Fiquei na Praia

A praia da nossa infância como refúgio quando as coisas mudam. Laura tenta regressar onde foi feliz, mas há a necessidade de criar um novo lar para si mesma.

The Woman’s Film (Newsreel #55)

As realizadoras Judy Smith, Louise Alaimo e Ellen Sorrin lideraram um processo de produção colectivo, inteiramente no feminino, que deu origem a este importante documento histórico acerca das condições de vida das mulheres no início dos anos 70 em São Francisco.

A Minha Vida em Versalhes

Um dia, Violette, uma menina parisiense de oito anos, perde os seus pais. O seu tio Régis, que trabalha no Palácio de Versalhes, leva-a para viver com ela. São tempos difíceis, a saudade é muita, mas com a ajuda de um inesperado amigo, tudo vai ficar bem.

The Fall

Nesta curta comissariada pela BBC Films, Jonathan Glazer Under the Skin filma uma multitude de mascarados que persegue e pune um homem de máscara. Crítica social, inspirada pelo quadro de Goya, El sueño de la razón produce monstruos.

O Passarinho e as Abelhas

Estamos na Primavera. O passarinho toma conta dos primeiros ramos que surgem na árvore. As flores desabrocham, uma a uma, atraindo a atenção das abelhas. Despertado pelo seu doce néctar, o passarinho segue as amiguinhas até ao prado cheio de flores.

Slučaj Makavejev ili Proces u bioskopskoj sali

A estreia de W.R. – Os Mistérios do Organismo (1971) de Makavejev – que poderemos ver no ciclo “50 anos do Fórum da Berlinale” – provocou um grande debate na sociedade jugoslava de então. A associação entre sexo e o comunismo era tida por ofensiva. A obra de Radovanović retrata esse debate, através de gravações clandestinas da altura, ao mesmo tempo que traça o perfil de uma era do socialismo tardio no país e sua reduzida liberdade artística.

Poslednja slika o ocu

Durante 7 anos, Stefan Djordjevic viu o seu pai apenas uma vez antes dele morrer. Com base nas imagens e memórias que reteve, o realizador dá-nos uma terna história de despedida de um pai, doente terminal, que procura encontrar uma nova casa para o seu filho.

Despojados de qualquer objecto para além de um telemóvel que se parte numa corrida para tentar apanhar um autocarro, um pai solteiro e o seu filho criança são forçados a pedir boleia para chegar a Belgrado. A resiliência persiste, Dusan e Laza estão nisto juntos a longo termo. Qualquer que seja a forma que esse longo termo possa tomar. Como se prepara o destinatário de todo o nosso amor para a nossa ausência perpétua? Um filme sóbrio mas afectivo sobre a ausência e o adeus. (Ana David)

A Metamorfose dos Pássaros

Premiada na nova secção Encounters do Festival de Berlim, esta é uma obra que pertence às famílias e seus mistérios. Em particular, a família da realizadora e a figura de Beatriz, sua avó, que se casou com Henrique, oficial da marinha, aos 21 anos. Com o marido no mar, Beatriz tratou de seis filhos, entre os quais Jacinto, o pai da cineasta. Ser mãe, imaginar, viver sem liberdade, tudo é metamorfose criativa e emocional nesta primeira longa de Vasconcelos.

Com uma pungente primeira obra, Catarina Vasconcelos traz-nos o retrato de uma família, a sua, narrada pelos seus habitantes e reinventada por ela. Através de cartas, quadros, flores, cortinas, estatuetas, puzzles e barcos vai-se construindo um universo perfeito, com vida e com morte, mas sobretudo com o coração. E o coração de Catarina é resistente e forte, é doce e cheio de carácter, tem ambição e engenho. Permite que cada quadro construído (o filme avança por sequências narrativas) possa ter a sua independência e seja construído através do carácter das personagens trabalhadas. Um jogo performativo com essa característica lúdica que é o apaziguamento após a brincadeira. A inteligência demonstrada quando a realizadora se esconde atrás dos espelhos na floresta ou quando sobe às montanhas, levando a adversidade ao limite quando tenta levantar uma árvore, são formas de afirmação de um cinema autoral e pessoal feito em nome de um encantamento e na base da tradição oral. Voa Catarina voa porque ainda vivem nos teus pensamentos “todas as coisas excepcionais que constrói o universo daqueles que não temem a gravidade”. (Miguel Valverde)

Entre Leiras

Cláudia Ribeiro passou sete meses – desde o tempo das plantações às colheitas – acompanhando o trabalho no campo das irmãs Ana e Glória, no lugar de Passinhos de Cima, entre Douro e Tâmega. Um lugar isolado, que o padeiro, o peixeiro, o merceeiro e os filhos de ambas visitam uma vez por semana. Um filme sobre o retrato de uma forma de vida, a agricultura de subsistência, mas também sobre o humor e ironias da representação e da hospitalidade.

