Laços de Família

De manhã, a raposinha acorda e os seus pais patos dão-lhe o pequeno-almoço: uma cenoura. Sai para brincar e vê na floresta uma raposa adulta que caça um pássaro. Esse encontro vai perturbar as relações familiares da raposinha. 

 

Filmfarsi

O cinema iraniano é hoje sinónimo de poesia e humanismo. Mas nem sempre foi assim. Ehsan Khoshbakht, co-director do festival Il Cinema Ritrovato, recorre à sua coleção privada de filmes em VHS e a algumas bobinas que sobreviveram à censura, para nos fazer viajar pelo filmfarsi. Este é o termo que designa o cinema popular anterior à revolução de 1979, onde reinavam os musicais de puxar a lágrima ou filmes cravejados de sexo, violência e comédia.

 

Bustarenga

Ana Maria Gomes regressa à aldeia de Bustarenga no interior de Portugal e começa a ouvir o “mantra” habitual: “já com essa idade e ainda solteira e sem filhos?” Um filme acerca das pressões sociais e dos lugares de uma ainda dominante masculinidade.

Ana vive em Paris mas vai todos os anos no verão a uma aldeia chamada Bustarenga no interior de Portugal. Tem 36 anos e é solteira. Segue-se uma reflexão sobre encontrar amor através dos olhos e preceitos das mulheres da aldeia. Ana de vestido amarelo no meio da paisagem verde desta aldeia montanhosa procura o príncipe encantado. (Rui Mendes)

 

Camp de Thiaroye

Talvez a grande obra-prima de Ousmane Sembène e o grito mais intenso de condenação das injustiças do colonialismo. No rescaldo da 2ª Guerra Mundial, os soldados senegaleses regressam da Europa e, antes do retorno a casa, são colocados no acampamento militar de Thiaroye. Perante as más condições de acomodação e a redução de pagamento, os soldados revoltam-se e são massacrados às mãos do exército francês. Vencedor do prémio especial do Júri em Veneza.

Este filme não é falado e nem legendado em inglês.

 

Carnage

Nova Iorque, 2020. Uma cidade entre as profecias de John Carpenter (They Live; Escape from New York) e as de um Trump redentor. Os arranha-céus apontam para o céu, mas, ao mesmo tempo, enclausuram como muros.

E à terceira curta Francisco Valente troca Lisboa por Nova Iorque, a ficção pelo documentário, o amor por… Não, esse não se troca por nada. Mas deixando-o agora em pano de fundo, Valente pisca antes o olho a They Live de John Carpenter, e com renovada solidez e olhar rigoroso filma a cidade que nunca dorme tomada por um vírus. Ou serão dois? Quando anoitece é Moon River que nos embala. Fica a promessa de que tudo vai ficar bem, algures no futuro. Os arranha-céus lá estarão, para o testemunhar. (Ana David)

Ceddo

Ceddo é o nome dado aos últimos detentores do espiritualismo africano antes da chegada do islamismo e cristianismo. Numa aldeia senegalesa do séc. XVII, o rei Demba War cede às pressões do líder islâmico e os ceddo raptam a sua filha para prevenir a conversão forçada à nova religião. Este “micro épico”, como foi apelidado, foi à época censurado e conta-se que Sembène distribuía, à saída dos cinemas, panfletos que descreviam as cenas removidas.

Este filme não é falado e nem legendado em inglês.

 

Cemetery

Nga é um elefante velho e cansado e Sanra o seu fiel guia. Podia ser o início de um filme da Disney, mas não. Antes um filme de aventuras em slow motion? Casas fará o espectador devir elefante, comungando do seu olhar impassível e sereno. É uma viagem em que homem e animal buscarão o mítico cemitério dos elefantes, onde aquele poderá acabar os seus dias. Mas é sobretudo um filme cosmológico, sobre a morte, a reencarnação, a hipótese do não humano.

Cemetery segue o percurso de Nga, um elefante do Sri Lanka que inicia uma viagem até ao cemitério dos elefantes, à medida que o planeta terra entra num colapso apocalíptico pela mão de catástrofes naturais. Numa aventura de ritmo lento, a natureza deixa de ser o pano de fundo da vida humana, e torna-se a entidade sensível, pensante, que comunica através da matéria sonora e visual do filme. A rádio comunica que um violento terramoto deixa a Ásia devastada, matando milhares de pessoas. A partir daqui o filme inicia uma viagem de três partes em direção a uma com­preensão cosmológica do espaço após a calamidade e a consequente extinção de espécies. Encontrar o cemitério de elefantes, mergulhando na escuridão, significa iniciar uma espé­cie de renascimento. Temas como morte, reincarnação, imortalidade, são abordados, mas também memória, colonialismo e colapso da civilização.

Cemetery é uma odisseia sobre o desconhecido, o não-explorado, este cemitério de elefan­tes – talvez uma espécie de shangri la. (Inês Lima Torres)

 

City of Children

Holem Wood, situada no norte de Inglaterra, é uma zona residencial construída nos anos 50 para as classes trabalhadores. Com a passagem do tempo tornou-se uma zona isolada. Nela vive Tyler um rapaz de 16 anos que nunca foi à escola.

