Uma sátira da pandemia global que ainda vivemos. Este filme começa com uma sex tape que dá para o torto. Em causa está a vida e a carreira de Emi, uma professora que se vê forçada pelos pais dos alunos a apresentar a sua demissão. Contudo, Emi recusa. Recomendado para quem aprecia experiências cinematográficas transgressivas – no melhor dos sentidos.
Realizador: Radu Jude
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Num grande número de filmes que se seguiram mas não se assemelham, Radu Jude tem vindo a construir uma das obras mais pungentes e emocionantes do cinema romeno contemporâneo. Afinal, o que têm em comum a farsa picaresca Aferim!, o surrealismo literário de Scarred Hearts e a encenação histórica do jogo de espelhos I Do Not Care If We Go Down in History as Barbarians? Sem dúvida, mais do que parece: primeiro uma ironia discreta mas cortante, e acima de tudo um olhar intransigente sobre a história velada do seu país – não importa a época e o género cinematográfico. Existem dois tipos de imagens em Uppercase Print. Primeiro, imagens de arquivo a preto e branco dos anos 80 sob Ceausescu. Imagens emocionantes e assustadoras de propaganda sorridente, na qual vozes robóticas repetem com alarde os slogans da ditadura. As outras imagens datam de hoje, produzidas num estúdio com neons brilhantes em cores vivas. De frente para a câmara, os actores recitam (mais do que repetem) os relatórios escritos pelas milícias comunistas. Descrições desproporcionalmente numerosas e detalhadas, relacionadas com o mesmo incidente: um simples slogan revolucionário escrito em letras maiúsculas (daí o título) por um estudante romeno nos anos 80. A notícia é simples, o autor do grafitti foi rapidamente identificado mas a máquina administrativa do fascismo aterroriza, implacável pela força da repetição. A investigação é interminável, como um monstro gigantesco que não se consegue matar. Uppercase Print alterna entre estas duas famílias de imagens, entre estes dois contos tensos com vozes monocórdicas que arrepiam a espinha: o anedótico e o nacional, a história oculta e a propaganda, o sorriso superficial e a loucura nos bastidores de ontem e hoje. (Mickael Gaspar)
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Radu Jude é um nome maior do cinema romeno. No IndieLisboa, a sua curta “Lampa cu căciulă” venceu a competição, em 2007, assim como a sua longa “Aferim!” venceu o Grande Prémio, em 2015. Como se vem tornando cada vez mais evidente na obra do realizador (e mais necessário no presente clima político europeu), o seu maior interesse são os modos como se (re-)escreve a História. Esta é uma investigação provocadora, didática, inventiva e altamente inteligente sobre a participação da Roménia na limpeza étnica do Terceiro Reich, aquando do massacre de Odessa, em 1941.
Radu Jude é um nome maior do cinema romeno. No IndieLisboa, a sua curta Lampa cu căciulă venceu a competição, em 2007, assim como a sua longa Aferim! venceu o Grande Prémio, em 2015. Em Tara Moarta o realizador parte das recém-descobertas fotografias de Costică Acsinte, tiradas numa vila romena nas décadas de 1930 e 40, e acrescenta-lhes passagens do diário de um médico judeu da mesma época. O resultado é um filme que reflecte sobre as responsabilidades da Roménia no Holocausto e questiona os limites da representação fotográfica. Jude afirmou mesmo que este é “o meu filme mais abertamente político”.
Marian, um rapaz de sete anos de uma pequena e pobre aldeia roménia, acorda o pai, muito cedo de manhã, para o convencer a ir até à cidade, com o objectivo de porem o velho televisor a arranjar.
Radu Jude é um nome maior da nova vaga do cinema romeno. No IndieLisboa, a sua curta Lampa Cu Caciula venceu a competição, em 2007, assim como a sua longa Aferim! venceu o grande prémio, em 2015. Inimi cicatrizate (vencedor do Prémio do Júri no Festival de Locarno) é uma carta de amor ao escritor romeno Max Blecher, inspirando-se na sua homónima novela autobiográfica. Num sanatório da costa do Mar Negro, Emanuel, que sofre de tuberculose óssea, irá viver uma história de amor com outro paciente, à medida que a sua paixão cresce e os seus corpos decaem.
Radu Jude é um dos maiores destaques da nova vaga do cinema romeno. Em 2007, a curta “The Tube with a Hat” foi um dos filmes mais premiados do ano (incluindo o prémio de Melhor Curta Metragem no Indielisboa), à qual se seguiram quatro curtas e duas longas (entre elas “The Happiest Girl in the World”, de 2009, e “Everybody in Our Family”, de 2012, ambas exibidas na Competição Internacional do IndieLisboa), um percurso alvo de retrospectiva na Festa do Cinema Romeno em 2014. “Aferim!” é uma aventura pelos territórios feudais da Roménia do séc. XIX: um terreno pouco visto no novo cinema romeno, mas sempre domado pelo humor forte, a sátira social do presente, e personagens herdeiras das histórias de Gogol.
Tavi, um homem de trinta e muitos anos, descobre que Alexandra, a filha de quatro anos, já não lhe chama Papá.
Num dia de verão, em Bucareste, um padre é chamado para rezar por uma mulher à beira da morte, mas com tanto calor, as coisas podem não correr bem em O Umbra de nor.
Quando Delia, uma adolescente da classe trabalhadora, ganha um carro de luxo numa campanha promocional, viaja com os pais até Bucareste para a rodagem de um filme publicitário em que tem que agradecer o carro ao patrocinador. Quando as filmagens começam, o carro surge como objecto e catalisador de uma explosão absurda de desejo, valores e vontade entre a pobreza dos pais de Delia e a juventude dela.
A família não precisa de histórias, necessita apenas de ser observada, como o faz de forma exemplar esta 2¬™ longa metragem de Radu Jude, cineasta há muito ligado ao IndieLisboa. O que poderia ser um início de férias feliz transforma-se num terrível pesadelo para este pai que só quer estar com a sua filha, de quem vive separado, por força do divórcio. A espiral de violência que o filme propõe é conscientemente usada pelo realizador através do uso de planos apertados e câmara à mão, criando um huit-clos do qual o espectador se sente tão preso como o personagem. E se acham que os filmes servem apenas para contar histórias extraordinárias, olhem para dentro de casa. A seguir observem os vossos quintais. (Miguel Valverde)