Recorrendo a uma iconografia variada, num diálogo estimulante, o realizador retrata a vida de um vigarista. O conjunto de pedaços animados ilustra os seus vícios e os nós que se criam à medida que as cartas, as mulheres, os aplausos, o declínio e a ascensão se sucedem. A música e o som, distante, de pessoas e lugares perdidos algures em 1963, inflamam a experiência. Num bar ao longe ouvimos conversas, bolas de snooker a chocar umas contra as outras, um piano solitário. A colagem de estímulos mergulha-nos, agita-nos, acalma-nos e é a nossa respiração que abranda à medida que o ritmo do filme se torna mais lento e ganhamos espaço para pensar no que acabámos de absorver. Uma voz murmura perdeste qualquer coisa, o que de mais valioso as crianças possuem e entre pequenas destruições, joga-se a vida, consome-se, ganha-se e perde-se dinheiro. (Ágata Pinho)