Dia da Liberdade, ou o princípio de tudo: 5 filmes a não perder

Que a memória é frágil, mas o cinema ajuda a não esquecer. Neste Dia da Liberdade, ou o princípio de tudo, deixamos em jeito de sugestão 5 filmes que não vão querer perder neste próximo IndieLisboa. Filmes que não preservam apenas uma determinada realidade, mas que são construídos para discutir o seu passado, presente e possíveis consequências futuras. Histórias de dor e de pesar, que procuram compreender o que será para sempre injustificável, mas que nos relembram que na união está guardada a esperança.
Ser livre não tem fronteiras. Viva a revolução!

Da Competição Internacional, I Am Trying to Remember, de Pegah Ahangarani. Um exercício de recolecção da memória fragmentada, construído a partir de imagens do seu arquivo familiar. Uma narrativa poética que parte de um primeiro amor, para gradualmente revelar os milhares de pessoas secretamente sentenciadas e mortas, dez anos depois da Revolução Iraniana. A partir do seu olhar de criança, que sem compreender o que se passa, sente apenas a ausência e suspeita que algo de muito errado possa ter acontecido. Uma curta-metragem que procura respostas para a pergunta que não sabia calar e que ainda hoje existe na incógnita.

Do Irão para a Rússia, How to Save a Dead Friend, a primeira longa-metragem de Marusya Syroechkovskaya. A realizadora, natural de Moscovo, documenta durante uma década o que significa viver de forma reprimida por um regime autocrático. Quando Marusya começa a gravar tem apenas 16 anos, mas como tantos outros da sua idade, está determinada a colocar fim à própria vida. Um retrato de uma geração silenciada, mas também uma fenda por onde conseguimos espreitar a Rússia do início do século XXI.

A secção Silvestre leva-nos até à América do Sul. Camuflaje, de Jonathan Perel, não deixa esquecer as marcas da ditadura argentina. Uma adaptação do livro Campo de Mayo, de Felix Bruzzone, e que faz do escritor seu protagonista. A mãe de Felix desapareceu em 1976, tendo sido vista pela última vez precisamente no Campo de Mayo, um dos principais centros de detenção clandestinos. Perel segue Bruzzone que está decidido a encontrar quem o ajude a explorar este lugar que é hoje uma das maiores unidades militares do país.

Também Nadir Medina conta-nos a ditadura argentina, mas através de uma ficção passada na cidade de Córdoba. Lxs Desobedientes conta a história de Alicia, uma motorista de autocarro que se junta a uma insurreição contra um regime opressor. Um filme que faz eco ao Cordobazo, a rebelião popular que se opôs à ditadura militar de Juan Carlos Ongania, no final de Maio de 1969, fundamental no desencadear de outros movimentos de resistência que fizeram pressão sobre o regime até ao golpe de estado de 1970.

Margarida Cardoso resgata da margem Sita Valles, trazendo à luz uma figura pouco falada da nossa História recente. Sita veio de Angola para Portugal para estudar medicina, acabando por se tornar dirigente dos estudantes comunistas. Depois de 1974, e por considerar que a revolução em Portugal não tinha futuro, regressou a África e juntou-se ao MPLA, movimento de libertação angolano. Morreu aos 26 anos, em 1977, em circunstâncias que ainda hoje não são totalmente esclarecidas. SITA – A Vida e o Tempo de Sita Valles é apresentado em sessão especial, seguido de um debate com a moderação de Marta Lança.

O programa já pode ser consultado na íntegra na revista digital.
De 28 de Abril a 8 de Maio, a 19ª edição do IndieLisboa – Festival Internacional de Cinema ocupará o Cinema São Jorge, a Culturgest, a Cinemateca Portuguesa, o Cinema Ideal e a a Biblioteca Palácio Galveias.