… de ser. (Ricardo Vieira Lisboa)
Um pequeno teatro de sombras. A família encena a cineasta. A realizadora-tela revela-nos, pelo cinema, a relação com a sua família. Pessoa e sombra, campo contracampo, o quotidiano do que nos rodeia molda-nos, e por sua vez, queima, transforma-se.
Em “Corte”, os gémeos Rapazote lançam o tradicional filme histórico às urtigas. Uma intriga palaciana, o “whodunnit”, um conjunto de actores magistralmente dirigido, um argumento muito bem escrito e diálogos de se tirar o chapéu, esta dupla faz tudo bem e arrisca ser um caso muito sério no cinema português. Desde há mais de 10 anos que quem tem estado atento aos cineastas saídos da ESTC, sabe que é deles o futuro do cinema em Portugal. E estes gémeos temerários oriundos de Viseu, fazem do impossível a sua normalidade. (Miguel Valverde)
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Em poucos segundos, uma nuvem atravessa um campo de margaridas. A imagem primaveril é sobressaltada pela passagem da escuridão. Tão breve, tão fugaz, tão insignificante. É nessa passagem que se forma um poema em 16mm. (Margarida Moz)
Douma é uma cidade na Síria, perto de Damasco, que muitas vezes vemos nas notícias devido aos frequentes bombardeamentos. Mais do que o estrondo das bombas, o que estremece neste filme é o nosso interior. Vemos a banalização dos bombardeamentos para as pessoas que vivem em Douma. A forma como é normal para eles aquele dia a dia, o que fazem nos tempos de espera entre dois ataques e a forma como encaram e relativizam toda a situação. Filmado na primeira pessoa este filme afasta-se da reportagem de guerra. Aqui tudo é mais crú, mais à flor da pele, mais urgente. (Carlos Ramos)
Este filme não é falado e nem legendado em inglês.