Vernier é um grande e irónico observador. A partir de um workshop dado a alunos da Universidade de arte e design de Genebra, o realizador foi à noite suíça filmar conversas de uma juventude rica e extravagante, num retrato de luxo, vaidade e ostentação.
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Tempo de vacuidade, tempo jovem, o champagne corre e as conversas saem ligeiras como linhas de coca que desaparecem no riso de jovens amigos que se juntam em Genebra. Ostentar é uma figura natural que alimenta o tom e ‘’ter’’ é só uma consequência a desfrutar. Chiques e selectos baloiçam nas suas gaiolas douradas entregues ao jogo da fruição. A noite é toda deles. (Carlota Gonçalves)
O estilo fugidio e fragmentário de Virgil Vernier (“Orléans”, “Andorre” e “Mercuriales”, IndieLisboa 2013, 2014 e 2015) ganha agora, com “Sophia Antipolis”, uma dimensão poética altamente cativante. Composto em vinhetas sugestivas (que podem ou não estar ligadas) visitamos o homónimo parque tecnológico da Riviera francesa onde a luz do sol engana e uma mulher desapareceu. Cinco histórias que caminham para um apocalipse à beira mar. O fim está perto, o fascismo está a chegar, é hora de colocar implantes mamários, juntar-nos a um culto e descobrir o amor das nossas vidas.
Duas torres gémeas erguem-se nos arredores de Paris perante a passagem quotidiana de milhares de carros e pessoas em círculos de auto-estradas da paisagem urbana. No topo, duas raparigas de duas extremidades da Europa conhecem-se num lugar onde salas e corredores têm nomes de deuses mitológicos. “Mercuriales”, o nome dessas torres e da segunda longa metragem de Virgil Vernier (cujos “Orléans” e “Andorre” foram exibidos no IndieLisboa 2013 e 2014, respectivamente), é o encontro mágico dos 16mm com uma fábula sobre o sistema económico europeu, as ruínas da sua história política, e os desejos das personagens, verdadeiras ou mitológicas, que nelas vivem.
Depois de ter estado, no ano passado, no IndieLisboa com o filme Orléans, Virgil Vernier regressa agora com Andorre que retrata o principado como um grande centro comercial no meio das montanhas, onde se vendem promessas de felicidade.
Se existe um terreno perfeito entre o documentário e a ficção, no qual um filme cresce em equilíbrio estável, Vigil Vernier encontrou-o de forma inata. A estranheza da rotina de duas strippers de um bar em Orléans mistura-se com as igualmente bizarras festividades anuais em honra de Joana d’Arc. As duas raparigas compreendem-se. De noite são uma ficção de si mesmas, de dia mergulham na narração da vida de outra mulher, e estendem-na para as suas. Um ambiente que não anda longe da cirurgia romântica de Rohmer. No início estamos nervosos, aguardamos o choque, mas a espontaneidade das cores e dos movimentos, dos diálogos, faz com que estes acontecimentos, por mais distantes que possam ser, pareçam tão naturais como a nossa própria rotina. (M. M.)