A cicatriz de uma guerra. A recordação de um filme: Hiroshima, Meu Amor. Um realizador, Nobuhiro Suwa, regressa à sua cidade natal, Hiroshima, para um projecto particularmente arriscado e delicado: refazer, nos dias de hoje, o filme de Alain Resnais. Para os papéis originalmente interpretados por Emanuélle Riva e Eji Okada, o cineasta chama Béatrice Dalle e Hiroaki Umano, para reviverem a impossível história de amor entre uma actriz francesa e um arquitecto japonês. Mas quando a memória da História se começa a confundir com a história do filme, há feridas que se voltam a abrir. E a dificuldade em reviver Hiroshima (não só o filme, mas também o palco de uma tragédia) vai lentamente entranhando-se em toda a equipa. A ficção nada pode contra a realidade. Integrei no meu filme o filme de Resnais não por gostar dele, mas porque não o conseguia evitar. Considero-o como uma espécie de interlocutor, com quem posso manter uma conversa. O filme de Resnais abriu à Europa uma janela para a Ásia. Eu quis abrir a mesma janela, mas noutro sentido. (Nobuhiro Suwa)