Claudia Ribeiro imprime um olhar quotidiano sobre o árduo ofício agrícola de Ana Rocha e Maria Rocha. As duas irmãs vivem numa povoação de 30 habitantes em Passinhos de Cima, entre os rios Tâmega e Douro onde trabalham de alvor a poente, entre chuvas e sol. Entre Leiras contempla a relação destas duas irmãs com o céu e a terra, mas também entre si, no trabalho síncrono dos ancinhos e sacholas e conversas pitorescas sobre a vida no campo. Da secagem do milho à vindima, das visitas de amigos e família aos piqueniques à sombra, acompanhamos o olhar de uma câmara que interage com as duas mulheres e que ama­durece a relação das personagens com a realizadora. Cresce uma sensação circular, de duas vidas simples mas duras, que acompanham as es­tações como substância vital à sua existência. (Inês Lima Torres)

The Moon and the Sledgehammer

Quando Philip Trevelyan conheceu a família Page, a viver num bosque na zona rural de Sussex, ficou fascinado. O pai, septuagenário, vivia com os seus quatro filhos adultos, num mundo à parte, sem água ou electricidade. Estávamos em 1969, mas a família vivia ainda como no final do séc. XIX. Filmado em super 16mm, num estilo realista e observacional, esta é ainda hoje uma fascinante obra de culto sobre o avanço tecnológico e as múltiplas formas de viver.

The Other Lamb

Estamos no seio de uma comunidade muito singular. Um homem, conhecido como o Pastor, e o seu rebanho, composto por um conjunto de mulheres que o seguem, adoram e para ele trabalham. A fazer lembrar obras como The Handmade’s Tale (Bruce Miller) ou The Village (M. Night Shyamalan), a realizadora polaca Malgorzata Szumowska procura refletir sobre os rituais separados da civilização, mas sobretudo a lógica da dominação masculina sobre o mundo feminino.

Die seismische Form

“Na sua quarta presença no festival, Zwirchmayr baseia-se num texto de Jean Baudrillard para reflectir sobre a matéria e a forma. O corpo humano, o analógico da película encontram-se com uma condição sísmica, geológica. Solidez que parece estável, mascarando a volatilidade.

Antoinette Zwirchmayr cria um mundo em que o que importa são as texturas e as superfícies. Pedras negras e brilhantes que refractem a luz e salientam caras humanas. Rocha branca, suave e lisa onde corpos nus repousam. Um constante jogo de formas, cores e arquitectura marcado por uma tensão entre o inerte e uma qualquer erupção que se avizinha. (Ana Cabral Martins)

El Tango del Viudo y Su Espejo Deformante

Foi ainda no Chile que Ruiz começou a realizar esta história de amor incondicional e fantasmas. Em 1973, o Golpe Militar forçou-o ao exílio deixando inacabada aquela que seria a sua primeira longa. Anos depois apareceram as bobinas do que havia sido rodado. Valeria Sarmiento, sua viúva, com a ajuda de especialistas em leitura de lábios, pôde reconstruir os diálogos e terminar este filme sobre um homem a quem lhe aparece o fantasma da sua viúva.

Borom sarret

É já com quarenta anos e com vários romances publicados que Sembène começa a filmar. Nesta sua segunda curta, considerada por muitos historiadores como um dos primeiros filmes realizado por um negro em África, seguimos um condutor de carroça pelas ruas pobres e desoladas de Dakar.

L’enfant sauvage

Truffaut tinha como um dos seus temas a reflexão sobre a natureza da educação. Podemos constatar isso em filmes como Les 400 Coups ou Farenheit 451, como também nesta adaptação das memórias científicas de Jean Itard, um médico francês que, em 1798, encontrou numa floresta um menino de 12 anos – o “menino selvagem” – que havia estado até aí separado da civilização. Truffaut encarna o médico, o mestre, o pai Itard, nesse difícil processo educativo.

