A filmografia de Lucrecia Martel está intimamente ligada à história do IndieLisboa pois, recordamos, a sua segunda longa metragem, La niña santa, integrou a competição internacional do primeiro festival. Regressemos então à mais proeminente cineasta argentina da actualidade para uma homenagem, com uma retrospectiva integral do seu trabalho realizado para cinema, depois de um hiato de quase uma década entre La mujer sin cabeza (2008) eZama, um dos filmes do ano de 2017. Nesta adaptação do romance homónimo de Antonio di Benedetto, encontramos um homem impedido de deixar o seu exílio de colonizador como centro de uma fascinante desconstrução de lugares-comuns históricos. Lucrecia Martel estreia no IndieLisboa este filme-redescoberta ou filme-consagração de uma voz singular que mostra que ainda há muito por revelar. Zama é uma co-produção portuguesa com O Som e a Fúria, com direcção de fotografia de Rui Poças. Lucrecia Martel estará em Lisboa durante o festival para acompanhar a retrospectiva e a estreia de Zama em sala. O programa dedicado à realizadora irá ainda integrar o documentário de Manuel Abramovich filmado durante a rodagem de Zama, Años Luz, e uma masterclass, a acontecer no dia 29 de Abril.
Jacques Rozier dispensaria apresentações, nem que fosse pelos mais de 60 anos que separam a homenagem que lhe prestamos em 2018 e a extraordinária primeira curta metragem que realizou em 1955, Rentrée des classes. A Cinemateca Portuguesa, a quem o IndieLisboa se reúne na co-programação desta retrospectiva, organizada em colaboração com a Cinemateca Francesa, vem assim completar o seu passado de homenagens aos grandes cineastas da nouvelle vague. Contemporâneo de Godard, Truffaut, Varda ou Rohmer, Rozier não se tornou tão reconhecido ou amado, muito embora o seu Adieu Philippine (1962) seja um filme inegavelmente marcante para as gerações de cineastas franceses desde então. Talvez Rozier tenha conseguido, graças à sua espontaneidade e leveza, ser o mais livre dos cineastas da nouvelle vague, e talvez seja por isso que a genialidade e inteligência que os seus pares lhe reconhecem se mostre tão cativante e encantadora. Mais discreto nos floreios próprios de uma geração que teve de radicalizar o seu cinema, o génio de Jacques Rozier é uma lufada de ar fresco, ainda nos dias que correm. É tempo de o descobrir, e conhecer pessoalmente, em Lisboa, durante as sessões que irão ter lugar na Cinemateca Portuguesa, bem como na conversa com o realizador (em data a anunciar).