Filmado em 16mm, a primeira longa de Camilo Restrepo (La impresión de una guerra, IndieLisboa 2016 e Cilaos, IndieLisboa 2017) é uma fuga, uma alucinação e uma febre. Pinky escapa a uma seita e refugia-se numa fábrica de t-shirts ilegais. Há uma hipnótica viagem a fazer por corredores, tintas, slogans e armas. O objectivo é a libertação. Um cinema que sonha uma outra Colômbia: sem opressão, corrupção ou instrumentalização religiosa.
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Um foragido escapa da sua seita religiosa e tem dificuldade em misturar-se com o mundo exterior, ainda imbuído da violência que testemunhou e instigou. Na sua primeira longa-metragem, o realizador colombiano Camilo Restrepo inspirou-se na história verdadeira do amigo Luis Felipe Lozano, “Pinky”, que interpreta o seu papel em Los conductos. É um filme habitado pela violência, um conto filosófico e fantasmagórico que nos leva aos limites da instrumentalização da religião e da violência generalizada na Colômbia. É um filme catártico que Restrepo oferece ao amigo, numa forma de docu-ficção filmada em 16 mm. O filme apodera-se de vários símbolos, bem como de uma certa teatralidade para melhor representar as emoções internas de Pinky, numa montagem fragmentada. Entre passagens realistas e projecções assustadoras, a jornada de Pinky não é fácil. Após o homícido, supostamente para libertá-lo da sua doutrinação, a sua raiva permanece num mundo que se recusa a abrir-lhe as portas. Diferentes figuras históricas ou literárias da cultura colombiana visitam-no para o confrontar com os dilemas morais que enfrenta. Porque se na nossa realidade o homícidio não aconteceu, na de Los conductos leva a um questionamento sobre conceitos fluídos como Bem e Mal, que Pinky tem dificuldade em conceber quando pensou durante tantos anos ser um “Eleito”. (Mickael Gaspar)