O cinema do Bas Devos é particularmente atento a movimentos imperceptíveis e identidades ofuscadas. Este seu último filme, rodado em 15 noites, segue o trajecto nocturno de Khadija, mulher de 58 anos que, ao perder o último metro, tem de ir para casa a pé. Retrato minimalista, mas também uma aventura singela e humana que vê na noite urbana dos sem abrigo, dos seguranças, dos imigrantes, o espaço da descoberta, da vulnerabilidade e dos laços entre as pessoas.
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Uma luz de final de tarde inunda uma sala de uma casa velha. O crepúsculo é indiciador de mudança, de algo que pode não estar bem. E é nesta atmosfera instável que o belga Bas Devos apresenta a sua personagem. Uma mulher árabe que não consegue voltar para casa ao final de um dia de trabalho. Imediatamente os nossos sentidos ficam alerta porque algo vai correr mal. São esses pensamentos que nos assaltam que fazem parte da narrativa mas não estão escritos ou filmados. Juntos com o filme, permitem estabelecer novos códigos e é aqui que a originalidade toma conta deste filme. O espectador atento e activo está no filme, do lado da personagem principal, com as suas dores e doenças, enfim, com a sua vida. É por isso que é tão bonito voltar àquela primeira sala e voltar a sentir uma luz emergente, clara que quase cega. É o nosso coração a bater. Devos (de quem o IndieLisboa já tinha exibido a curta metragem We Know) é, claramente, um cineasta a seguir. (Miguel Valverde)
Uma luz de final de tarde inunda uma sala de uma casa velha. O crepúsculo é indiciador de mudança, de algo que pode não estar bem. E é nesta atmosfera instável que o belga Bas Devos apresenta a sua personagem. Uma mulher árabe que não consegue voltar para casa ao final de um dia de trabalho. Imediatamente os nossos sentidos ficam alerta porque algo vai correr mal. São esses pensamentos que nos assaltam que fazem parte da narrativa mas não estão escritos ou filmados. Juntos com o filme, permitem estabelecer novos códigos e é aqui que a originalidade toma conta deste filme. O espectador atento e activo está no filme, do lado da personagem principal, com as suas dores e doenças, enfim, com a sua vida. É por isso que é tão bonito voltar àquela primeira sala e voltar a sentir uma luz emergente, clara que quase cega. É o nosso coração a bater. Devos (de quem o IndieLisboa já tinha exibido a curta metragem We Know) é, claramente, um cineasta a seguir. (Miguel Valverde)