A Cidade dos Abismos

Priscyla Bettim, Renato Coelho

IndieLisboa 2021 •

Brasil, Ficção, 2021, 96′

Maya é acompanhada por Glória, a melhor amiga, que lhe promete que estará sempre junto dela, a um consultório clandestino. Ambas mulheres trans, Maya vai colocar silicone, mas uma intervenção atempada leva-a a mudar de ideias. Quando saem, é noite de Natal e chove. Refugiam-se num bar, cujo dono é um refugiado nigeriano chamado Kakule. Lá, refugia-se também Bia, farta dos constantes desentendimentos com o namorado. E assim os seus caminhos irão cruzar-se. 


“Vou fingir que estou num filme de perseguição”, diz Glória, uma mulher trans e prostituta. A realidade da cidade de São Paulo é tal que fingir é tudo o que ela tem, não sendo mais do que uma alucinação contra a paisagem hostil. O grão da película em que o filme foi rodado torna Glória e os outros rejeitados, Maya, Bia e Kakule, mais reais, com uma presença fantasmagórica impressa num dispositivo físico e projectada de volta ao mundo. Na sua primeira longa-metragem, Priscyla Bettim e Renato Coelho fazem um cocktail molotov dos momentos mais expressivos do cinema brasileiro, do surrealismo de Mário Peixoto às cores saturadas da pornochanchadas e da acção política ousada do Cinema Novo, dando aos protagonistas muitas vidas possíveis. Haverá sangue, horror e delírio, haverá amor, aliança e luta pela justiça. Haverá, porém, um final feliz em A Cidade dos Abismos? (Anastasia Lukovnikova)