Depois do sucesso de “Sara”, cujos primeiros episódios o IndieLisboa exibiu o ano passado, este ano continuamos a mostrar na tela grande aquilo que de melhor se faz em Portugal para o pequeno ecrã. “Sul” já foi descrito como «“True Detective” com saudade», um policial noir Lisboeta, em plena crise económica, protagonizado por Adriano Luz que interpreta um investigador persistente mas incapaz de se adaptar às mudanças. Uma série de Edgar Medina, Guilherme Mendonça e Ivo M. Ferreira (de quem se exibe também “Hotel Império”), este é um retrato de um país tomado pela melancolia.
Secção: Sessões Especiais
O realizador Nadav Lapid baseou-se nas suas memórias e experiências de quando tinha 20 anos e fugiu de Israel para se exilar em França. A pergunta que se impôs neste filme autobiográfico foi: «como deixar para trás o passado, uma identidade nacional e uma língua?» A resposta: os sinónimos. Para deixar para trás um país que se detesta, há que encontrar no presente as equivalências, e com um dicionário no bolso tudo se começa a compor. “Synonyms” venceu o Urso de Ouro e o Prémio da Crítica na última edição do festival de Berlim.
Sol de Carvalho (que apresentou o ano passado, no IndieLisboa, “Mabata Bata”, adaptação do conhecido conto de Mia Couto) filma, em “Monólogos com História”, uma reflexão sobre a história de Moçambique no confronto entre um pai morto e um filho de luto.
Emília é uma escritora, a viver em Lisboa no ano de 1959. Ela é a “Donzela Guerreira”, uma mulher ficcional composta a partir dos universos literários de Maria Judite de Carvalho e Irene Lisboa, escritoras da cidade e das personagens que nela habitam. Guiados pela voz e olhar de Emília, entramos num jogo entre as imagens de arquivo da cidade e a pura efabulação. É uma Lisboa de ruas, jardins e casas onde habitam mulheres que olham para si próprias e umas para as outras, que ocupam os lugares que lhes destinam e o silêncio a que as votam. A história de uma mulher que vai à luta.
Ivo M. Ferreira (“Águas Mil” e “Cartas da Guerra”, IndieLisboa 2009 e 2016) continua a filmar a China contemporânea. Em 2009 o IndieLisboa exibia o seu documentário “Vai com o Vento”, sobre um jovem chinês que se prepara para emigrar para a Europa. Dez anos depois, com “Hotel Império”, a história inverte-se: uma família portuguesa a viver em Macau luta contra a especulação imobiliária para poder permanecer no edifício onde sempre vivera. Uma revisitação do colonialismo português e da força imparável da gentrificação segundo o sombrio prisma do thriller sexual.
A realizadora luso-sueca Solveig Nordlund já realizou documentários sobre escritores como António Lobo Antunes, Marguerite Duras ou J. G. Ballard, agora é a vez de Mia Couto em “Sou Autor do Meu Nome”. Neste filme acompanhamos o dia-a-dia do escritor moçambicano e percorremos a sua carreira literária, através de conversas íntimas onde nos revela memórias e nos apresenta as figuras que compõem o seu panteão afectivo.
A realizadora Margarida Cardoso (“A Costa dos Murmúrios”, “Yvone Kane”) organiza, nestes “Contos Botânicos”, um extraordinário ensaio pessoal sobre uma planta e todas as suas ramificações culturais e económicas: o cacau. Viajando por São Tomé e Príncipe, Inglaterra e pelo Brasil, a realizadora passeia-se entre passado e presente, desmontando os esquemas da opressão colonial europeia e investigando as possibilidades de uma exploração justa da planta. E nos vários cantos do mundo, são as mulheres que provocam as mudanças. Uma História alternativa, que é uma her-story e uma understory.
“Um Ramadão em Lisboa” e um filme colectivo construído a 12 mãos que revela uma Lisboa plural e heterogénea através de uma série de personagens que, durante o mês de Ramadão, vivem diferentes experiências. Um filme que visita os seus quotidianos, num contexto geográfico e social onde esta não é uma prática comum nem maioritária. Seguindo um processo criativo partilhado, este documentário procura colocar em pano de fundo uma Lisboa próxima e reconhecível, dissipando a alteridade e o exotismo, num movimento de aproximação humana do cinema.
