Bobô é um filme cuja narrativa parte do encontro de duas mulheres, Sofia e Mariama. O motor do filme é a sinergia criada entre ambas na defesa de uma criança. Sofia, a protagonista do filme, é uma personagem que vive presa nas sombras da sua infância, no peso da sua herança”, das quais é urgente libertar-se. Mariama aparece como um alguém ligado também à sua “herança”. Ela segue as regras que a sua pertença exige, mas num determinado momento vê-se obrigada a desobedecer para mudar o destino da pequena Bobô e evitar que esta seja submetida à mutilação genital feminina (MGF). As personagens Sofia e Mariama foram redesenhadas com as atrizes Paula Garcia e Aissatu Indjai (estreante neste filme), que muito puseram das suas vivências, personalidade e convicções. Fizemos um trabalho de investigação, de leituras, trabalho no terreno junto da comunidade emigrante guineense, de ensaios. Esta preparação permitiu-nos uma rodagem segura e por isso com espaço para o improviso. Penso que Bobô é um filme com uma óptica e lógica interna sem dúvida feminina, mas aqui o feminino não está, como tantas vezes é retratado, no campo do que é terreno e tangível. Está sim perante as questões que nos transcendem: a relação com a morte, com as regras do Mundo, com o que não conseguimos denominar. (Inês Oliveira)
Bobô
Inês Oliveira
IndieLisboa 2013 • Cinema emergente, Competição Nacional
Portugal, Angola, Guinea-Bissau, Ficção, 2013, 104′