Mark Jenkin, que venceu em 2019 o prémio do público para melhor longa metragem do festival (Bait), faz agora um filme sobre o poder assombrado da criação. Uma jovem poeta encontra uma mala com as suas iniciais. Lá dentro um fantasma que procura quem lhe termine um poema.
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Uma mala, um poema, personagens que transitam em acasos, e projecções, num jogo de espelhos e coincidências (a mala é responsável). Os fantasmas acordam e a narrativa compõe-se, fragmenta-se, destrutura-se, enquanto sinais duma maldição emergem e multiplicam-se neste drama negro. O contágio está na criação, está na maré do ‘‘vento’’ que açoita os planos, pelo olhar sedutor de Jenkin que talha e retalha esta inquietante e cortante narrativa, black and white. (Carlota Gonçalves)
Mark Jenkin (que apresenta, na Competição Internacional, a sua longa “Bait”) cospe palavras à velocidade do projector enquanto o mundo se transforma ao ritmo do “progresso”. E o David Bowie morreu. E o mundo não parou.
Filmado a preto-e-branco, em película 16mm processada à mão, “Bait” conta a história de uma pequena localidade na Cornualha onde os antigos modos da pesca se vêem progressivamente alterados pela invasão do turismo. O confronto entre dois irmãos desavindos sobre como lutar pelo pão de cada dia forma o centro dramático deste filme expressionista onde o analógico, mais do que opção estética, é modo de vida. Aliás, Mark Jenkin escreveu o manifesto ‘Silent Landscape Dancing Grain 13’ em defesa do «cinema manual». A sua curta “David Bowie Is Dead” está também na Competição Silvestre.