Vivemos num tempo em que faz cada vez menos sentido falar de documentário ou ficção como territórios fechados, em que o cinema pode decidir expandir-se ou manter-se fiel às linguagens tradicionais que estiveram na sua origem.
A secção Silvestre, a mais livre do festival, volta a afirmar-se na edição de 2018, como secção competitiva com júri próprio e como campo privilegiado para o cinema independente.
Espelho desta liberdade é uma programação de curtas e longas metragens que mostra um intenso ano de produção. Assim, regressam a esta secção alguns dos nomes que fizeram a história dos 15 anos do IndieLisboa e integram-na outros que certamente acompanharemos nos próximos 15.
O imprevisível Radu Jude debruça-se, em Tara Moarta, sobre o anti-semitismo na Roménia dos anos 30 e 40, e a crueldade humana é vista sob a sua inteligente construção. Um antídoto para a tristeza poderá ser encontrado em Le Lion est mort ce soir, de Nobuhiro Suwa, a mais doce e bela morte de Jean-Pierre Léaud no ecrã. Regressamos ao soju e à límpida observação de Hong Sang-soo em Grass, para escutar conversas de café que põem a nu esquemas de pensamento e de relação. James Benning, em Readers, dá-nos uma nova oportunidade de apreciar o silêncio e a tranquilidade do acto de ler um livro.
Ainda nas longas metragens, convidamos os espectadores a redescobrir o cinema de Matjaz Ivanisin em Playing Men, e de Anthea Kennedy e Ian Wiblin em Four Parts of a Folding Screen.
Nas curtas, destacamos Painting with Joan, de Jack Henry Robbins. Com várias longas e curtas metragens na sua curta carreira, o filho de Sarandon e Robbins que exibiu Hot Winter no IndieLisboa 2017 em estreia europeia, volta ao festival com Painting with Joan, que estreou este ano no Festival de Sundance. O filme ficciona a apresentação de um quadro e teorias conspirativas de extraterrestres e sexo.
A Brief Spark Bookened by Darkness, de Brent Green, curta que também vem de Sundance, chega de um realizador que esteve em competição (longas) em 2011. O inspirado cineasta adepto de efeitos e tecnologias no meio de histórias de amor, volta a um registo de animação muito bonito e simples.
Jodilerks de la Cruz, Employee Of The Month, de Carlo Francisco Manatad, estreou na Semana da Crítica de Cannes. Este realizador e montador filipino, presença habitual no IndieLisboa, volta aos seus temas habituais, e com humor apresenta-nos a dedicada Jodilerks no seu último dia de trabalho.
T.R.A.P. de Manque la Banca acabou de estrear em competição no Festival de Berlim. Filmado com película fora de prazo, criando um grão adicional à imagem, esta história que viaja dentro do próprio tempo é uma homenagem ao cinema livre de quaisquer constrangimentos e é dona de uma poética evocadora.
Com o atrevimento que já lhe conhecemos, em Personal Truth, Charlie Lyne (de quem já mostrámos o inesquecível Beyond Clueless) questiona a incapacidade que os humanos têm de evitar procurar culpados, e de como as aparentes realidades se transformam em verdades absolutas.