I Comete

Pascal Tagnati

IndieLisboa 2021 •

França, Ficção, 2021, 128′

Uma vila na Córsega, no Verão. Um pedaço da vida dos seus habitantes, entre as brincadeiras dos mais novos, os namoros dos adolescentes e as considerações dos mais velhos. O calor da temporada, em pleno Agosto, aquece também as tensões, que ameaçam transbordar.


Na praça de uma aldeia, algumas pessoas vegetam à sombra, sentadas nos degraus da igreja, discutindo com sotaque e expressões locais. Nesta imagem cliché de torpor mediterrânico, pressentimos que algo não está bem. A conversa entre eles tem contornos estranhos e antes que a conversa de chacha estival termine numa risota, conseguimos sentir que há um lado nervoso que os percorre, como um pensamento negativo já passado que nos assola de novo o espírito. No entanto, nenhuma sombra parece pairar sobre esta aldeia da Córsega que se assemelha a um paraíso. Discreta e elegante, a realização enquadra a placidez magnética das paisagens campestres, assim como nas cenas de interiores, onde a mais pequena janela aberta sobre uma árvore tem já o poder de nos emocionar, e é mágica. Pascal Tagnati consegue passar essa tensão sem nunca realmente mostrar violência e sem utilizar recursos de fácil argumento. I Comete é um filme onde o nervosismo não é traduzido em explosões mas pela pertinência de um ponto de vista particularmente vincado. Cada cena é filmada de longe (o que dá uma sensação de vertigem), e por isso é óbvio que esta história nos é contada do seu interior. Tagnati encontrou uma distância singular, mas ideal, para traduzir a ambivalência envenenada desta comunidade e para revelar com uma inquietante subtileza os violentos mistérios que se escondem neste quotidiano. (Mickäel Gaspar)