Com o intuito de dar a (re)ver os clássicos da história do cinema, o IndieLisboa apresenta esta obra-prima, vencedora de cinco Oscars, dos quais três couberam ao produtor, realizador e argumentista, Billy Wilder. Aqui misturam-se, em doses perfeitas, a comédia e o drama, a pureza e o cinismo. Jack Lemmon é um empregado que procura subir na hierarquia, cedendo o seu apartamento para as aventuras extraconjugais dos seus patrões. Até que se apaixona por uma das suas conquistas: Shirley MacLaine. Brilhante restauro em 4K, a partir do negativo original em 35mm, pela Park Circus, em colaboração com a MGM.
A combinação só podia ser explosiva: Matthew McConaughey, Snoop Dogg e Zac Efron no novo filme de Harmony Korine (“Mister Lonely” e “Spring Breakers”, IndieLisboa 2008 e 2013). Inspirado pelo consumo contínuo de canábis e rum, Moondog é um esdrúxulo e milionário escritor alucinado. Algures entre o The Dude do “The Big Lebowski” e a figura de Charles Bukowski, vagueia pelas praias quentes da Califórnia com a sua cabeleira loura, as camisas havaianas e uma máquina de escrever, vivendo ao máximo para depois destilar essa experiência num soneto. A literatura nunca deu tanto gozo.
“The Cricket Dynasty” leva-nos ao mundo das lutas de grilos e dos devotos desta prática que dedicam a sua vida aos insectos. Um documentário sobre uma obsessão que se faz um estilo de vida.
Um menino entra numa sala de cinema e observa um casal de espectadores que se beija. A vergonha dá origem a uma troca e um sorriso: “Rabbit Meets Crocodile”.
Em “Sheep”, Fai é um carteiro enquanto Bond é um estafeta: duas pessoas, duas motorizadas, dois estilos de condução e um encontro que mudará a vida de ambos.
Em “G.D.P. Grandmas’ Dangerous Project”, três avozinhas têm uma ideia louca para fazer fortuna: se tudo correr bem não terão de se preocupar com nada para o resto das suas vidas, se tudo correr mal espera-as a prisão.
“Cat Security” é uma doce animação sobre um segurança que, na sua sala de vigia, é visitado por um gato de rua.
Nicholas Oulman realizou, em 2009, o documentário Com Que Voz sobre o seu pai, Alain Oulman. O clã Oulman é de origem judaica e em Debaixo do Céu o realizador traça uma história sobre o êxodo que fez milhões de judeus rumarem a sul, aquando da ascensão de Hitler. Baseando-se nas memórias de alguns sobreviventes (hoje com cerca de oitenta anos) este é um filme que descreve os périplos de uma crise de refugiados que encontrou (para mais de 100 mil) um porto seguro em Portugal. Composto totalmente por imagens de arquivo, este é um documentário que ilumina uma área cinzenta da história de Portugal e da Europa.
A partir da biblioteca labiríntica de Fernando Pessoa, O Passageiro de Luís Alves de Matos(Refúgio e Evasão, IndieLisboa 2014) procura nos livros de outros as memórias e os espaços do poeta.
Sérgio Tréfaut (Lisboetas, Alentejo, Alentejo e Treblinka venceram a competição nacional do festival) realiza a sua segunda longa de ficçãodepois de Viagem a Portugal (IndieLisboa 2011). Estamos no Alentejo, nos anos 50, e a planície é fustigada pelo vento, pelo desemprego e pela fome. As famílias ricas controlam a propriedade da terra e às famílias pobres só resta o desespero ou a revolta. Adaptando o clássico do neo-realismo português, Seara de Vento de Manuel da Fonseca, e fotografado pelo lendário Acácio de Almeida em preto-e-branco, o filme inclui um elenco de luxo com nomes como Catarina Wallenstein, Rogério Samora, Adriano Luz, Leonor Silveira, Isabel Ruth, Luís Miguel Cintra e Herman José.