El Año del Descubrimiento

1992 foi um ano importante para Espanha: os Jogos Olímpicos de Barcelona e em Sevilha, a Exposição Universal. Mas a narrativa de um país próspero e moderno teve o seu reverso. Como numa grande obra enciclopédica iluminista, o realizador irá escutar as conversas de um típico bar de Cartagena, dando voz às pessoas – trabalhadores, desempregados, manifestantes – que viveram a chegada da crise económica, o fecho das fábricas e várias revoltas incendiárias.
Através de uma recolha meticulosa de depoimentos, El Año del Descubrimiento foca-se no ano de 1992 que deu lugar à Expo de Sevilha, aos Jogos Olímpicos em Barcelona e à revolta da classe trabalhadora que incendiou o Parlamento de Múrcia. Na segunda longa-metragem de Luis López Carrasco, o realizador trabalha novamente num discurso documental, desta vez através do revivalismo histórico e social de conversas esquecidas num bar em Cartagena, Espanha. O filme é composto pela contribuição de 45 cidadãos de bairros periféricos de Cartagena e La Unión, e da narração das suas memórias daquele tempo. Um momento histórico quase esquecido é trazido à luz do presente sublinhando a im­portância do diálogo sobre consciência de classe, a crise económica e o papel dos sindica­tos. Sobretudo, um filme que ilumina a importância do resgate da memória depois do esqueci­mento encoberto pelo passado, e o consequente poder vital do cinema na sua recuperação. (Inês Lima Torres)

There Will Be No More Night

To shoot: a gun or a movie camera. The military analogy is born with the beginning of cinema. Eléonore Weber’s (Les Hommes Sans Gravité, IndieLisboa 2008) documentary is exclusively based upon footage recorded by French and American soldiers in Iraq, Syria and Afghanistan.  From the top of their helicopters, a viewfinder scans the night and watches for suspicious activity from moving heat dots. They have the power to take or keep lives.

“”There is always the risk of being wrong, but once we open fire, it is difficult to stop””. When flying in the theater of external operations, all that the military helicopter pilots see is filmed and then archived. It is by relying exclusively on these images and on the anonymous testimony of a pilot that the director Eléonore Weber created There will be no more night, an amazing and meticulous documentary telling the war entirely in the eye of the beholder and gradually expanding from very precise technical explanations to broader questions on morality and society. Restoring the decryption of different situations by her anonymous witness pilot, the filmmaker scrolls through a large sample of terrifying episodes where surveillance, frightening precision of the shots, the anguish of errors (which inevitably occur) intermingle. From mountains to cities, bodies fall on the screen, the wounded are finished, passers-by walk… the camera’s eye rivets them… The most recent cameras can suppress the night: “”Soon, some will see as if it was daylight. The rest will remain in darkness.”. (Mickael Gaspar)

Eyimofe

Todos os anos Nollywood, a Hollywood nigeriana, produz cerca de mil filmes. Destes quase nenhuns viajam para fora de África. Caso diferente para a primeira longa metragem dos irmãos gémeos Esiri que, a partir de duas histórias, em certo sentido também elas gémeas, abordam o desejo de sair para a Europa. Mofe, um homem que faz reparações numa fábrica e Rosa, empregada de bar e cabeleireira, procuram uma saída da colorida e aprisionante capital, Lagos.

O desejo que move duas histórias autónomas cruza-se na esperança comum das suas personagens de migrarem para outro país. Espanha e Itália são as duas partes do filme, duas cidades-sombras (ou cidades-sóis) que nunca se chegam a materializar no filme em ruas que as personagens possam percorrer. Não conseguem sair de uma vibrante e desigual Lagos: a jornada de Mofe e Rosa é o centro da acção – dos desesperantes impedimentos financeiros e burocráticos às tragédias pessoais que, note-se, os irmãos Esiri nunca deixam cair no dramatismo excessivo, nesta forte primeira obra para cinema. Mofe e Rosa querem um futuro melhor para o seu núcleo, mas o que o filme questiona é se essa Europa-futuro não será mais que uma ilusão e se Lagos não será igualmente decepcionante. Procura-se o desejo de Mofe e Rosa e o território a que pertence. (Mafalda Melo)