Num complexo habitacional de baixo custo, no norte de Inglaterra, as crianças vivem grande parte do seu tempo na rua, crescendo juntas e aprendendo a enfrentar as adversidades de uma vida de exclusão. Neste retrato da infância não existem adultos e as regras são definidas por outras hierarquias. Não há contenção na alegria nem na revolta. Uma infância no limite que não antecipa um futuro melhor. (Margarida Moz)

Club Splendida

Caio Soares define este seu filme como uma “série web de ficção científica queer-camp”, que procura explorar as dinâmicas das pequenas estruturas colectivas. Isto é, cinco amigos constroem uma nave e partem em busca de Club Splendida, algures no espaço.

 

Communicating Vessels

Vasos comunicantes. Fenómeno pelo qual um fluido se distribui de forma equilibrada em recipientes de formas ou volumes diferentes. Esta curta, premiada em Roterdão, aplica essa ideia ao que sucede nas relações humanas, em especial professor e aluno.

Partindo do trabalho de Dennis Oppenheim, Lygia Clark e Joan Jonas, o filme relata a experiência de uma professora de cinema experimental com uma aluna, interessada na prática da performance para a câmara. Uma voz doce descreve e analisa o resultado dos exercícios, percorrendo uma história crítica do período seminal da vídeo-performance. Tudo se complexifica quando o formalismo dos gestos se verte em sofisticada metáfora do relacionamento interpessoal, do ensino das artes, da parentalidade, da alteridade, do próprio acto de ver e… de ser. (Ricardo Vieira Lisboa)

 

Conrad Veidt — My Life

A nova autobiografia ficcional de Rappaport (The Double Life of Paul Henreid; Chris Olsen – The Boy Who Cried, IndieLisboa 2018) é sobre o actor germânico Conrad Veidt. A primeira imagem que nos vem à cabeça quando pensamos em Veidt é a do sonâmbulo Cesare, no filme Das Cabinet des Dr. Caligari (1920), obra precursora do expressionismo alemão. Contudo, Veidt atravessou todo o mudo e no sonoro procurou livrar-se do estigma do vilão germânico.

 

Contrafogo

Um pequeno teatro de sombras. A família encena a cineasta. A realizadora-tela revela-nos, pelo cinema, a relação com a sua família. Pessoa e sombra, campo contracampo, o quotidiano do que nos rodeia molda-nos, e por sua vez, queima, transforma-se.

Corte

A morte da rainha deixou a corte vazia de presenças femininas durante vários anos. Entre uma chávena de chá e uma ironia tão fina quanto a ponta de um sabre, Corte é um jogo de xadrez envolvendo um assassinato e um nascimento, uma luta pela sucessão ao trono.

Em “Corte”, os gémeos Rapazote lançam o tradicional filme histórico às urtigas. Uma intriga palaciana, o “whodunnit”, um conjunto de actores magistralmente dirigido, um argumento muito bem escrito e diálogos de se tirar o chapéu, esta dupla faz tudo bem e arrisca ser um caso muito sério no cinema português. Desde há mais de 10 anos que quem tem estado atento aos cineastas saídos da ESTC, sabe que é deles o futuro do cinema em Portugal. E estes gémeos temerários oriundos de Viseu, fazem do impossível a sua normalidade. (Miguel Valverde)

 

Daisies Cloud Passing

Muitas vezes no cinema o momento decisivo ocorre num piscar de olhos. Poucos segundos. Tempo que basta para se instalar a beleza. As nuvens são o obturador natural.

Em poucos segundos, uma nuvem atravessa um campo de margaridas. A imagem primaveril é sobressaltada pela passagem da escuridão. Tão breve, tão fugaz, tão insignificante. É nessa passagem que se forma um poema em 16mm. (Margarida Moz)

 

Danny’s Girl

Há um dia em que o nosso amor online tem de virar offline. Isso aconteceu a Danny que foi conhecer a sua namorada virtual pela primeira vez e as coisas não correram bem como ele esperava.

 

Douma Underground

Enquanto as bombas caíam em Ghouta, um subúrbio de Damasco, os civis escondiam-se nas suas caves até que o inferno acalmasse. Tim Alsiofi era um deles e procurava, com a ajuda da sua câmara e da poesia, uma forma de expressão e de sobrevivência.

Douma é uma cidade na Síria, perto de Damasco, que muitas vezes vemos nas notícias devido aos frequentes bombardeamentos. Mais do que o estrondo das bombas, o que estremece neste filme é o nosso interior. Vemos a banalização dos bombardeamentos para as pessoas que vivem em Douma. A forma como é normal para eles aquele dia a dia, o que fazem nos tempos de espera entre dois ataques e a forma como encaram e relativizam toda a situação. Filmado na primeira pessoa este filme afasta-se da reportagem de guerra. Aqui tudo é mais crú, mais à flor da pele, mais urgente. (Carlos Ramos)

 

Dreamland

Depois de Pontypool ou This Movie Is Broken (IndieLisboa 2011), o humor distópico e a coolness violenta de Bruce McDonald estão de volta. Nesta dreamland, os vampiros modernos convivem com as lendas de jazz e os dedos mindinhos são um “bem” quase tão precioso quanto as inocentes meninas para casamentos de arromba. O genial Stephen McHattie, secundado por Juliette Lewis e Henry Rollins, são os actores deste sangrento e moderno conto de fadas.

 

El cuarto poder

O casal de cineastas, fundadores do colectivo militante Class Cinema Collective, analisa neste filme-ensaio, o papel da imprensa na ditadura espanhola nos anos 70. Uma luta pelo controlo da informação e a necessidade de procura de fontes fidedignas.
 Este filme não é falado e nem legendado em inglês.